Recuperação Lenta, Mas Sólida: Índice de Confiança do Consumidor Cresce em Maio com Apoio do Emprego Forte
Percepção econômica do brasileiro dá sinais de melhora com avanço do ICC pelo terceiro mês seguido
Em maio de 2025, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) apresentou seu terceiro aumento consecutivo, refletindo a resiliência da economia brasileira em meio a um cenário ainda desafiador. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o ICC cresceu 1,9 ponto em relação a abril, atingindo 86,7 pontos na série com ajuste sazonal. Embora esse avanço represente uma melhora notável, o índice ainda está distante de níveis considerados satisfatórios, indicando uma recuperação gradual da confiança dos consumidores.
O dado é especialmente relevante em um momento no qual o Brasil enfrenta incertezas inflacionárias e oscilações de expectativas econômicas. A melhoria da confiança reflete não apenas a percepção mais positiva sobre a situação atual, mas também uma projeção mais otimista para os próximos meses.
Confiança do consumidor sobe, mas ainda não recupera perdas
O aumento de 1,9 ponto no Índice de Confiança do Consumidor representa uma recuperação de menos de 30% das perdas acumuladas entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. Essa retomada é atribuída tanto à melhora na avaliação da situação atual quanto ao avanço das expectativas futuras.
Na média móvel trimestral, o índice também registrou variação positiva de 1,1 ponto, reforçando a tendência de estabilização do humor dos consumidores. Apesar disso, a recuperação permanece incompleta e ainda carrega um tom de cautela. O consumidor segue sensível às flutuações da economia, e a retomada plena da confiança dependerá da continuidade de indicadores positivos como inflação controlada, mercado de trabalho aquecido e perspectivas macroeconômicas favoráveis.
Avanços nos subíndices: presente e futuro em foco
O ICC é composto por dois subíndices: o Índice de Expectativas (IE) e o Índice de Situação Atual (ISA). Em maio, ambos apresentaram alta. O IE avançou 1,0 ponto, alcançando 89,1 pontos, enquanto o ISA subiu 2,9 pontos, chegando a 84,0 pontos.
Essa evolução simultânea indica que os consumidores estão começando a perceber melhorias concretas em suas condições econômicas atuais, ao mesmo tempo que mantêm certo otimismo em relação ao futuro. A percepção sobre as finanças pessoais das famílias aumentou expressivos 4,0 pontos, atingindo 74,6 pontos, o que sugere alívio no orçamento doméstico.
Além disso, a percepção sobre a economia local também apresentou alta, com avanço de 1,8 ponto, chegando a 93,7 pontos. Já entre as expectativas, o item que mede a situação financeira futura das famílias subiu 1,6 ponto, para 87,4 pontos. O único recuo observado foi no item sobre compras futuras de bens duráveis, que caiu 0,7 ponto, indicando que as famílias ainda estão cautelosas com gastos de maior valor.
Confiantes, mesmo com restrições: melhora entre todas as faixas de renda
Um dos aspectos mais relevantes da alta no Índice de Confiança do Consumidor é que ela foi registrada em todas as faixas de renda familiar. A melhora disseminada reforça a ideia de que a recuperação econômica tem efeito mais amplo, embora em intensidades diferentes.
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Famílias com renda até R$ 2.100: alta de 0,9 ponto, passando de 75,3 para 76,2 pontos.
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Renda entre R$ 2.100,01 e R$ 4.800: alta de 1,7 ponto, de 86,5 para 88,2 pontos.
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Renda entre R$ 4.800,01 e R$ 9.600: avanço de 3,0 pontos, de 88,0 para 91,0 pontos.
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Renda acima de R$ 9.600,01: crescimento de 2,6 pontos, de 88,9 para 91,5 pontos.
Esses dados revelam que a confiança está retornando de forma ampla, embora a base ainda seja baixa, especialmente entre os grupos com menor poder aquisitivo. Mesmo assim, o sinal é positivo e revela que a percepção de melhora não está restrita a nichos sociais.
Atividade econômica resiliente e inflação sob controle sustentam o otimismo
A manutenção de um mercado de trabalho forte tem sido um dos principais pilares para a recuperação da confiança dos consumidores. Com a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos e crescimento na formalização de vagas, as famílias brasileiras sentem-se mais seguras quanto à estabilidade de suas fontes de renda.
Outro fator que contribui para o aumento da confiança é o controle relativo da inflação. Ainda que os preços sigam pressionados em alguns setores, não há sinais de descontrole generalizado. Isso permite que os consumidores ajustem suas expectativas com base em uma perspectiva menos instável do cenário macroeconômico.
Sondagem aponta cautela nas intenções de compra
Apesar da melhora nos índices gerais, a intenção de consumo de bens duráveis registrou queda. Esse dado mostra que, mesmo com percepções mais otimistas sobre as finanças pessoais e o futuro econômico, o brasileiro ainda evita compromissos financeiros de longo prazo.
Esse comportamento é típico de cenários em que a recuperação da confiança ainda é incipiente. Antes de assumir novos riscos financeiros, as famílias preferem aguardar um cenário mais consolidado.
Confiança do consumidor em processo de reconstrução
O crescimento do Índice de Confiança do Consumidor em maio, pelo terceiro mês consecutivo, indica que a confiança do brasileiro está, pouco a pouco, sendo restaurada. A resiliência da atividade econômica, sustentada principalmente pela geração de empregos e por um cenário inflacionário controlado, tem sido fundamental para esse movimento.
Ainda assim, os dados indicam que o consumidor segue cauteloso, especialmente no que diz respeito a grandes compras. A retomada completa da confiança exigirá consistência nos indicadores macroeconômicos e uma resposta perceptível nas condições de vida das famílias brasileiras.
Com a melhora espalhada entre diferentes faixas de renda e o avanço simultâneo das percepções atuais e expectativas futuras, o Brasil caminha para um segundo semestre com maior otimismo do consumidor. A recuperação total, porém, ainda exige tempo, estabilidade e políticas públicas que favoreçam o consumo consciente e sustentável.