Assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, o ex-ministro Celso Amorim afirmou ao Valor, neste domingo (25), que o motim dos mercenários do grupo Wagner, na Rússia, ainda é um episódio “obscuro”, e ele mesmo se viu “atônito”. Segundo ele, contudo, a continuidade do levante teria sido “um desastre total para os russos e para o processo de paz.”
“O grupo tem motivos salariais, tem rivalidades com o Ministério da Defesa [russo], tem uma porção de coisas. É algo estranho tomarem uma região tão importante, um entroncamento para que as tropas russas cheguem à frente de batalha, e depois, de repente, muda-se e não é mais nada. Não sei dizer por que e nem como”, disse, afirmando que ainda estava “atônito” com o episódio. “Estou tentando entender.”
Depois de acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em viagem pela Europa, Amorim participava de reunião na Dinamarca, para tratar justamente da guerra na Ucrânia, quando começou o motim. O encontro foi promovido pelo governo ucraniano e pelo conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan.
Segundo Amorim, o único efeito mais concreto do motim na reunião foi a participação apenas virtual do representante do governo ucraniano. “Ninguém consegue entender ainda muito bem o que aconteceu”, disse, destacando, no entanto, que “esperamos que isso se acalme.” “Uma situação de total instabilidade fica difícil.”
O assessor ainda não teve a oportunidade de discutir a situação com Lula, mas conversou com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a respeito do tema. Na reunião realizada na Dinamarca, não se chegou a um “acordo” ou a uma “conclusão”.
“Mas uma opinião mais ampla do que se poderia pensar é que é preciso conversar também com a Rússia. Não se faz a paz consigo próprio”, disse, destacando que também participaram do encontro representantes da Índia, Turquia, Arábia Saudita e África do Sul. “Os próprios ucranianos perceberam que não dá só para falar com os Estados Unidos e os europeus.”