IBC-Br recua em maio e indica impacto da Selic na economia
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), um dos principais termômetros de curto prazo da economia brasileira, apresentou retração de 0,7% em maio de 2025, na comparação com abril, segundo dados com ajuste sazonal. A queda interrompe uma sequência de quatro meses consecutivos de crescimento e traz sinais claros de que os efeitos da alta da Selic começam a se manifestar com mais intensidade sobre o nível de atividade econômica do país.
Com forte influência do setor agropecuário, que despencou 4,2% no período, o recuo do IBC-Br reforça a tese de desaceleração gradual da economia, diante de um cenário de política monetária mais restritiva. A seguir, uma análise aprofundada dos fatores que explicam essa retração, os impactos setoriais, a leitura do mercado sobre os sinais do Banco Central e as perspectivas para os próximos meses.
O que é o IBC-Br e por que ele importa para a economia
O IBC-Br é um indicador criado pelo Banco Central para antecipar a tendência do Produto Interno Bruto (PIB). Embora não seja um substituto oficial, ele é amplamente utilizado pelo mercado para monitorar a evolução da atividade econômica brasileira em tempo real.
O índice é composto por dados da produção industrial, comércio, serviços e agropecuária, sendo ajustado sazonalmente para facilitar comparações mês a mês. Uma variação negativa, como a de maio de 2025, pode sinalizar um enfraquecimento na economia, influenciado por fatores como juros altos, inflação ou choques setoriais.
Desempenho do IBC-Br em maio: os números
Em maio, o IBC-Br registrou queda de 0,7% em relação ao mês anterior, com ajuste sazonal. Esse foi o primeiro resultado negativo desde dezembro de 2024, quando o índice havia recuado 0,93%.
Impacto do agronegócio
O principal responsável pelo desempenho negativo foi o setor agropecuário, que teve uma retração significativa de 4,2% em comparação com abril. Considerando a representatividade do setor no PIB nacional, essa variação teve um peso expressivo no resultado do IBC-Br. Se excluído o agronegócio, a retração seria de 0,37%.
Indústria e serviços
A indústria também apresentou resultado negativo, com recuo de 0,47%. Já o setor de serviços, que responde por mais de 70% da economia, permaneceu estável no período, evitando uma queda ainda mais acentuada do índice.
Alta da Selic começa a mostrar efeitos
Após sucessivos aumentos na taxa básica de juros nos últimos ciclos do Comitê de Política Monetária (Copom), os sinais de desaceleração começam a aparecer nos indicadores econômicos. A taxa Selic elevada tende a reduzir o consumo, encarecer o crédito e esfriar os investimentos — mecanismos tradicionais para controlar a inflação, mas que impactam diretamente o nível de atividade.
A retração do IBC-Br em maio é vista por muitos economistas como um reflexo direto dessa política monetária mais austera. Com o crédito mais caro e a confiança empresarial moderada, empresas reduzem produção e adiam contratações, enquanto os consumidores cortam gastos.
Comparações interanuais e acumulado no ano
Mesmo com a queda em maio, o IBC-Br ainda apresenta um desempenho positivo em 2025. Na comparação com maio do ano passado, o índice mostra crescimento de 3,91%. No acumulado do ano até maio, o avanço é de 1,97%, indicando que a economia segue em trajetória de expansão, embora em ritmo mais lento.
essa desaceleração pode ser interpretada como um “freio necessário” para combater a inflação e estabilizar os preços, conforme os objetivos do Banco Central.
Análise setorial detalhada
Agronegócio em retração
O recuo de 4,2% no agronegócio representa uma inflexão relevante. Após meses de alta impulsionada por safras recordes e aumento das exportações, o setor enfrenta agora um ajuste, influenciado por fatores climáticos adversos e redução nos preços internacionais de commodities como soja, milho e carne.
Indústria em ritmo moderado
A indústria brasileira apresentou retração de 0,47%, refletindo a menor demanda interna e a cautela dos empresários em relação ao cenário econômico. A taxa Selic alta tem impactado diretamente o setor, principalmente nos segmentos de bens duráveis e de capital.
Serviços sustentam o desempenho geral
Apesar de não crescer, o setor de serviços manteve-se estável em maio, ajudando a atenuar a queda do IBC-Br. Áreas como turismo, transporte e tecnologia continuam apresentando resiliência, sustentadas pelo mercado de trabalho ainda aquecido e pela demanda urbana.
Expectativas do mercado para os próximos meses
Com a divulgação do desempenho de maio, analistas financeiros e casas de pesquisa começaram a revisar suas projeções para o crescimento do PIB em 2025. Alguns modelos já apontam para uma desaceleração mais intensa no segundo semestre, com o crescimento anual podendo fechar abaixo de 2,0%.
No entanto, a velocidade da queda da inflação e os próximos movimentos do Copom serão cruciais para determinar a intensidade dessa desaceleração. Uma possível redução da Selic no segundo semestre pode suavizar o impacto sobre o consumo e a produção, mantendo o IBC-Br em patamares positivos.
O papel da política monetária no comportamento do IBC-Br
A principal função do Banco Central ao elevar a Selic é conter a inflação. No entanto, esse instrumento afeta diretamente a atividade econômica, e o IBC-Br é um dos primeiros indicadores a registrar esses efeitos.
Como a Selic afeta o IBC-Br?
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Consumo desacelera: com juros mais altos, o crédito para consumidores encarece, reduzindo compras financiadas.
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Investimentos caem: empresas evitam contrair dívidas para novos projetos.
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Dólar tende a estabilizar: juros altos atraem capital estrangeiro, o que ajuda a controlar a taxa de câmbio.
Com isso, o IBC-Br tende a cair ou crescer em ritmo mais moderado, como já visto nos dados de maio.
IBC-Br como ferramenta de monitoramento da economia
Apesar de não substituir o PIB oficial, o IBC-Br é utilizado como ferramenta de curto prazo para monitoramento da economia. Ele antecipa tendências, ajuda investidores a calibrarem suas estratégias e fornece ao Banco Central uma base sólida para decisões de política monetária.
Cenário político e econômico influencia os dados
Além das variáveis econômicas, fatores políticos também pesam sobre o comportamento do mercado e, por consequência, nos indicadores como o IBC-Br. As sinalizações do governo federal sobre gastos públicos, políticas fiscais e reformas influenciam as expectativas do setor produtivo e dos consumidores.
Em 2025, o cenário de transição para a nova estrutura tributária e os ajustes no arcabouço fiscal ainda geram dúvidas entre os agentes econômicos, afetando a confiança e os investimentos.
O recuo de 0,7% do IBC-Br em maio é um sinal claro de que a política de juros altos começa a surtir efeito no enfraquecimento da atividade econômica. Embora o índice ainda mostre crescimento no acumulado do ano, a desaceleração tende a se acentuar nos próximos meses, principalmente se o agronegócio continuar em baixa e a indústria não recuperar seu fôlego.
A leitura atenta desse indicador será essencial para entender os próximos passos da economia brasileira, especialmente no que diz respeito à condução da política monetária e à busca por um equilíbrio entre crescimento e controle inflacionário.






