Lula confirma taxação das big techs e endurece tom contra ataques nas redes
Durante sua participação no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reafirmou que seu governo irá implementar a taxação das big techs, com foco principal nas plataformas digitais americanas que operam no Brasil. Em um discurso marcado por forte apelo à soberania nacional e à proteção de grupos vulneráveis, Lula criticou a atuação das redes sociais na propagação de mentiras, violência e preconceito.
A proposta de taxação das big techs não é nova, mas ganha agora contornos mais amplos, pois está diretamente ligada a um projeto de regulação da internet, da liberdade de expressão e da responsabilidade digital no país. Lula deixou claro que não permitirá que as plataformas estrangeiras continuem atuando sem contrapartidas fiscais e regulatórias, especialmente quando seus algoritmos são usados para disseminar conteúdos que violam os direitos humanos.
Taxação das big techs: o que Lula pretende
Medida fiscal e política contra abusos digitais
O governo brasileiro está preparando um pacote de medidas que inclui a taxação das big techs — como são chamadas as grandes empresas tecnológicas americanas que atuam globalmente, incluindo Google, Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp), X (antigo Twitter), Amazon e TikTok. O foco não é apenas arrecadatório, mas também regulatório e social.
Segundo o presidente, essas empresas se beneficiam do imenso mercado digital brasileiro, obtêm lucros bilionários, mas não contribuem proporcionalmente para o país. Mais grave ainda, de acordo com Lula, é a passividade com que permitem que suas plataformas sejam usadas para ataques contra mulheres, negros, indígenas, população LGBTQIA+ e crianças.
Liberdade de expressão versus discurso de ódio
Lula defende regulação ética das redes sociais
Ao criticar o uso indevido da liberdade de expressão, Lula ressalta que o princípio democrático não pode servir de escudo para a disseminação da violência. No Brasil, onde as redes sociais têm forte influência na formação da opinião pública, a ausência de responsabilização das plataformas digitais representa um risco à integridade social.
A taxação das big techs seria, portanto, apenas uma parte do projeto maior de regulação da atuação dessas empresas. O governo pretende avançar com medidas que obriguem as plataformas a removerem conteúdos ilegais e adotarem mecanismos mais eficazes de moderação.
Marco Civil da Internet: nova fase de regulação digital
STF aprova nova redação com foco na responsabilidade das plataformas
O debate sobre a taxação das big techs está alinhado com decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF). Em junho, foi aprovada uma nova redação para o Marco Civil da Internet, reforçando a obrigação das plataformas digitais em remover conteúdos ilegais postados por usuários.
Essa atualização legislativa é considerada um avanço na regulamentação da internet brasileira, que por anos funcionou em um vácuo normativo quando se tratava da responsabilização de empresas digitais por conteúdos nocivos. Agora, com a taxação em vista, o Brasil caminha para se alinhar com países europeus que já adotaram legislações semelhantes.
O Brasil no contexto global da regulação digital
Tendência internacional de responsabilização das big techs
A taxação das big techs não é uma exclusividade brasileira. Em países como França, Reino Unido, Itália e Alemanha, tributos específicos já são aplicados a empresas que exploram a publicidade e os dados dos usuários sem presença física significativa nesses países.
O Brasil, com mais de 150 milhões de usuários ativos de internet e um dos maiores mercados de redes sociais do mundo, tornou-se um território estratégico para essas plataformas. No entanto, a ausência de regras claras e o desequilíbrio na relação de poder entre o Estado e as big techs têm sido alvos de crítica crescente entre juristas, ativistas e especialistas em tecnologia.
As big techs e os impactos sociais no Brasil
Plataformas digitais como vetores de desinformação
A taxação das big techs também deve considerar o impacto social causado pelo uso indiscriminado de suas plataformas. Nos últimos anos, o Brasil vivenciou campanhas de desinformação que impactaram eleições, promoveram discursos negacionistas durante a pandemia e agravaram tensões sociais com ataques diretos a minorias.
Esse ambiente de hostilidade, muitas vezes incentivado por algoritmos que priorizam o engajamento a qualquer custo, tem gerado um debate urgente sobre o papel dessas empresas na construção (ou destruição) do tecido social. Para o governo, tributar as big techs é um primeiro passo para exigir maior responsabilidade e investimento em mecanismos de proteção digital.
O papel da UNE e o simbolismo do discurso
Estudantes como agentes da transformação digital
A escolha do Congresso da UNE como espaço para o anúncio da taxação das big techs não foi casual. A entidade representa historicamente a vanguarda do pensamento progressista entre a juventude brasileira e tem papel decisivo em mobilizações sobre temas estruturais do país.
Lula utilizou o evento para dialogar diretamente com os estudantes e mobilizar apoio para a regulação das plataformas. Ao afirmar que “o dono do Brasil é o povo brasileiro”, ele reforça o princípio da soberania popular sobre a influência de interesses corporativos e internacionais.
O que muda com a taxação das big techs
Medidas práticas previstas no novo projeto
O pacote em desenvolvimento pelo governo prevê que a taxação das big techs incluirá:
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Imposto sobre receita obtida por serviços digitais no Brasil;
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Exigência de representação fiscal legal no território nacional;
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Transparência sobre uso de dados e algoritmos;
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Responsabilidade compartilhada por conteúdos ilegais;
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Penalidades para descumprimento de ordens judiciais.
Além disso, parte da arrecadação com a nova taxação poderá ser destinada a políticas públicas de educação digital, combate à desinformação e proteção de grupos vulneráveis na internet.
Expectativas do mercado e da sociedade civil
Resistência esperada e mobilização social
A proposta de taxação das big techs certamente enfrentará oposição de representantes do setor privado, de instituições ligadas ao comércio internacional e possivelmente até de setores do governo norte-americano. No entanto, a sociedade brasileira tem se mostrado cada vez mais sensível à necessidade de proteger seu ecossistema digital.
Organizações não governamentais, movimentos sociais e coletivos acadêmicos devem apoiar a medida, sobretudo diante dos episódios recentes de violência digital e discursos de ódio nas redes.
O Brasil assume protagonismo na regulação digital
A decisão de implementar a taxação das big techs posiciona o Brasil como uma das principais nações em desenvolvimento a reagir de forma firme aos abusos das gigantes digitais. Para Lula, não se trata apenas de arrecadação, mas de soberania, proteção da democracia e do bem-estar da população brasileira — especialmente de seus grupos mais vulneráveis.
A proposta abre um novo ciclo de debates sobre liberdade, responsabilidade e justiça no ambiente digital. E, ao que tudo indica, o Brasil está pronto para liderar essa transformação.






