Uma tecnologia inovadora está revolucionando shows e concertos com música ao vivo para espectadores surdos ou com deficiência auditiva. Uma startup está desenvolvendo novos coletes vibratórios que permitem que os indivíduos “ouçam” a música por meio de vibrações, proporcionando uma experiência imersiva inédita.
Na prática, os acessórios não fazem com que as pessoas escutem, de fato, mas possibilita “sentir” a música. Junto de faixas nos pulsos ou nos tornozelos, os coletes táteis são programados para converter os elementos musicais em vibrações correspondentes.
O objetivo da iniciativa é oferecer uma experiência corporal completa e única para cada pessoa, com o propósito de criar sensações que reproduzem os sentimentos que a música pode evocar.
O “Vibrotextile”, como foi batizado, já foi utilizado por espectadores em shows de Greta Van Fleet e Lady Gaga, bem como em concertos da Orquestra Filarmônica de Los Angeles e também da Orquestra Sinfônica Brasileira.
A startup norte-americana Not Impossible Labs criou o projeto “Music: Not Impossible”, que emprega a tecnologia para tentar diminuir as barreiras sociais, incluindo iniciativas de inclusão e acessibilidade.
E os coletes não se limitam a um tipo de música. Os usuários podem ajustar os pontos de vibração para se adaptar ao ambiente do espetáculo, desde o rock até a música clássica — ou mesmo a eletrônica.
Brasileiro ajudou a criar solução
O artista brasileiro Daniel Belquer atua no projeto da Not Impossible Labs. Os coletes são “uma experiência totalmente acessível para pessoas de todos os níveis de audição”, disse ao site Classic FM. Belquer é Chief Vibrational Officer (CVO) da “Music: Not Impossible”.
O principal responsável pela tecnologia é Patrick Hanlon, especialista em áudio. “Ninguém espera que seja tão atrativo, mas quando se vê os olhos das pessoas, é mágico”, disse Hanlon em entrevista à AFP.
Para Jay Zimmerman, um compositor que perdeu capacidade auditiva por causa dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, os coletes são um exemplo de uma nova tecnologia que oferece mais flexibilidade e dinamismo, uma alternativa ao que existia até então.
“Minha esperança é que podemos conseguir que as crianças surdas vivam experiências com vibrações e materiais reais, para que comecem a construir esta biblioteca de memória auditiva, ainda que não seja auditiva pelos seus ouvidos, mas com sensações diferentes” disse à AFP.
O Lincoln Center foi o pioneiro a criar uma parceria com o projeto, em 2021, tanto para os espetáculos de orquestra como para sua popular série de concertos ao ar livre.
Como funciona o dispositivo
A solução “imita” a música no palco, permitindo que pessoas com deficiência auditiva a experimentem por meio do toque. O colete tem pontos de contato que criam vibrações sincronizadas com a música. As pessoas sentem o som de cada instrumento em diferentes partes do corpo.
Cada colete tem 24 pontos de toque separados, o que significa que cada colete pode transmitir até 24 instrumentos. A tecnologia permite que o público sinta o som de até grandes partituras orquestrais diretamente na pele.
Os violinos ressoam na caixa torácica, os violoncelos e os baixos criam sensações um pouco mais baixas, enquanto as trompas vibram nos ombros e a música dos solistas é sentida nos pulsos.
Até agora, as pessoas surdas ou com dificuldades auditivas recorriam a outros métodos para desfrutar da música ao vivo. Isso incluia, por exemplo, pôr as mãos nos alto-falantes ou segurar um balão para sentir as vibrações nas pontas dos dedos.
Beethoven usou a famosa técnica de condução óssea para continuar compondo música depois de ficar surdo. Ele prendia uma haste ao piano e apertava essa haste com os dentes, para poder sentir a vibração de cada nota.
A evolução da tecnologia permitiu o desenvolvimento de soluções como os coletes, que são capazes de traduzir imediatamente o som dos instrumentos musicais em vibrações. Ao todo, o colete pode produzir extraordinárias 3.900 frequências diferentes em cinco oitavas de microtons.