A Polícia Federal (PF) concluiu uma investigação que aponta a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro no desvio ou na tentativa de desvio de mais de R$ 25 milhões em presentes, incluindo esculturas, joias e relógios, recebidos de países estrangeiros durante seu mandato. De acordo com o relatório da PF, esses presentes foram desviados e vendidos, e os valores obtidos foram convertidos em dinheiro e integrados ao patrimônio pessoal de Bolsonaro, sem passar pelo sistema bancário formal.
Relatório da Investigação
O relatório da PF, assinado pelo delegado Fábio Shor, detalha a existência de uma associação criminosa formada com o objetivo específico de desviar e vender objetos de valor recebidos por Bolsonaro como presente oficial. O documento, com 476 páginas, foi entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) na sexta-feira (5) e teve seu sigilo derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes nesta segunda-feira (8).
Detalhes dos Desvios Cometidos por Bolsonaro, segundo Polícia Federal
Segundo o relatório, os presentes desviados tinham um valor mercadológico total de US$ 4.550.015,06, o que equivale a R$ 25.298.083,73. Parte desse dinheiro pode ter sido utilizada para custear a estadia de Bolsonaro nos Estados Unidos, onde permaneceu por mais de três meses após deixar a Presidência da República. Em março de 2023, quando a venda de presentes oficiais foi noticiada pela imprensa, uma nova operação foi organizada para recuperar itens já vendidos no mercado.
Modo de Operação
A investigação revelou que os presentes desviados eram vendidos no exterior e os valores obtidos eram remetidos ao Brasil em espécie, ocultando a origem e a propriedade dos bens. Este esquema foi descoberto com a colaboração do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fechou um acordo de colaboração premiada.
O envolvimento do pai de Mauro Cid, general do Exército Mauro Lorena Cid, também foi identificado. O general teria intermediado o repasse de US$ 68 mil ao ex-presidente após a venda de um relógio Patek Phillippe e um Rolex. O dinheiro foi depositado na conta bancária do general, que trabalhava no escritório da Apex em Miami.
Consequências Legais
Bolsonaro e mais 11 pessoas foram indiciadas pelos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. O relatório foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que agora deve decidir se arquiva o caso ou denuncia os indiciados. É possível também que a PGR solicite novas provas.
Provas Adicionais
Nos autos da investigação, foram anexados comprovantes de saques bancários no Brasil e nos Estados Unidos, além de planilhas mantidas pelo assessor Marcelo Câmara, responsável pela contabilidade pessoal de Bolsonaro. Essas provas corroboram a movimentação ilícita de dinheiro e a tentativa de ocultar a origem dos valores obtidos com a venda dos presentes.
Repercussões
O caso trouxe à tona questões sobre a transparência e a ética na gestão de presentes recebidos por chefes de Estado. A prática de desviar presentes oficiais, além de configurar crimes como peculato e lavagem de dinheiro, compromete a integridade das instituições públicas e a confiança da população nos líderes eleitos.
Declarações Oficiais
A Agência Brasil tentou contato com a defesa de todos os citados, mas até o momento não obteve resposta. A expectativa é que novas revelações e desdobramentos surjam à medida que a PGR analisa o relatório da PF e decide os próximos passos.
A prática de receber presentes oficiais é comum entre líderes mundiais, sendo estes frequentemente considerados patrimônio público e não propriedade pessoal dos mandatários. No entanto, a falta de regulamentação clara e a fiscalização insuficiente podem levar a abusos e desvios, como apontado no caso de Bolsonaro.
Importância da Transparência
A transparência na gestão de presentes oficiais é fundamental para evitar conflitos de interesse e garantir que os bens públicos sejam utilizados em benefício da sociedade. Casos como o de Bolsonaro destacam a necessidade de políticas rigorosas e mecanismos eficazes de controle para prevenir a corrupção.
A investigação da PF sobre Jair Bolsonaro e o desvio de presentes oficiais lança luz sobre práticas ilícitas na administração pública e reforça a importância de medidas de transparência e accountability. À medida que o caso avança na PGR, a sociedade espera que a justiça seja feita e que os responsáveis sejam devidamente punidos.