O Brasil se tornou, entre janeiro e abril de 2024, o maior destino de veículos chineses elétricos e híbridos, superando a Bélgica. Nesse período, o Brasil importou 88,32 mil unidades desses veículos, ligeiramente acima das 88,16 mil unidades destinadas à Bélgica. A diferença se acentuou em abril, quando 40,9 mil carros foram exportados da China para o Brasil, um número próximo dos 47,4 mil embarcados no primeiro trimestre inteiro.
Essa movimentação ocorre em um momento de mudanças nas políticas tarifárias brasileiras para importação de veículos elétricos e híbridos. Desde janeiro, o Brasil iniciou a cobrança de impostos sobre essas importações, com um cronograma de aumento gradual das alíquotas até 2026. A antecipação dos embarques de veículos chineses reflete tanto uma estratégia de mercado das fabricantes quanto uma resposta às novas regras tarifárias.
Impacto das Medidas de Defesa Comercial
Além das mudanças tarifárias no Brasil, os carros elétricos chineses estão sob escrutínio em outros mercados. A União Europeia e os Estados Unidos iniciaram investigações e aplicaram tarifas sobre esses veículos, o que pode estar direcionando os embarques para mercados alternativos como o Brasil.
Nos Estados Unidos, os veículos chineses enfrentam uma taxa de 100%, enquanto na União Europeia há uma investigação sobre possíveis subsídios. Especialistas sugerem que tais medidas podem resultar em um redirecionamento do comércio para mercados com menos restrições, como o Brasil.
Valor das Exportações e Composição dos Embarques
Embora o Brasil lidere em quantidade de veículos importados, a Bélgica ainda é a principal em termos de valor exportado. De janeiro a abril, a China exportou US$ 2,38 bilhões em veículos elétricos e híbridos para a Bélgica, comparado aos US$ 1,84 bilhão enviados ao Brasil. Essa disparidade pode ser explicada pela composição dos embarques: a Bélgica importa predominantemente veículos puramente elétricos, enquanto o Brasil tem uma maior proporção de veículos híbridos, incluindo plug-in e não plug-in.
Os veículos puramente elétricos representam 98% das exportações para a Bélgica, enquanto no Brasil essa parcela é de 51%, com 36% sendo híbridos plug-in e o restante híbridos convencionais.
Perspectivas para o Mercado Brasileiro
A antecipação das importações chinesas para o Brasil é vista como uma resposta ao cronograma de aumento das alíquotas de importação. Desde janeiro, o imposto de importação para carros elétricos é de 10%, subindo para 18% em julho. Para híbridos, a alíquota inicial é de 15%, passando para 25%, e para híbridos plug-in de 12% para 20%.
Além da estratégia tarifária, a movimentação também reflete os planos das fabricantes chinesas de consolidar sua presença no mercado brasileiro. A perspectiva de médio e longo prazo inclui a produção local de veículos elétricos e híbridos, fortalecendo a competitividade e a oferta desses produtos no país.
Contexto Global das Importações de Veículos Chineses
Quando se considera o total de automóveis de passageiros, incluindo veículos totalmente a combustão, a Rússia lidera as importações de veículos chineses. De janeiro a abril, a China exportou US$ 3,52 bilhões em veículos para a Rússia, seguida pela Bélgica com US$ 2,49 bilhões e pelo Reino Unido com US$ 2,12 bilhões. O Brasil ocupa a quarta posição nesse ranking com US$ 2,05 bilhões, uma posição conquistada rapidamente, dado que no primeiro bimestre de 2023 o país estava em 19º lugar.
A logística também é um fator relevante: a viagem dos carros da China para o Brasil dura de 45 a 60 dias. Assim, muitos dos veículos embarcados ainda não chegaram ao território brasileiro. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) registrou que, de janeiro a maio, o Brasil importou US$ 1,14 bilhão em carros da China, comparado aos US$ 202 milhões no mesmo período de 2023.
Desafios e Oportunidades
O aumento das tarifas de importação e as medidas de defesa comercial em outros mercados representam desafios para os fabricantes chineses, mas também abrem oportunidades para o Brasil. A estratégia de antecipação de embarques e o plano de produção local indicam um compromisso das fabricantes chinesas com o mercado brasileiro, que pode se tornar um hub importante para a distribuição de veículos elétricos e híbridos na América Latina.
O cenário sugere que o Brasil continuará a desempenhar um papel central nas importações de veículos chineses, especialmente à medida que o mercado doméstico se adapta às novas tecnologias e à crescente demanda por veículos mais sustentáveis.