Camerlengo: Quem é o líder que governa o Vaticano na ausência do Papa Francisco
A morte do Papa Francisco, nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, trouxe à tona uma figura central para a transição de poder no Vaticano: o camerlengo. Pouco conhecido fora dos círculos eclesiásticos, o camerlengo é o responsável por administrar a Igreja Católica e o Vaticano durante a Sé Vacante, período em que a Santa Sé fica sem papa. Atualmente, esse papel cabe ao cardeal irlandês Kevin Joseph Farrell, nomeado por Francisco em 2019. Entenda em detalhes quem é o camerlengo, quais são suas funções e por que ele se torna o personagem mais importante do Vaticano até a eleição do novo pontífice.
O que é o camerlengo e qual sua origem histórica
O termo camerlengo vem do latim medieval “camarlingus”, que significa “funcionário da câmara do soberano”. Historicamente, o camerlengo é o administrador da Câmara Apostólica, órgão responsável pelas finanças e propriedades do Vaticano. Em situações normais, o cargo tem funções administrativas e de supervisão patrimonial. Mas, na ausência do papa, sua importância cresce exponencialmente: ele se torna o chefe interino do Estado do Vaticano e da Igreja Católica, com poderes bem definidos e limitados.
As principais funções do camerlengo após a morte do papa
Durante a Sé Vacante, o camerlengo assume uma série de responsabilidades essenciais:
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Confirma oficialmente a morte do papa: O camerlengo é quem atesta o falecimento do pontífice, seguindo um protocolo tradicional.
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Destrói o Anel do Pescador: O anel, símbolo do poder papal, é destruído para evitar falsificações e marcar o fim do pontificado.
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Sela os aposentos papais: O camerlengo lacra os aposentos do papa, garantindo a inviolabilidade dos espaços até a eleição do sucessor.
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Administra temporariamente o Vaticano: Ele coordena as atividades administrativas, financeiras e logísticas da Santa Sé.
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Organiza o funeral do papa: O camerlengo supervisiona todos os ritos fúnebres, desde o velório até o sepultamento.
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Conduz o Conclave: Ele prepara o Conclave, reunião dos cardeais que elegerá o novo papa, cuidando de toda a infraestrutura e segurança.
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Garante a continuidade institucional: O camerlengo assegura que a máquina administrativa do Vaticano funcione normalmente, mesmo sem um líder espiritual.
Quem é Kevin Joseph Farrell, o atual camerlengo do Vaticano
Kevin Joseph Farrell nasceu em Dublin, Irlanda, em 1947. Com 77 anos, ele possui uma trajetória acadêmica e religiosa de destaque:
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Formação internacional: Estudou na Universidade de Salamanca (Espanha), Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma), Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (Roma) e fez mestrado em Administração de Empresas na Universidade de Notre Dame (EUA).
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Início na vida religiosa: Ingressou na Congregação dos Legionários de Cristo em 1966 e foi ordenado sacerdote em 1978.
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Experiência global: Atuou como capelão universitário no México e professor de Estudos Econômicos em seminários na Itália, Espanha e Irlanda.
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Carreira episcopal: Nomeado bispo-titular de Washington em 2001, foi consagrado em 2002 e promovido a bispo de Dallas em 2007.
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Gestão no Vaticano: Em 2016, foi nomeado prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, e tornou-se cardeal em outubro do mesmo ano.
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Nomeação como camerlengo: Em 2019, foi escolhido por Francisco para o cargo, assumindo papel central na administração da Santa Sé em momentos de transição.
O camerlengo na prática: atuação em tempos de crise
Além de sua importância durante a Sé Vacante, o camerlengo já assumiu funções administrativas em outras ocasiões, como quando o Papa Francisco ficou internado por mais de um mês no Hospital Gemelli, em 2025. Nessas situações, o camerlengo garante a continuidade da gestão do Vaticano, tomando decisões emergenciais e zelando pelo funcionamento das instituições.
Limites do poder do camerlengo
Apesar de sua autoridade administrativa, o camerlengo não pode tomar decisões doutrinárias, nomear bispos nem alterar diretrizes espirituais. Seu papel é garantir a estabilidade e a ordem institucional até que um novo papa seja eleito. Durante esse período, apenas alguns cargos-chave continuam ativos, como o Penitenciário-Mor, o Cardeal Vigário-Geral para Roma e o Esmoleiro Apostólico.
O papel do camerlengo no Conclave
O Conclave é o evento mais aguardado após a morte de um papa. O camerlengo é o responsável por:
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Preparar a Capela Sistina para o Conclave, garantindo o isolamento e a segurança dos cardeais eleitores.
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Coordenar a logística, hospedagem e alimentação dos cardeais.
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Supervisionar o processo de votação, embora não tenha poder de voto diferenciado.
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Anunciar oficialmente o início e o término do Conclave.
A importância do camerlengo para a estabilidade da Igreja
O camerlengo é visto como o “guardião do Vaticano” durante o vácuo de poder. Sua atuação é fundamental para evitar disputas internas, garantir a transparência dos processos e transmitir confiança aos mais de 1,3 bilhão de católicos no mundo. A experiência administrativa e a reputação de Kevin Joseph Farrell são consideradas trunfos para conduzir o Vaticano nesse momento delicado.
Curiosidades sobre o cargo de camerlengo
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O camerlengo só exerce plenos poderes durante a Sé Vacante, retornando a funções administrativas após a eleição do novo papa.
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O cargo existe desde o século XII e já foi ocupado por figuras históricas de grande influência.
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Em situações de emergência, como doenças graves do papa, o camerlengo pode assumir decisões administrativas temporárias.
O futuro do Vaticano nas mãos do camerlengo
Com a morte do Papa Francisco, todas as atenções se voltam para o papel do camerlengo. Kevin Joseph Farrell terá a missão de garantir uma transição tranquila, organizar o funeral histórico de Francisco — marcado pela simplicidade e pela escolha de um caixão de madeira — e preparar o Conclave que elegerá o novo líder espiritual da Igreja Católica. Sua atuação será decisiva para manter a ordem, a tradição e a credibilidade do Vaticano neste momento de luto e expectativa global.