Os fundos imobiliários (FIIs) têm se consolidado como uma opção popular de investimento no Brasil, impulsionados por uma combinação de rentabilidade e benefícios fiscais. Em 2023, o IFIX, índice que mede o desempenho dos FIIs negociados na B3, subiu 15,5%. No entanto, o cenário econômico de 2024 trouxe novos desafios, com a Selic mantendo-se elevada e o ambiente de investimentos apresentando mudanças significativas. Neste artigo, exploraremos as tendências atuais dos FIIs, os impactos das taxas de juros e o que os investidores devem considerar para navegar por este mercado em evolução.
Desempenho Histórico e Mudanças Recentes
Ascensão e Desafios do IFIX
O IFIX atingiu sua máxima histórica de 3.424 pontos em abril deste ano, em um momento em que a Selic estava em queda. A taxa Selic havia diminuído de 13,75% para 10,75% em um período de oito meses, criando um ambiente favorável para os fundos imobiliários. No entanto, a partir de junho, o ciclo de cortes na taxa de juros foi interrompido devido a fatores internos e externos, e a Selic estabilizou em 10,5%, com projeções que indicam a manutenção desse nível até pelo menos o final de 2025.
Essa mudança abrupta no cenário econômico trouxe uma reação imediata ao mercado de FIIs, resultando em uma perda de 1% no IFIX em junho, apesar de um fechamento de semestre com ganho acumulado de 1%. A alteração nas condições de juros criou um ambiente mais desafiador para os gestores de FIIs e investidores, que agora precisam ajustar suas estratégias.
Mudança no Foco dos Investidores
FIIs de Tijolos vs. FIIs de Papel
Tradicionalmente, os fundos imobiliários de tijolos, que investem diretamente em imóveis e geram receita com aluguéis, dominaram o mercado. No entanto, com o ambiente de juros elevados, os investidores estão se voltando cada vez mais para os fundos imobiliários de papel, que investem em títulos ligados ao mercado imobiliário, como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).
Flávio Pires, analista de fundos imobiliários do Santander, observa que, com a perspectiva de juros elevados por mais tempo, os FIIs de tijolos estão mais vulneráveis. Isso ocorre porque juros altos esfriam o crescimento econômico e afetam negativamente a demanda por imóveis comerciais, como shoppings e escritórios. Como resultado, os FIIs de tijolos tendem a mostrar maior volatilidade, e os investidores precisam ser mais seletivos.
Por outro lado, os FIIs de papel, que possuem CRIs atrelados ao CDI e, portanto, acompanham a Selic, podem ganhar atratividade adicional em um cenário de juros elevados. Eduardo Mekbekian, sócio fundador da Manatí Capital, explica que, enquanto a Selic permanecer alta, os preços dos FIIs podem cair, refletindo a comparação entre dividendos pagos pelos fundos e a taxa Selic.
Ofertas Públicas e Dinâmica do Mercado
Volume de Ofertas e Expectativas Futuras
No primeiro semestre de 2024, o setor de FIIs experimentou um volume significativo de ofertas públicas, com o segmento captando cerca de R$ 20 bilhões, de acordo com o BTG Pactual. No entanto, com a estabilização da Selic, a expectativa é de que o volume de novas ofertas diminua, resultando em menos opções para os investidores, embora os preços possam se tornar mais atraentes.
Pires, do Santander, projeta que o setor de FIIs terminará 2024 com pelo menos R$ 35 bilhões em captações, representando um aumento de 15,5% em relação ao ano anterior. No entanto, há uma expectativa de redução dos dividendos extraordinários provenientes da venda de ativos, especialmente em setores como shoppings, que podem impactar o fluxo de pagamentos aos cotistas.
Risco de Inadimplência
Um risco significativo para os investidores em FIIs é a possibilidade de inadimplência, tanto por parte dos inquilinos quanto dos emissores de CRIs. A inadimplência pode afetar negativamente o fluxo de pagamentos e, consequentemente, os retornos dos investidores. Marinelli, do BTG, destaca que, apesar de uma redução na inadimplência em comparação com períodos anteriores, ainda é essencial monitorar esse risco de perto.
Casos recentes, como os atrasos de pagamento pela WeWork e outras grandes empresas, destacam a importância de avaliar a solidez financeira dos inquilinos e emissores antes de investir em um FII.
Os fundos imobiliários continuam a ser uma alternativa interessante para diversificação de investimentos, oferecendo oportunidades tanto para investidores que buscam rendimentos estáveis quanto para aqueles que preferem a potencial valorização dos ativos. No entanto, o cenário atual exige uma análise mais aprofundada e uma abordagem mais seletiva. A estabilidade das taxas de juros e a qualidade dos ativos em que os fundos investem são fatores cruciais para o sucesso dos investimentos em FIIs.
Para investidores que buscam entrar ou já estão no mercado de FIIs, é essencial avaliar cuidadosamente os fundos, considerando tanto os dividendos quanto o valor das cotas e a qualidade dos ativos. Com paciência e uma análise bem informada, ainda é possível encontrar bons ativos e oportunidades de investimento no mercado de fundos imobiliários.