A cotação do dólar é um termômetro sensível aos movimentos do mercado, impactando diretamente a economia brasileira e a vida dos cidadãos. No pregão desta sexta-feira (27), a moeda norte-americana abriu em alta, atingindo R$ 6,21 nos primeiros momentos de negociação, consolidando uma trajetória de avanço que reflete as incertezas fiscais e políticas do Brasil. Vamos analisar os fatores que impulsionaram essa valorização e como ela se relaciona com outros indicadores econômicos, como o IPCA-15 e as recentes decisões no Congresso.
Alta do Dólar e Contexto Econômico
O dólar apresentou alta de 0,46% no início do dia, alcançando R$ 6,2058. Na máxima, chegou a R$ 6,2108, acumulando ganhos significativos ao longo da semana (1,74%) e do mês (2,95%). Em 2024, a moeda norte-americana já registra uma valorização de 27,30%, reflexo de um cenário econômico turbulento no Brasil.
Entre os principais fatores que influenciam a cotação do dólar, destacam-se:
- Cenário Fiscal e Político: A incerteza em torno das emendas parlamentares e a necessidade de maior transparência fiscal têm gerado instabilidade. A suspensão de pagamentos de R$ 4,2 bilhões por decisão do STF é um exemplo de como questões políticas afetam diretamente o mercado.
- Inflação e Emprego: A divulgação do IPCA-15, que apontou uma alta de 0,34% em dezembro, ficou abaixo das expectativas do mercado, sugerindo que a pressão inflacionária pode estar mais controlada do que se esperava.
- Perspectivas para o Salário Mínimo: O anúncio de um possível aumento do salário mínimo de R$ 1.412 para R$ 1.518 em 2025 é outro ponto de atenção, pois pode impactar o consumo e a arrecadação fiscal.
Impactos do IPCA-15 na Economia
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia oficial da inflação, revelou uma alta de 0,34% em dezembro, abaixo das projeções de 0,45%. Esse resultado trouxe alívio para alguns setores do mercado, mas também levantou dúvidas sobre a capacidade do governo de controlar os gastos e alcançar suas metas fiscais.
O IPCA-15 acumulado de 2024 ficou em 4,71%, demonstrando que a inflação está dentro do intervalo de tolerância estabelecido pelo Banco Central. No entanto, as variações nos grupos de produtos e serviços, como alimentação e habitação, destacam os desafios para manter a inflação sob controle.
- Alimentação e Bebidas: Registraram a maior alta (1,47%), impulsionadas pelo aumento de itens como óleo de soja (9,21%) e carnes (alcatra e contrafilé).
- Habitação: Apresentou queda de 1,32%, com destaque para a redução de 5,72% na energia elétrica residencial, graças à volta da bandeira tarifária verde.
Esses indicadores, embora positivos em alguns aspectos, não foram suficientes para tranquilizar o mercado financeiro, que continua receoso quanto à sustentabilidade das contas públicas.
Ibovespa e Repercussão no Mercado de Ações
Enquanto o dólar segue em alta, o principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, tem enfrentado um desempenho misto. Na véspera, o índice fechou em alta de 0,26%, aos 121.078 pontos, mas acumula perdas de 3,65% no mês e 9,77% no ano.
Os investidores estão cautelosos, aguardando sinais mais claros de comprometimento do governo com ajustes fiscais. A falta de medidas estruturais para conter o crescimento acelerado de despesas, como Previdência e pisos de saúde e educação, aumenta a desconfiança no mercado.
Pacote de Gastos e Metas Fiscais
O governo federal anunciou recentemente um pacote de cortes de gastos, inicialmente projetado para economizar R$ 71,9 bilhões em dois anos. No entanto, mudanças no Congresso reduziram a expectativa para R$ 69,8 bilhões. Para analistas do mercado, como a XP Investimentos, o impacto dessas medidas é insuficiente para atingir as metas fiscais, especialmente a de zerar o déficit público em 2024 e 2025.
A pressão por um controle mais rigoroso das contas públicas vem crescendo, e declarações do presidente Lula, que indicam resistência a ajustes mais profundos, como reformas na Previdência, têm intensificado as críticas. Segundo economistas, sem mudanças estruturais, a capacidade de equilibrar as finanças públicas permanece limitada.
Perspectivas para 2025 e Além
O cenário para 2025 dependerá, em grande parte, da capacidade do governo de implementar medidas adicionais para controlar o déficit e do impacto de decisões políticas, como a aprovação do Orçamento e o aumento do salário mínimo.
Para os investidores, o contexto internacional também deve ser monitorado, já que a valorização do dólar é influenciada por fatores externos, como as políticas monetárias do Federal Reserve e as oscilações nos preços das commodities.
A cotação do dólar reflete um cenário econômico e político desafiador no Brasil, com impactos diretos nas expectativas do mercado financeiro. Enquanto a inflação parece estar sob controle, graças a indicadores como o IPCA-15, a falta de medidas estruturais para conter o crescimento das despesas públicas mantém o mercado em alerta.
Com a proximidade de 2025, as decisões tomadas nos próximos meses serão cruciais para definir a trajetória da economia brasileira e a percepção dos investidores sobre a estabilidade fiscal do país.