A cotação do dólar no Brasil encerrou esta terça-feira (19) em alta, reflexo das crescentes tensões geopolíticas envolvendo a Rússia. A moeda americana valorizou-se 0,34%, fechando a R$ 5,7672, após oscilar entre uma máxima de R$ 5,7979 e uma mínima de R$ 5,7484 no pregão. A alta do dólar é impulsionada pelo cenário global de aversão ao risco, com investidores buscando segurança em meio às atualizações da doutrina nuclear russa.
Atualização da Doutrina Nuclear Russa Eleva Incertezas Globais
O presidente russo, Vladimir Putin, assinou uma revisão na doutrina nuclear do país, ampliando as circunstâncias que poderiam levar Moscou a realizar um ataque nuclear. O documento inclui a possibilidade de uma retaliação em caso de ataques aéreos maciços contra o território russo, além das ameaças já estabelecidas contra a Ucrânia e a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
A atualização ocorre em um momento delicado, no qual a guerra na Ucrânia alcança a marca de 1.000 dias. Recentemente, Kiev realizou um ataque com mísseis ATACMS na região russa de Bryansk, intensificando a tensão. Essa ação veio após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ter flexibilizado restrições ao envio de armamentos para a Ucrânia.
Impacto no Mercado Cambial e no Índice DXY
A volatilidade não se restringiu ao mercado doméstico. O índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta de moedas, registrou uma leve queda de 0,07%, fechando em 106,196 pontos. Apesar do recuo no DXY, a aversão ao risco global elevou a demanda pelo dólar no Brasil, impulsionando sua valorização frente ao real.
Eduardo Nogueira, sócio da One Investimentos, destaca que os eventos geopolíticos têm impactado diretamente o apetite dos investidores por ativos de maior risco, como moedas emergentes. “A busca por ativos seguros em um momento de incerteza global tem pressionado as moedas de mercados em desenvolvimento, incluindo o real brasileiro”, explica.
Efeitos da Tensão Geopolítica nas Bolsas Internacionais
Além do câmbio, as tensões também afetaram os mercados acionários europeus, que fecharam em queda nesta terça-feira. Os investidores têm se afastado de ações e direcionado seus recursos para ativos considerados mais seguros, como o dólar e o ouro.
A movimentação reflete a preocupação com uma possível escalada militar, que pode trazer consequências severas para a economia global, já fragilizada por altas taxas de juros e desaceleração econômica em grandes economias.
Expectativas Fiscais no Brasil Aumentam Pressão
No cenário doméstico, as expectativas quanto ao pacote de cortes de gastos do governo brasileiro adicionam mais um elemento de instabilidade. Inicialmente esperado para esta semana, o anúncio pode ser adiado para a próxima, conforme apuração do Broadcast.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o plano está em fase de finalização e depende de ajustes no Ministério da Defesa. A expectativa do mercado é de que o pacote inclua medidas estruturais para reduzir o déficit fiscal, fator que pode influenciar diretamente a política monetária do Banco Central.
Eduardo Nogueira observa que o governo precisa apresentar soluções robustas para melhorar as expectativas econômicas. “O pacote de cortes de gastos é essencial para conter o avanço da inflação e estabilizar os preços dos ativos locais, contribuindo para um ambiente mais favorável ao investimento”, aponta.
Dólar em 2024: Perspectivas e Acumulado no Ano
Embora tenha registrado queda de 0,24% em novembro até o momento, o dólar acumula alta de 18,83% em relação ao real em 2024. Esse movimento reflete a combinação de fatores internos, como a incerteza fiscal, e externos, como o cenário geopolítico turbulento.
A continuidade desse cenário dependerá de diversos fatores, incluindo as decisões de política fiscal e monetária no Brasil, a trajetória das taxas de juros nos Estados Unidos e o desdobramento do conflito na Ucrânia.
Como Investidores Podem se Proteger em Momentos de Alta do Dólar
Para os investidores, a valorização do dólar pode representar oportunidades e desafios. A diversificação do portfólio é uma estratégia crucial em momentos de instabilidade. Além disso, aplicações atreladas ao dólar, como fundos cambiais e ações de empresas exportadoras, podem ajudar a mitigar riscos.
A recomendação é que investidores acompanhem de perto os desdobramentos geopolíticos e mantenham-se atentos às decisões de política econômica tanto no Brasil quanto no exterior.