Situação Crítica da WeWork no Brasil e Possíveis Desdobramentos
A WeWork, conhecida por seus escritórios compartilhados, enfrenta uma crise financeira significativa no Brasil, com várias ações de despejo movidas por fundos de investimentos. De acordo com recentes informações, os fundos Rio Bravo Renda Corporativa, HBR Realty e Vinci Offices recorreram à Justiça para reaver edifícios alugados pela WeWork devido ao não pagamento de aluguéis desde junho de 2024. Este cenário é um reflexo das dificuldades financeiras que a empresa enfrenta globalmente, o que levanta preocupações sobre sua sustentabilidade operacional.
Panorama da Crise
A situação da WeWork no Brasil se agravou nos últimos meses. A empresa, que já enfrentou problemas financeiros na matriz nos Estados Unidos, onde entrou com um pedido de recuperação judicial em maio de 2024, agora lida com ações legais no Brasil. Os fundos imobiliários Vinci Offices, Santander Renda de Aluguéis, Torre Norte, Rio Bravo Renda Corporativa e Valora Renda Imobiliária notificaram seus cotistas sobre possíveis impactos nos rendimentos devido à inadimplência da WeWork.
Despejos e Inadimplência
O período de inadimplência que levou às ações de despejo corresponde a três meses após junho, um intervalo comum para a iniciação de tais processos em muitos contratos de aluguel. A plataforma JusBrasil relatou ao menos seis tentativas de despejo contra a WeWork, além de três ações de cobrança de aluguel atrasado. Esse cenário é preocupante e indica uma possível tendência de agravamento da crise.
“O acúmulo de dívidas e a visibilidade pública dos pedidos de despejo são sinais claros de que a empresa está em dificuldades”, afirma o economista Gilberto Braga, professor do Ibmec. Ele destaca que a WeWork contratou a Alvarez e Marçal, uma consultoria especializada em falências e recuperação judicial, o que pode indicar uma estratégia para enfrentar a crise financeira.
Modelo de Negócio e Impactos da Pandemia
A WeWork é atualmente a líder em escritórios compartilhados no Brasil, com uma área ocupada de mais de 153 mil metros quadrados, superando a soma das áreas de seus quatro principais concorrentes (Regus, Cubo Coworking, VIP Office e GoWork). No entanto, a agressiva expansão da empresa e o modelo de contratos longos com aluguéis altos em localizações valorizadas acabaram se tornando uma armadilha quando a pandemia afetou drasticamente o mercado de imóveis.
Giancarlo Nicastro, CEO da Siila, observa que a WeWork entrou no mercado brasileiro em 2017 com uma abordagem agressiva e contratos de longo prazo. O mercado imobiliário enfrentou uma queda significativa durante a pandemia, tornando os contratos antigos menos vantajosos. “Os contratos feitos durante o auge do mercado não refletem as condições atuais, o que contribui para as dificuldades da empresa”, explica Nicastro.
Desafios e Adaptação
A WeWork enfrentou uma fase de crescimento acelerado antes da pandemia, o que resultou em uma grande quantidade de contratos de longo prazo. Esse modelo engessado não se adaptou bem às mudanças rápidas do mercado. Mesmo após a pandemia, a ocupação de escritórios corporativos voltou a crescer lentamente e ainda não retornou aos níveis pré-pandemia, conforme dados da Siila.
“Empresas que conseguiram adaptar seus modelos de negócios com agilidade estão se saindo melhor”, afirma Gianluca Di Mattina, analista de investimentos da Hike Capital. A falta de flexibilidade da WeWork tem sido um fator crítico em sua luta para cumprir obrigações financeiras e manter a confiança de investidores e parceiros.
Possível Recuperação Judicial no Brasil
Diante da situação financeira crítica e das ações de despejo, há uma probabilidade crescente de que a WeWork possa solicitar recuperação judicial no Brasil. Di Mattina considera essa possibilidade muito provável, dada a magnitude das dívidas da empresa, que já chegam a US$ 19 bilhões. A recuperação judicial poderia ser uma maneira de reestruturar as finanças e tentar resolver as pendências com credores.
Nicastro, CEO da Siila, também vê a recuperação judicial como uma alternativa viável, especialmente considerando que a matriz da WeWork já seguiu esse caminho nos Estados Unidos. “Apesar das dificuldades, a WeWork ainda possui inquilinos fortes e pode sair da crise com uma reestruturação adequada”, afirma.
Presença da WeWork no Brasil
Até o final de 2023, a WeWork tinha 32 unidades próprias em oito cidades brasileiras, incluindo São Paulo, Alphaville, São Bernardo do Campo, Osasco, São José dos Campos, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Além disso, com a plataforma Station, a empresa contava com aproximadamente 500 parceiros, oferecendo espaços de escritório em 120 cidades. A presença robusta da empresa no Brasil ressalta a importância do mercado brasileiro para sua operação global, mesmo em meio à crise.
A crise financeira da WeWork no Brasil, marcada por ações de despejo e inadimplência, reflete uma situação mais ampla enfrentada pela empresa em nível global. A necessidade de uma possível recuperação judicial e a luta para manter sua liderança no mercado de escritórios compartilhados são desafios significativos. A adaptação ao mercado pós-pandemia e a gestão das dívidas serão cruciais para a recuperação e sustentabilidade da WeWork.