BC avalia impacto do fiscal na curva de juros e anuncia leilões de US$ 2 bi
O papel da política fiscal na trajetória da economia brasileira
O Banco Central (BC) divulgou nesta terça-feira (23) a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). O documento trouxe como ponto central a análise sobre como a política fiscal pode influenciar diretamente a curva de juros no Brasil, afetando a percepção de sustentabilidade da dívida pública, o prêmio de risco e, por consequência, as expectativas de inflação.
O debate dentro do Copom reforçou que a coordenação entre política fiscal e política monetária é essencial para garantir a estabilidade econômica, sobretudo em um cenário de incertezas quanto às reformas e ao equilíbrio das contas públicas.
Curva de juros: conceito e relevância para a economia
A curva de juros é um dos principais indicadores do mercado financeiro. Ela representa a relação entre a taxa de juros e os prazos de vencimento dos títulos públicos emitidos pelo governo. Quando essa curva se altera, investidores e analistas passam a ajustar suas expectativas em relação ao custo da dívida e à trajetória da política monetária.
De forma simplificada, a curva indica a confiança dos agentes econômicos em relação ao futuro da economia. Se a política fiscal gera dúvidas sobre a capacidade do governo de honrar compromissos, o mercado exige prêmios mais elevados para financiar a dívida, elevando as taxas de longo prazo.
O que disse a ata do Copom
Na avaliação do Copom, a política fiscal de curto prazo pode estimular a demanda agregada, mas, ao mesmo tempo, impactar a sustentabilidade da dívida pública. Esse movimento tende a afetar o prêmio de risco e, consequentemente, a curva de juros.
O documento destacou ainda que:
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A ausência de reformas estruturais e de disciplina fiscal pode elevar a taxa de juros neutra da economia;
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A elevação do crédito direcionado amplia a incerteza sobre a estabilização da dívida;
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Um ambiente de desequilíbrio fiscal reduz a potência da política monetária, tornando mais custoso o processo de desinflação.
Em outras palavras, a curva de juros acaba funcionando como um termômetro de credibilidade. Quanto mais dúvidas sobre a política fiscal, maior a inclinação da curva, refletindo taxas de juros mais altas no longo prazo.
Inflação e política monetária
Um dos principais objetivos do Banco Central é garantir a convergência da inflação à meta. Nesse contexto, a política fiscal desempenha papel decisivo. Quando o governo adota medidas que reduzem o prêmio de risco, favorece o movimento de queda da inflação, permitindo que a política monetária atue de forma mais eficaz.
Entretanto, se a política fiscal caminha em direção oposta, o esforço do BC para controlar a inflação se torna mais caro e menos eficiente. Essa situação pode obrigar a autoridade monetária a manter juros elevados por mais tempo, o que afeta diretamente o crédito, os investimentos e o crescimento econômico.
Harmonização entre política fiscal e monetária
A ata reforçou a convicção do Comitê de que as políticas públicas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas. Isso significa que, em momentos de expansão econômica, o governo deve conter gastos, preservando espaço para atuar em períodos de desaceleração.
A falta de previsibilidade na política fiscal pode gerar distorções na curva de juros, aumentando a incerteza e reduzindo a confiança dos investidores. A mensagem do Copom foi clara: é preciso alinhar o discurso político com medidas concretas que assegurem a sustentabilidade da dívida.
BC anuncia leilões de US$ 2 bilhões
Além da divulgação da ata, o Banco Central anunciou que realizará dois leilões de linha na quarta-feira (24), no valor de até US$ 2 bilhões. Essas operações consistem na venda de dólares com compromisso de recompra futura, instrumento utilizado pela autoridade monetária para oferecer liquidez ao mercado de câmbio e suavizar oscilações.
Detalhes das operações:
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Data de acolhimento das propostas: 24 de setembro, entre 10h30 e 10h35;
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Liquidação da venda: 2 de outubro de 2025;
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Datas de recompra: 3 de fevereiro de 2026 e 3 de março de 2026.
Essas medidas visam garantir estabilidade cambial e sinalizar ao mercado o compromisso do BC em conter volatilidades, especialmente em momentos de incertezas externas ou pressões sobre o real.
O impacto dos leilões na curva de juros
Embora sejam operações voltadas ao câmbio, os leilões do BC podem ter reflexos indiretos na curva de juros. Ao oferecer dólares ao mercado, a autoridade monetária reduz pressões sobre a taxa de câmbio, o que contribui para o controle da inflação via preços de importados.
Esse movimento ajuda a ancorar expectativas e, consequentemente, pode reduzir a necessidade de juros mais elevados. Na prática, ações no mercado de câmbio e sinalizações claras de disciplina fiscal caminham juntas para construir um ambiente mais favorável à queda sustentável da inflação.
O desafio da sustentabilidade da dívida
A ata do Copom também reforçou que a estabilização da dívida pública é um ponto crucial para manter a curva de juros sob controle. O aumento do endividamento exige prêmios mais altos por parte dos investidores, elevando o custo do financiamento do governo.
Se não houver medidas consistentes de ajuste fiscal, a tendência é que a curva permaneça pressionada, mesmo que a política monetária atue de forma rigorosa. Esse é um dos principais dilemas atuais: equilibrar crescimento econômico, responsabilidade fiscal e controle da inflação.
Expectativas do mercado
Economistas avaliam que a curva de juros deve permanecer sensível a qualquer sinal de enfraquecimento no compromisso fiscal. Notícias relacionadas a aumento de gastos públicos ou adiamento de reformas podem impactar diretamente os vértices mais longos da curva.
Por outro lado, avanços em medidas de ajuste, cortes de despesas e reformas estruturais tendem a reduzir a inclinação da curva, criando um ambiente mais estável para investimentos.
A divulgação da ata do Copom e o anúncio dos leilões de US$ 2 bilhões reforçam o papel do Banco Central como agente central na coordenação das expectativas econômicas. O impacto da política fiscal na curva de juros segue como um dos principais pontos de atenção para investidores, analistas e formuladores de políticas públicas.
A harmonização entre fiscal e monetária será decisiva não apenas para o controle da inflação, mas também para garantir crescimento econômico sustentável nos próximos anos.






