Em um cenário econômico desafiador, o governo central brasileiro registrou um déficit primário de R$ 22,404 bilhões em agosto de 2024. Este valor, embora ainda negativo, representa uma leve melhora em comparação ao saldo negativo de R$ 26,730 bilhões no mesmo mês do ano passado, conforme revelado pelo Tesouro Nacional nesta quinta-feira, 3 de outubro. Esta matéria irá explorar os principais fatores que influenciam esse resultado, as projeções futuras e as implicações para a economia brasileira.
Quadro Geral do Déficit Primário
O déficit primário é um indicador crucial para avaliar a saúde fiscal de um governo, uma vez que exclui o pagamento de juros da dívida pública e reflete a capacidade do governo de cobrir suas despesas com receitas correntes. No caso do Brasil, o déficit de agosto está alinhado com as expectativas do mercado, que previa um saldo negativo similar de R$ 22,4 bilhões, segundo pesquisa da Reuters.
Receitas e Despesas: O Que Dizem os Números?
Os dados do Tesouro Nacional revelam uma alta de 6,2% na receita líquida do governo, em termos reais (ou seja, ajustados pela inflação), totalizando R$ 148,934 bilhões. Este crescimento é impulsionado principalmente por um aumento de 12,6% na arrecadação de tributos administrados pela Receita Federal. Entre os tributos que se destacaram estão o Imposto de Renda, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a Cofins.
No entanto, não podemos ignorar a queda real de 2,8% nas receitas não administradas pela Receita, que foi puxada por uma redução em dividendos e participações. Essa dinâmica revela um panorama misto, onde, apesar do crescimento na arrecadação tributária, outros fatores de receita enfrentam dificuldades.
Por outro lado, as despesas do governo apresentaram um aumento real de 2,0%, somando R$ 171,338 bilhões. Os principais responsáveis por esse crescimento foram os gastos com benefícios previdenciários e abono salarial. Essa elevação deve-se a uma mudança no calendário de pagamentos, que distorceu a base de comparação.
Acumulado do Ano: Projeções e Expectativas
No acumulado dos primeiros oito meses de 2024, o déficit primário totalizou R$ 99,997 bilhões, apresentando uma redução de 9,1% em relação ao mesmo período de 2023. A análise dos dados mostra que, em um período de 12 meses, o déficit do governo central alcançou R$ 227,5 bilhões, correspondendo a 1,98% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Expectativas para o Futuro
Em setembro, a equipe econômica do governo projetou um déficit primário de R$ 28,3 bilhões para o fechamento do ano de 2024. Este valor está próximo do limite inferior da meta de déficit primário zero estabelecida pelo governo, que admite uma banda de tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB, cerca de R$ 29 bilhões.
Vale ressaltar que este resultado inclui aproximadamente R$ 12 bilhões em despesas realizadas através de créditos extraordinários, que não são contabilizados para a meta fiscal. Essas despesas estão principalmente relacionadas aos gastos decorrentes das enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul.
Preocupações com Despesas em Aumento
Durante a coletiva de imprensa, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, expressou preocupação com o crescimento das despesas relacionadas ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), que teve um aumento de 16,6% em comparação ao ano anterior, totalizando R$ 73,2 bilhões. Esse crescimento rápido exige atenção, pois pode impactar significativamente as contas públicas.
A Necessidade de Monitoramento e Ajustes Fiscais
Os dados de agosto, normalmente divulgados na última semana de setembro, foram apresentados com atraso devido à mobilização de servidores do Tesouro em busca de melhores condições salariais. Essa situação evidencia a complexidade do ambiente fiscal brasileiro e a necessidade de ajustes contínuos nas políticas econômicas.
Com um cenário de receitas crescendo e despesas também em alta, o governo brasileiro terá que encontrar um equilíbrio para atender às suas metas fiscais e garantir a sustentabilidade das contas públicas. As estratégias a serem adotadas nos próximos meses serão cruciais para evitar um aprofundamento do déficit e garantir uma recuperação econômica sólida.