Economia Brasileira Enfrenta Desafios com Juros Altos, mas Alternativas Amortecem Impacto no PIB
A economia brasileira, apesar do cenário de juros altos, apresenta algumas estratégias que podem amortecer os impactos mais severos sobre o Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com uma análise do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, há fatores que devem mitigar uma desaceleração econômica muito intensa nos próximos trimestres. Entre esses fatores, destacam-se a expectativa de uma safra agrícola robusta e a poupança acumulada pelas famílias em 2024.
Safra de Grãos: Um Colchão Econômico Importante
Uma das principais apostas do relatório do Bradesco para sustentar a economia em 2025 é a alta significativa esperada na safra de grãos. O agronegócio desempenha um papel crucial na economia brasileira, e uma boa safra não apenas contribui diretamente para o PIB agrícola, mas também fortalece toda a cadeia de produção e distribuição, além de alavancar as exportações. Com isso, parte dos efeitos negativos causados pelos juros altos poderá ser mitigada por uma safra recorde.
O Brasil, um dos maiores produtores mundiais de soja e milho, está otimista quanto à produtividade em 2025, o que se reflete nas expectativas de instituições financeiras como o Bradesco. O crescimento da safra pode gerar divisas, aquecer o mercado interno e melhorar a balança comercial, contribuindo para uma amortização dos efeitos do aperto monetário.
Poupança Acumulada: Fonte de Alívio para o Consumo
Outro fator que poderá atuar como uma barreira contra uma desaceleração brusca do PIB é a poupança acumulada pelas famílias brasileiras ao longo de 2024. Durante períodos de incerteza econômica, as famílias tendem a poupar mais, criando uma reserva financeira que pode ser utilizada para sustentar o consumo, mesmo diante de juros altos.
O relatório do economista Marcelo Gazzano, do Bradesco, observa que essa poupança acumulada funcionará como um amortecedor, permitindo que o consumo das famílias se mantenha estável ou tenha uma desaceleração menos acentuada. Com juros altos, o custo do crédito aumenta, o que naturalmente inibe o consumo financiado. Entretanto, as reservas poupadas podem compensar essa retração, permitindo que o consumo à vista continue a ocorrer em patamares mais elevados.
Valorização do Salário Mínimo: Benefício para Trabalhadores
Um terceiro fator destacado pelo Bradesco é a política de valorização do salário mínimo acima da inflação. Em 2024, a expectativa é de que o salário mínimo tenha um ganho real, o que beneficiará milhões de trabalhadores e beneficiários de programas de transferência de renda. Isso significa que, mesmo em um cenário de juros altos, parte da população terá um aumento de renda real, o que pode impulsionar o consumo e amenizar os impactos negativos do aperto monetário sobre a economia.
A valorização do salário mínimo é particularmente importante em um país onde o consumo das famílias responde por uma parcela significativa do PIB. Ao garantir que o poder de compra da população mais vulnerável se mantenha, o governo contribui para a estabilidade da demanda agregada, mesmo em tempos de juros altos.
Aperto Monetário: Selic em Território Restritivo
Apesar dos fatores de mitigação citados pelo Bradesco, o aperto monetário promovido pelo Banco Central é visto como inevitável. O cenário projetado pelo banco inclui uma taxa Selic em torno de 12,25% no início de 2025, após o ciclo de ajustes promovido pelo Comitê de Política Monetária (Copom). O relatório destaca que, historicamente, juros altos têm como consequência direta a desaceleração da economia, com impacto negativo sobre o crescimento do PIB.
O modelo de projeção de inflação utilizado pelo Banco Central aponta para uma necessidade de Selic próxima de 13,5% para manter a inflação dentro da meta. No entanto, considerando fatores como a valorização cambial e uma possível acomodação das expectativas inflacionárias, o Bradesco trabalha com a perspectiva de uma taxa de juros cerca de 1 ponto percentual menor.
A Selic em patamares elevados tem como objetivo principal controlar a inflação, mas seu impacto sobre o crédito e o consumo é significativo. Juros altos encarecem o crédito para empresas e consumidores, o que reduz os investimentos e as compras a prazo, freando o crescimento econômico. Isso é especialmente relevante em momentos de recuperação econômica ou quando o país já enfrenta desafios estruturais, como altas taxas de desemprego e baixa produtividade.
Comparações com Ciclos Anteriores de Aperto Monetário
O relatório do Bradesco também compara o atual ciclo de aperto monetário com episódios anteriores. Em todos os momentos em que o Banco Central elevou os juros, a economia brasileira sofreu uma desaceleração no crescimento. Contudo, o banco pontua que a atual fase começa com a Selic já em território restritivo, ou seja, em níveis altos o suficiente para conter o crescimento econômico.
Se a Selic atingir os 12,25% previstos no início de 2025, o Brasil terminará o ciclo com uma das maiores taxas de juros reais em comparação com outros momentos de aperto monetário. Isso indica que, apesar dos fatores de amortecimento citados, o impacto sobre o PIB será significativo.
Expectativa para o PIB em 2025
Embora o Bradesco não tenha fornecido uma estimativa precisa para o crescimento do PIB em 2025, o relatório sugere que a combinação de juros altos, safra agrícola robusta, poupança acumulada e valorização do salário mínimo resultará em um desempenho moderado da economia. A desaceleração será inevitável, mas não tão acentuada quanto poderia ser em um cenário sem esses colchões econômicos.
Além disso, a apreciação cambial, que o banco espera para os próximos meses, pode ajudar a controlar a inflação, aliviando a necessidade de manter a Selic em níveis ainda mais elevados. Com uma moeda mais forte, o Brasil pode reduzir os custos de importação, o que ajudaria a conter a alta de preços, especialmente em produtos importados ou com insumos do exterior.
Desafios e Esperança para a Economia Brasileira
O Brasil entra em 2025 com desafios econômicos significativos, principalmente devido à política de juros altos adotada para controlar a inflação. No entanto, o país conta com alguns fatores que podem amortecer os impactos mais severos sobre o PIB, como a safra agrícola promissora, a poupança das famílias e a valorização do salário mínimo.
Esses “colchões” econômicos serão essenciais para evitar uma desaceleração muito intensa da economia nos próximos trimestres. Ainda assim, o cenário exige cautela, e a expectativa é de que o aperto monetário gere efeitos negativos sobre o consumo e o investimento.
A capacidade do governo e do Banco Central de equilibrar o controle da inflação com medidas que incentivem o crescimento econômico será determinante para o desempenho do PIB em 2025. O Brasil tem experiência em lidar com ciclos de aperto monetário, mas o contexto atual, com juros já em território restritivo, apresenta novos desafios que exigem uma abordagem cuidadosa e estratégica.