O mercado financeiro começa a semana com alta expectativa em torno da Superquarta, marcada para o dia 18 de setembro de 2024, quando os bancos centrais dos Estados Unidos e do Brasil divulgarão suas novas decisões sobre as taxas de juros. O evento tem potencial para causar impactos significativos tanto no mercado de câmbio quanto na bolsa de valores, com os investidores aguardando pistas sobre os rumos da economia global e nacional.
Na última sexta-feira, o dólar fechou com uma queda expressiva de 0,92%, cotado a R$ 5,5672, enquanto o principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, encerrou o dia com um avanço de 0,64%, atingindo 134.882 pontos. O comportamento de ambos os mercados reflete a incerteza sobre as decisões de política monetária a serem tomadas tanto pelo Federal Reserve (Fed) quanto pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Brasil.
O que esperar da Superquarta de 2024?
A Superquarta é um evento importante para o mercado financeiro global, uma vez que, em um mesmo dia, são anunciadas as decisões das reuniões de política monetária dos dois principais bancos centrais. Neste ano, a atenção está especialmente voltada para o Fed, que pode iniciar um ciclo de cortes na taxa de juros dos Estados Unidos, enquanto o Copom deve seguir na direção oposta, com uma possível elevação da taxa Selic no Brasil.
A expectativa de corte de juros pelo Fed, a primeira desde 2020, vem ganhando força à medida que os dados econômicos apontam para uma desaceleração moderada da economia norte-americana. A queda da inflação nos Estados Unidos, combinada com sinais de menor crescimento econômico, sustenta a visão de que o banco central norte-americano pode optar por começar a reduzir sua taxa de juros, que atualmente está em um dos patamares mais elevados dos últimos anos.
No Brasil, por outro lado, os economistas estão divididos quanto ao que esperar da decisão do Copom. A inflação no país permanece próxima ao teto da meta estabelecida pelo Banco Central (BC), o que, aliado ao aumento dos gastos públicos e à recuperação econômica, pode levar a uma nova elevação da taxa Selic, que já se encontra em 10,50% ao ano.
Como o mercado reagiu na última semana?
Na sexta-feira, o dólar acumulou uma queda de 0,41% na semana, fechando o dia cotado a R$ 5,5672, e registrou uma perda de 1,16% no acumulado do mês. Apesar dessa desvalorização recente, a moeda norte-americana ainda acumula um avanço de 14,73% no ano. Já o Ibovespa, após um bom desempenho na semana, com uma alta de 0,23%, ainda registra uma leve queda de 0,83% no mês, mas apresenta ganhos de 0,52% no acumulado do ano.
A queda do dólar reflete, em parte, a expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos, o que tende a enfraquecer a moeda norte-americana em relação a outras divisas. Além disso, os recentes dados econômicos do Brasil, como o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que registrou uma contração de 0,4% em julho, e a queda de 0,02% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), contribuíram para reduzir a pressão inflacionária interna, o que favoreceu a valorização do real.
Impacto das decisões de juros nos mercados
A possível redução da taxa de juros pelo Fed pode ter um impacto significativo no mercado global, influenciando o fluxo de capitais para mercados emergentes, como o Brasil. Quando os juros nos Estados Unidos caem, os investidores tendem a buscar oportunidades de maior retorno em países com taxas mais altas, o que pode resultar em uma valorização das moedas locais e dos ativos de risco.
Por outro lado, a alta da Selic no Brasil pode encarecer o custo do crédito para empresas e consumidores, desacelerando o crescimento econômico. Juros mais altos tendem a reduzir o consumo e o investimento, o que pode afetar negativamente a performance das empresas listadas na bolsa de valores. No entanto, a elevação da Selic também pode ajudar a controlar a inflação e atrair investidores estrangeiros, interessados em taxas de retorno mais elevadas.
Expectativas para a economia brasileira
No Brasil, a divulgação do IBC-Br, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), reforçou a percepção de que a economia está em desaceleração moderada. Apesar da queda de 0,4% registrada em julho, o indicador ainda acumula alta de 2,6% no ano e 2,0% em 12 meses. Outros dados recentes, como o crescimento de 4,4% nas vendas do varejo e a alta de 1,2% no setor de serviços, também mostram sinais positivos de recuperação, especialmente em relação aos níveis pré-pandemia.
No entanto, a inflação continua a ser um ponto de preocupação. Apesar da deflação de 0,02% no IPCA de agosto, a inflação anual ainda está em 4,24%, perto do teto da meta do Banco Central, que é de 4,50% para este ano. Além disso, o aumento dos gastos públicos e a persistente incerteza sobre as reformas econômicas podem continuar pressionando os preços e afetando o comportamento do BC.
O cenário global e o comportamento do Fed
No cenário internacional, além da decisão do Fed, os investidores estão de olho nas reuniões de outros bancos centrais importantes, como o Banco da Inglaterra (BoE), o Banco do Japão (BoJ) e o Banco Central da China. Todos esses países enfrentam desafios únicos, com diferentes pressões inflacionárias e níveis de crescimento, o que torna incerto o comportamento futuro de suas políticas monetárias.
Nos Estados Unidos, a expectativa de corte de juros pelo Fed decorre principalmente da desaceleração da inflação, que se distanciou significativamente dos picos observados em 2022. Com isso, o banco central norte-americano tem mais margem para reduzir os juros sem comprometer sua meta de controle de preços. No entanto, o Fed também deve considerar o impacto de suas decisões no mercado de trabalho, que ainda se mostra robusto, e no crescimento econômico.
A Superquarta de 2024 promete ser um divisor de águas para os mercados globais e brasileiros, com as decisões de juros do Fed e do Copom definindo o rumo da economia no curto prazo. Enquanto nos Estados Unidos a expectativa é de uma redução das taxas de juros, no Brasil o cenário aponta para uma nova alta da Selic, em meio a pressões inflacionárias e preocupação com o crescimento econômico.
O comportamento do dólar e do Ibovespa ao longo da semana será fortemente influenciado por essas decisões, que podem redefinir o cenário para investidores e empresas. À medida que os mercados absorvem os novos dados econômicos e as expectativas sobre as reuniões de política monetária, os investidores continuarão monitorando de perto os desdobramentos no Brasil e no exterior.