Nesta segunda-feira, 23 de setembro de 2024, o dólar voltou a subir, atingindo uma leve alta no fechamento, enquanto o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, caiu pela quinta sessão consecutiva. Os movimentos no mercado financeiro refletem as incertezas sobre a capacidade do governo Lula em equilibrar as contas públicas, além de um cenário econômico global que gera desconfiança entre investidores. Apesar de a divisa americana ter registrado ganhos modestos, a deterioração da percepção fiscal no Brasil tem se mostrado um fator decisivo para o desempenho dos ativos locais.
Dólar à vista e futuro: alta com cenário de incerteza fiscal
Após tocar brevemente a marca de R$ 5,60 pela manhã, o dólar desacelerou ao longo do dia, mas encerrou a segunda-feira em alta de 0,26%, sendo cotado a R$ 5,5352. Esse movimento ocorre em meio a dúvidas crescentes no mercado sobre a capacidade do governo de atingir suas metas fiscais, tema que tem gerado grande apreensão entre os investidores.
O contrato de dólar futuro com primeiro vencimento, negociado na B3, também refletiu esse ambiente de incerteza, subindo 0,28% e sendo negociado a R$ 5,5390 às 17h03. A continuidade dessas altas no dólar é vista como um reflexo direto das preocupações sobre o quadro fiscal do país, que se agravaram nos últimos dias diante dos anúncios sobre ajustes nos gastos do governo.
Apesar das recentes valorizações, o dólar acumula uma queda de 1,79% em setembro. Isso indica que, embora a divisa norte-americana tenha passado por uma trajetória de baixa ao longo do mês, os últimos eventos fiscais internos do Brasil têm revertido parte desse movimento de desvalorização. Ainda assim, o cenário é volátil, e novas oscilações podem ser esperadas à medida que se aproximam decisões importantes sobre o controle fiscal e as contas públicas.
Ibovespa: queda persistente e a percepção de deterioração fiscal
O Ibovespa, índice que serve de referência para o mercado acionário brasileiro, caiu 0,3% nesta segunda-feira, fechando o dia com 130.676,19 pontos, de acordo com dados preliminares. Essa foi a quinta sessão consecutiva de queda do índice, evidenciando a deterioração da percepção dos investidores em relação ao cenário econômico e fiscal do país. Durante o dia, o Ibovespa oscilou entre uma mínima de 130.099,62 pontos e uma máxima de 131.065,44 pontos, demonstrando a volatilidade que tem caracterizado o mercado nas últimas semanas.
O volume financeiro negociado na bolsa foi de 17,7 bilhões de reais, ainda sem os ajustes finais. Esse nível de negociação é um indicativo de que, apesar do cenário desafiador, o mercado continua ativo, mas com cautela diante das incertezas internas e externas.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, as bolsas apresentaram um viés positivo ao longo do dia, impulsionadas por expectativas de desaceleração no ritmo de aumento das taxas de juros pelo Federal Reserve. No entanto, os bons ventos vindos do exterior não foram suficientes para mitigar o impacto das preocupações internas no Brasil, principalmente no que se refere à responsabilidade fiscal do governo.
Metas fiscais e a confiança do mercado: desafios para o governo Lula
Um dos principais pontos de atenção para os investidores tem sido a capacidade do governo de cumprir as metas fiscais estabelecidas para o ano. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, demonstrou confiança de que o governo alcançará o objetivo de zerar o déficit fiscal até o fim de 2024. No entanto, o mercado permanece cético quanto a essa possibilidade, considerando os desafios enfrentados pela administração Lula na contenção de despesas e no aumento das receitas.
O cenário fiscal do Brasil está sob constante avaliação, e os ajustes propostos pelo governo para controlar os gastos públicos são vistos como fundamentais para restaurar a confiança dos investidores. A percepção atual, no entanto, é de que os avanços têm sido insuficientes, o que pressiona tanto o mercado de câmbio quanto o de ações.
Além disso, a falta de clareza sobre como essas metas serão alcançadas, em um ambiente de crescimento econômico modesto e incertezas políticas, contribui para a volatilidade dos mercados. Para o governo, garantir a estabilidade fiscal não é apenas uma questão de política econômica, mas também um teste de credibilidade diante dos agentes do mercado.
Impactos do dólar e do Ibovespa na economia real
A alta do dólar e a queda do Ibovespa podem trazer consequências para diversos setores da economia brasileira. A valorização da moeda americana, por exemplo, tende a pressionar os custos de empresas que dependem de insumos importados, além de encarecer o preço de produtos vindos do exterior para o consumidor final. Isso pode alimentar a inflação em alguns setores, prejudicando a retomada econômica.
Ao mesmo tempo, a queda do Ibovespa reflete uma percepção de maior risco no mercado brasileiro, o que pode desestimular novos investimentos. Em um momento em que o Brasil busca atrair capital estrangeiro e fortalecer sua posição econômica global, essa falta de confiança pode ter efeitos de longo prazo, impactando desde a criação de empregos até o crescimento do PIB.
Por outro lado, alguns setores exportadores podem se beneficiar da alta do dólar, já que os produtos brasileiros ficam mais competitivos no mercado internacional. O agronegócio e a indústria de commodities, por exemplo, podem encontrar oportunidades de ganho em um ambiente de dólar elevado, embora isso não compense totalmente os efeitos negativos para o conjunto da economia.
Perspectivas para o futuro: o que esperar nos próximos meses
A trajetória do dólar e do Ibovespa nos próximos meses dependerá de uma combinação de fatores internos e externos. No cenário doméstico, o foco estará nas medidas fiscais que o governo adotará para cumprir suas metas e restaurar a confiança dos investidores. Quanto mais claras e consistentes forem as ações nessa área, maior será a chance de que o mercado se estabilize, com o dólar voltando a um patamar mais controlado e o Ibovespa recuperando suas perdas.
Externamente, o comportamento da economia global, especialmente a política monetária dos Estados Unidos, também terá um papel crucial. Qualquer sinal de mudanças nas taxas de juros do Federal Reserve pode influenciar diretamente os mercados emergentes, como o Brasil, afetando tanto a cotação do dólar quanto o desempenho da bolsa.
Para os investidores, o momento é de cautela, e muitos devem adotar uma postura de observação antes de tomar novas decisões de compra ou venda de ativos. A volatilidade deve continuar presente nos mercados, pelo menos até que haja uma maior clareza sobre os rumos das contas públicas e sobre o comportamento da economia internacional.