O mercado financeiro global apresentou fortes oscilações nesta quinta-feira (10), com investidores atentos aos novos dados econômicos e à escalada dos conflitos no Oriente Médio. O dólar abriu o dia em leve baixa, após uma sequência de altas, enquanto a bolsa brasileira, o Ibovespa, continua a enfrentar dificuldades em meio à instabilidade global. As tensões geopolíticas e os indicadores de inflação nos Estados Unidos permanecem como os principais fatores de influência no mercado.
Dólar em queda e expectativas globais
Às 9h da manhã desta quinta-feira, o dólar recuava 0,05%, sendo negociado a R$ 5,5849, após ter registrado uma alta de 1% no dia anterior, quando fechou cotado a R$ 5,5875. Essa queda leve, porém significativa, reflete a espera dos investidores por novos dados sobre a inflação nos Estados Unidos, que serão divulgados nas próximas horas. A moeda norte-americana acumula ganhos de 2,42% na semana e 2,58% no mês, com um aumento expressivo de 15,15% no acumulado do ano.
O mercado está sensível à política monetária norte-americana, pois a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) nos Estados Unidos poderá fornecer sinais mais claros sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed) em relação à taxa de juros. Atualmente, a taxa de juros nos EUA está entre 4,75% e 5%, e qualquer mudança pode impactar diretamente o comportamento dos ativos globais, incluindo moedas emergentes, como o real brasileiro.
Ibovespa segue em queda apesar de bom desempenho mensal
Por outro lado, o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, enfrentou mais um dia de desvalorização. No pregão anterior, o índice encerrou em queda de 1,85%, aos 129.962 pontos, refletindo as incertezas internas e externas. Na semana, o índice acumula queda de 0,21%, enquanto no mês o recuo é de 0,23%. No acumulado do ano, o Ibovespa já perdeu 1,99%.
Um dos principais fatores que influenciam o Ibovespa é a percepção de risco global, agravada pelos conflitos no Oriente Médio e pela expectativa de novas medidas econômicas na China, que decepcionaram os investidores. Além disso, o mercado continua atento à trajetória da inflação no Brasil, impulsionada pela alta nos preços de alimentos e energia elétrica.
Inflação no Brasil: Alimentos e energia pressionam o IPCA
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou recentemente o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que registrou uma aceleração inflacionária no Brasil. A inflação no mês foi impactada principalmente pelos preços de alimentos e da energia elétrica, que subiram devido à estiagem prolongada no país. O aumento da conta de luz, provocado pela alteração da bandeira tarifária, foi um dos maiores vilões, registrando alta de 5,36%.
Os alimentos também sofreram alta, com destaque para o limão, que subiu 30,41%, o mamão (10,34%) e a tangerina (10,27%). Além disso, o preço das carnes, uma das principais preocupações dos brasileiros, teve um aumento de 2,97%, a maior alta desde dezembro de 2020. Segundo o economista André Almeida, do IBGE, a seca prolongada, que afeta pastagens e plantações, contribuiu diretamente para o aumento nos preços das carnes e de outros alimentos.
Previsão para a inflação no fim do ano aumenta
Diante desse cenário, o mercado projeta uma inflação mais alta para o final de 2024. O grupo “Alimentação no domicílio” tem sido especialmente impactado, e os economistas esperam que esse segmento continue pressionando o índice inflacionário. De acordo com Luis Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners, o preço das carnes no atacado já subiu mais de 6%, o que terá um impacto significativo no IPCA.
Essa alta levou a uma revisão das previsões de inflação. A G5 Partners elevou sua projeção para o IPCA de 4,40% para 4,60% até o final do ano, com viés de alta, considerando os desafios econômicos globais e as dificuldades enfrentadas pela economia brasileira.
Juros e política monetária no Brasil
No cenário interno, a inflação elevada e a alta do dólar pressionam o Banco Central do Brasil a continuar elevando a taxa Selic. Atualmente, a Selic está em 10,75% ao ano, e os economistas esperam novas elevações nos próximos meses para conter as pressões inflacionárias.
Segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, o crescimento robusto da economia brasileira, aliado à inflação elevada, dificulta uma desaceleração mais rápida do aumento de juros. Sung alerta que, com o câmbio acima de R$ 5,50 e a inflação projetada para ficar acima da meta, o Banco Central deverá manter sua política monetária restritiva para evitar que a inflação saia do controle.
Cenário internacional: Expectativas para os juros nos EUA e tensões no Oriente Médio
No cenário internacional, as atenções estão voltadas para os Estados Unidos, onde o Federal Reserve (Fed) enfrenta o desafio de equilibrar a política monetária em meio a uma economia que cresce de forma robusta, mas com sinais de inflação persistente. A divulgação da ata da última reunião do Fed mostrou que a maioria das autoridades monetárias norte-americanas apoia o início da flexibilização monetária, mas o ritmo dessa flexibilização ainda é incerto.
O mercado de trabalho dos EUA continua sendo um ponto de atenção. Embora o Fed tenha reduzido o ritmo de cortes de juros, os aumentos na taxa de desemprego e os dados fracos de emprego e inflação observados nos últimos meses mantêm a instituição em alerta.
Além dos Estados Unidos, os investidores estão atentos à escalada dos conflitos no Oriente Médio. Israel e o grupo extremista Hezbollah, no Líbano, têm protagonizado confrontos violentos nas últimas semanas, com ataques aéreos e bombardeios em várias regiões. A situação é preocupante, pois afeta não apenas a estabilidade política da região, mas também o mercado global de petróleo, que já sofre com a volatilidade dos preços.
Conclusão: Perspectivas para os próximos dias
O cenário atual dos mercados globais é marcado por incertezas. O dólar, que iniciou o dia em leve baixa, pode voltar a subir dependendo dos dados de inflação dos EUA que serão divulgados em breve. Já o Ibovespa, pressionado por fatores internos e externos, terá dificuldades em retomar a trajetória de alta no curto prazo.
Enquanto isso, no Brasil, os desafios relacionados à inflação e à alta dos juros continuam a impactar o mercado financeiro, exigindo cautela dos investidores. A seca prolongada e o aumento dos preços de alimentos e energia elétrica devem continuar pressionando o IPCA, tornando ainda mais desafiadora a condução da política monetária pelo Banco Central.