Aluguel acima da inflação: preços de locação voltam a acelerar segundo índice FipeZAP
O mercado imobiliário brasileiro volta a chamar atenção dos analistas. De acordo com o índice FipeZAP, os valores do aluguel acima da inflação registraram novo avanço em agosto de 2025, interrompendo a tendência de desaceleração observada nos meses anteriores. Esse resultado reforça a pressão sobre famílias que vivem de aluguel e amplia os debates sobre o equilíbrio entre oferta e demanda no setor de habitação.
O desempenho do aluguel em agosto
O levantamento da FipeZAP apontou que os preços médios de locação residencial subiram 0,66% em agosto, superando as variações de maio (+0,59%), junho (+0,51%) e julho (+0,45%). Ou seja, após meses de desaceleração, o movimento de alta voltou a se intensificar.
Entre os imóveis avaliados, as unidades de três dormitórios puxaram a alta com aumento de 0,87%, enquanto os de dois dormitórios registraram avanço mais modesto, de 0,54%.
Essa performance mostra que famílias maiores, que necessitam de imóveis mais amplos, estão sendo mais impactadas pelo reajuste.
Comparação com os principais índices de preços
Outro ponto relevante é que o índice de aluguel acima da inflação superou os principais indicadores de referência da economia brasileira:
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IPCA/IBGE: registrou deflação de -0,11% no período;
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IGP-M/FGV: tradicional indexador dos contratos de aluguel, teve alta de +0,36%.
Ou seja, enquanto a inflação oficial recuava e o IGP-M se mantinha relativamente controlado, o custo de morar de aluguel avançava de maneira mais expressiva.
No acumulado do ano até agosto, a alta no preço médio dos aluguéis foi de 6,83%, contra variação de +3,15% do IPCA e queda de -1,35% do IGP-M.
Por que o aluguel sobe acima da inflação?
A trajetória do aluguel acima da inflação pode ser explicada por uma combinação de fatores estruturais e conjunturais:
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Demanda aquecida: após a pandemia, muitas famílias optaram por locação em vez de compra, diante dos juros elevados para financiamentos imobiliários.
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Oferta restrita: em grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro, a escassez de imóveis bem localizados pressiona os preços.
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Expansão do aluguel por temporada: a popularidade de plataformas de hospedagem digital reduz a disponibilidade de imóveis para moradia de longo prazo.
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Indexadores descolados: embora muitos contratos sejam reajustados pelo IPCA, a dinâmica do mercado acaba se impondo, refletindo aumentos maiores.
Impactos sociais do aluguel em alta
O crescimento do aluguel acima da inflação tem efeitos diretos no orçamento das famílias. Segundo especialistas, o peso da moradia pode comprometer até 40% da renda mensal dos inquilinos, especialmente em regiões metropolitanas.
Essa realidade pressiona o consumo em outros setores e pode agravar desigualdades, já que famílias de baixa renda ficam mais vulneráveis à instabilidade de preços.
Além disso, trabalhadores que precisam morar perto dos centros empresariais e de serviços acabam sacrificando qualidade de vida ou destinando parte significativa da renda ao pagamento do aluguel.
Aluguel e investimento imobiliário
Se, por um lado, o aumento dos preços preocupa inquilinos, por outro, reforça o atrativo do mercado imobiliário para investidores.
Com a alta consistente do aluguel acima da inflação, fundos imobiliários focados em renda residencial ganham destaque, enquanto proprietários enxergam maior rentabilidade em imóveis para locação.
Essa movimentação atrai capital privado e pode estimular novos lançamentos, mas ainda de forma concentrada em segmentos de médio e alto padrão, deixando lacunas no atendimento habitacional popular.
Expectativas para os próximos meses
O comportamento do aluguel acima da inflação dependerá de três fatores principais:
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Política monetária: se o Banco Central mantiver a Selic elevada, os financiamentos seguirão caros, sustentando a demanda por locação.
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Oferta imobiliária: novos empreendimentos podem aliviar a pressão nos grandes centros, mas ainda de forma lenta.
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Dinâmica econômica: uma melhora no emprego e na renda pode tornar mais sustentável o pagamento dos valores atuais, mas também manter a demanda aquecida.
Especialistas projetam que a alta dos aluguéis deve se manter acima da inflação pelo menos até o final de 2025, ainda que em ritmo mais moderado.
Reflexão sobre o futuro da moradia
O aumento do aluguel acima da inflação levanta a necessidade de políticas públicas mais eficazes para garantir acesso à moradia digna. Programas de habitação social, incentivos à construção em regiões de demanda reprimida e maior regulação sobre o aluguel por temporada são pontos discutidos por urbanistas e economistas.
Ao mesmo tempo, cresce o debate sobre a criação de instrumentos que permitam maior equilíbrio entre os interesses de inquilinos e proprietários, de modo a reduzir os impactos sociais da escalada nos preços.
O índice FipeZAP de agosto confirma que o aluguel acima da inflação é uma realidade persistente no Brasil em 2025. A retomada da alta reforça os desafios para famílias que dependem da locação e, ao mesmo tempo, alimenta a atratividade do setor imobiliário para investidores.
Com impactos que vão da vida doméstica ao mercado financeiro, a evolução dos preços dos aluguéis seguirá como um dos principais termômetros da economia brasileira até o fim do ano.






