Esta terça, 17 de setembro de 2024, será marcada por novas movimentações no mercado financeiro, às vésperas da aguardada “Superquarta”. Esse dia especial ocorre quando as principais reuniões dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos coincidem, e as expectativas para as decisões de política monetária dominam as atenções dos investidores.
O dólar, que na segunda-feira havia fechado com uma queda de 1,03%, cotado a R$ 5,5100, seguia em trajetória de baixa, operando com uma queda adicional de 0,23% no início da sessão, cotado a R$ 5,4975. No mercado de ações, o Ibovespa, principal índice da B3, também mostrava recuo de 0,09%, aos 134.997 pontos, refletindo o nervosismo pré-“Superquarta.
O que esperar da “Superquarta”
A “Superquarta” é um evento crucial para o mercado financeiro, pois nela são definidas as taxas de juros de dois dos maiores bancos centrais do mundo: o Federal Reserve (Fed), nos Estados Unidos, e o Banco Central do Brasil (BC). A expectativa é de que ambas as decisões tenham impactos significativos tanto nos mercados cambial e de ações quanto nas expectativas econômicas para os próximos meses.
Nos Estados Unidos, o Fed é amplamente esperado para iniciar um ciclo de cortes de juros. Este seria o primeiro movimento desse tipo desde 2020, quando as taxas de juros foram reduzidas drasticamente para conter os efeitos econômicos da pandemia de COVID-19. A redução nos juros americanos é vista como uma forma de estimular o crescimento econômico e aliviar a pressão sobre o mercado de trabalho, que enfrenta desafios de recuperação nos últimos anos.
Por outro lado, no Brasil, o cenário é bem diferente. Com uma inflação que ainda persiste perto do teto da meta estabelecida pelo BC, o mercado acredita que a taxa Selic, atualmente em 10,50% ao ano, possa ser elevada mais uma vez. O objetivo é controlar a alta dos preços e manter a inflação dentro da meta para 2024, estabelecida em 3%, com um intervalo de tolerância entre 1,50% e 4,50%.
Dólar em queda, mas acumulando alta no ano
Mesmo com a leve queda registrada nos últimos dias, o dólar acumula uma alta de 13,55% em 2024, o que reflete a força da moeda norte-americana ao longo do ano. Além disso, os dados mostram que, até o momento, a moeda sofreu uma queda de 2,17% no mês de setembro, o que pode ser um reflexo da expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos.
Esse movimento de baixa recente pode ser explicado pela percepção dos investidores de que os cortes de juros no Fed tornarão o dólar menos atraente em relação a outras moedas, como o real brasileiro, que pode se valorizar diante da perspectiva de juros mais altos no Brasil. Juros mais elevados tornam os ativos brasileiros mais atrativos para investidores internacionais, uma vez que oferecem retornos maiores.
Ibovespa em leve alta no ano, mas sob pressão no curto prazo
O Ibovespa, que acumulou uma leve alta de 0,70% no ano até agora, enfrenta uma série de desafios. Embora os últimos meses tenham trazido dados econômicos positivos, como o crescimento do varejo e dos serviços no Brasil, as preocupações com a política monetária continuam a pesar sobre o mercado de ações.
Na última semana, o índice encerrou com um avanço de 0,64%, fechando aos 134.882 pontos na sexta-feira. Contudo, o início desta semana trouxe uma ligeira correção, com o índice operando em queda de 0,09% nesta terça-feira, refletindo a cautela dos investidores à espera da “Superquarta”.
Indicadores econômicos reforçam incerteza
Os recentes indicadores econômicos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Banco Central (BC) mostram uma economia brasileira que ainda luta para encontrar equilíbrio entre crescimento e controle da inflação.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado na última sexta-feira, registrou uma queda de 0,4% em julho, após uma alta de 1,40% em junho. Apesar da contração, o indicador acumula uma alta de 2,6% em 2024, indicando que, embora o crescimento tenha desacelerado, a economia ainda está em expansão.
Além disso, o setor de serviços continua a se destacar, com um crescimento de 1,2% em julho. O setor está agora 15,4% acima dos níveis pré-pandemia e atingiu seu maior patamar histórico. Já o varejo registrou um aumento de 4,4% nas vendas, também superando as expectativas do mercado.
Por outro lado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do Brasil, registrou uma deflação de 0,02% em agosto, a primeira queda nos preços deste ano. Mesmo com a deflação, a inflação acumulada em 12 meses até agosto ainda está em 4,24%, muito próxima do teto da meta estabelecida pelo BC.
Expectativa de alta na Selic
Com a inflação ainda elevada e a preocupação com os gastos públicos do governo, o mercado espera que o Banco Central do Brasil promova uma nova alta da taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira. O relatório Focus, que reúne as expectativas dos economistas para os principais indicadores econômicos, reforçou essa expectativa ao apontar para uma elevação nas projeções de inflação para este ano e para 2025.
O aumento da Selic, embora necessário para conter a inflação, tem impactos negativos sobre a economia. Juros mais altos encarecem o crédito e tendem a reduzir o consumo e os investimentos, além de afetar o mercado de trabalho.
Impacto internacional e decisão do Fed
Enquanto o Brasil se prepara para uma possível alta nos juros, o foco internacional está na decisão do Federal Reserve. O corte esperado na taxa de juros dos EUA deve aliviar a pressão sobre o mercado financeiro global, uma vez que taxas mais baixas tendem a estimular o consumo e o investimento.
Além do Fed, investidores também estão de olho nas decisões de política monetária do Banco da Inglaterra (BoE), do Banco do Japão (BoJ) e do banco central da China, que também podem influenciar o comportamento dos mercados globais nos próximos dias.