O assassinato de Fernando Villavicencio, um ex-opositor do ex-presidente Rafael Correa e candidato que lutava contra a corrupção e a violência no Equador, chocou e enlutou o país andino. A corrida eleitoral para as eleições de 20 de agosto, já polarizada entre partidários e opositores de Correa e marcada por propostas para combater a violência, foi manchada pela tragédia.
As pesquisas indicavam que Villavicencio estava em segundo lugar, atrás da candidata Luisa Gómez, alinhada a Correa. Com o atentado, a crise de segurança no país atingiu um nível sem precedentes.
“Está ficando cada vez mais claro que o Equador está se tornando um epicentro de violência na região andina, superando as taxas de homicídio do México”, afirmou Costantin Groll, diretor do escritório da Fundação Friedrich Ebert (vinculada ao Partido Social-Democrata alemão) no Equador. Há muitos indícios de que estamos revivendo o cenário mexicano dos anos 2000, quando os cartéis mexicanos se fortaleceram, e esperamos que possamos aprender lições desse caso.
A crise de segurança no Equador vinha se agravando nos últimos meses, com assassinatos de políticos, massacres em prisões, violência do crime organizado e narcotráfico.
“Estamos imersos em uma profunda crise de segurança, econômica e social. Há sequestros, extorsão de comerciantes e até mesmo de empresas, universidades públicas, centros médicos…”, afirmou Groll. Ele acrescentou que “um dos grandes problemas do país é a conexão entre algumas instâncias do Estado e o crime organizado”.
Essa situação, que anteriormente estava concentrada principalmente na região litorânea, onde traficantes de drogas utilizavam portos para enviar mercadorias, agora chegou a Quito, a capital do país.
“A morte de Villavicencio nos chocou a todos”, disse Johannes Hügel, representante da Fundação Konrad Adenauer (vinculada ao partido alemão União Democrata Cristã) no Equador. “A tragédia ocorreu a poucos metros do nosso escritório em Quito, e estamos todos profundamente entristecidos com o que está acontecendo no país. O que aconteceu representa um novo patamar na escalada da violência.”
Apesar do assassinato de Villavicencio, a campanha eleitoral continua, e a data da eleição foi mantida, embora o país esteja sob estado de exceção pelos próximos 60 dias, decretado pelo presidente Guillermo Lasso. Essa medida permite que os militares patrulhem as ruas para garantir o processo eleitoral.
Com o assassinato, a luta contra a violência tornou-se um tema ainda mais crucial na campanha eleitoral. Além disso, a tragédia poderia influenciar a escolha dos eleitores.
“A atmosfera está tensa e violenta, e há um crescente desespero entre o povo equatoriano”, observou Hügel. “Algumas pessoas temem um retorno ao tipo de governo ‘correísta’ que não respeitava os valores democráticos. Agora, os eleitores podem optar por um candidato como Jan Topic, que é uma espécie de figura similar a Rambo – ele postou fotos com um rifle – e que deseja combater o tráfico de drogas. O assassinato de Villavicencio pode impulsionar a campanha desse candidato.”
Groll expressou a esperança de que o assassinato não seja explorado para fins políticos: “Espero que essa tragédia possa marcar uma virada no debate público, em vez de ser sempre usada para objetivos pessoais ou partidários. No entanto, a polarização é muito intensa.”
Hügel afirmou que o Equador precisa de uma institucionalidade forte neste momento. Ele destacou que os candidatos devem apresentar propostas concretas e realistas, evitando promessas inatingíveis, como aconteceu no passado. O representante alemão enfatizou a importância de buscar uma nova estabilidade, também no âmbito social, promovendo justiça social real e colaborando entre diferentes grupos políticos pelo bem do país.
No cenário internacional, o assassinato de Villavicencio causou espanto. Hügel enfatizou a importância de não deixar o Equador enfrentar essa situação extrema sozinho, exortando a comunidade internacional a trabalhar em conjunto com atores da cooperação para o desenvolvimento e a sociedade equatoriana para moldar o futuro do país.