Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, vê possibilidade de a taxa Selic encerrar o ano abaixo de 12% ao ano, com o cenário que temos desenhado agora.
“Está muito claro que vamos ter um cenário de corte de juros no segundo semestre. Se aproveitarmos dando as informações corretas, mostrando que o governo vai conseguir cumprir seu programa fiscal e avançar em reformas, esse ambiente será potencializado para um ciclo de reduções mais rápidas, o que seria muito bom para a retomada de investimentos e para o crescimento da economia e da bolsa.”
Para Mansueto, que participou nesta quarta-feira do BTG Talks 2023, o projeto de arcabouço fiscal tem o ponto positivo de fixar um teto de crescimento de 0,6% a 2,5% da despesa, frente a um histórico de crescimento médio real de 6% ao ano entre 1997 e 2015. No entanto, pondera, o ponto de partida é um déficit primário.
“O governo promete transformar um déficit de R$ 100 bilhões em saldo positivo de R$ 100 bilhões até 2026. É um ajuste de R$ 200 bilhões, num contexto de crescimento real de gastos. Como vai fechar esse buraco fiscal? O plano do governo é baseado em aumento de arrecadação R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões. E isso animou mais os gestores de fundos do que propriamente os economistas, porque a gente tira da mesa o risco de cauda.”
O economista afirma que os investidores internacionais estão olhando atualmente para o Brasil e para o México com otimismo, mas frisa que, para trazer de fato esse fluxo de investimentos para a bolsa brasileira, é preciso fazer mais para que o país consiga crescer.
“Os preços de commodities caíram, o que ajuda na inflação, mas essa queda não alterou o recorde do saldo da balança comercial, o que vai ajudar o câmbio, que, por sua vez, traz uma queda nos preços livres”, explica. Além disso, corroboram o cenário a indicação cada vez mais forte de que o governo não mexerá na meta de inflação e a preocupação cada vez clara do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em melhorar as contas públicas. “Mas precisamos ouvir da ala política o mesmo compromisso com a questão fiscal para que o BC tenha segurança de cortar os juros com mais rapidez. Ainda tem muita mensagem solta”, conclui.
Mansueto, do BTG: chance de Selic encerrar o ano a 12% — Foto: Carol Carquejeiro/Valor.