Exportações do Brasil para a Argentina despencam 25% devido a ajuste fiscal de Milei
A 65ª cúpula do Mercosul, realizada entre os dias 7 e 8 de dezembro em Montevidéu, expõe as tensões entre Brasil e Argentina, as duas maiores economias do bloco. Sob a liderança do presidente argentino Javier Milei e do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, a relação bilateral enfrenta desafios históricos, agravados pela recente queda no comércio entre os países. Apesar disso, um consenso em torno do aguardado acordo com a União Europeia (UE) oferece uma rara oportunidade de cooperação.
Comércio em Declínio: Impactos para o Brasil e a Argentina
Os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostram um cenário preocupante: entre janeiro e outubro de 2024, as exportações brasileiras para a Argentina caíram 24,8% em relação ao mesmo período de 2023. Enquanto isso, as importações do Brasil de produtos argentinos cresceram 9,7%.
Essa combinação resultou em uma drástica redução do saldo positivo da balança comercial brasileira com o país vizinho, que despencou de US$ 4,75 bilhões para apenas US$ 69 milhões. Segundo a embaixadora Gisela Padovan, do Itamaraty, o principal fator por trás dessa queda é o ajuste fiscal promovido pelo governo Milei, que teria restringido a capacidade de importação da Argentina.
Os Desafios do Mercosul sob o Governo Milei
A cúpula de Montevidéu será a primeira que Javier Milei comparecerá como presidente. A postura crítica do líder argentino em relação ao Mercosul já gerou polêmicas: ele ameaçou retirar a Argentina do bloco e defendeu acordos comerciais bilaterais fora do âmbito do Mercosul.
No entanto, a possibilidade de concluir o acordo de livre comércio com a União Europeia parece ter moderado o discurso de Milei. Segundo fontes próximas às negociações, os quatro países fundadores do Mercosul – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – chegaram a um entendimento sobre os termos do acordo e agora aguardam a aprovação europeia.
Uma Relação Fragilizada
Além das questões econômicas, a relação Brasil-Argentina sofre com divergências ideológicas entre os presidentes. Enquanto Lula enfatiza a importância da integração regional, Milei tem mostrado preferência por agendas alinhadas à direita global, como evidenciado por sua participação na Conservative Political Action Conference (CPAC) em Camboriú em 2023, evento que coincidiu com a cúpula do Mercosul daquele ano.
Essa dificuldade de alinhamento tem impactos práticos. Apesar de não haver novas barreiras comerciais, segundo Padovan, a falta de diálogo entre as lideranças dificulta a resolução de problemas e a busca por soluções que favoreçam o comércio bilateral.
Oportunidades e Obstáculos no Acordo com a União Europeia
O acordo entre Mercosul e União Europeia é considerado um marco para o bloco sul-americano, mas enfrenta desafios significativos. O principal entrave vem da UE, que impôs condições adicionais relacionadas à sustentabilidade ambiental e ao combate ao desmatamento.
A conclusão do acordo pode representar uma vitória política para ambos os países. Para o Brasil, reforça o compromisso de Lula com o fortalecimento do Mercosul e a integração global. Para Milei, pode ser uma forma de impulsionar a economia argentina, que enfrenta dificuldades internas severas, incluindo inflação alta e endividamento crescente.
Impactos Econômicos Regionais
A diminuição do comércio entre Brasil e Argentina não apenas afeta as economias nacionais, mas também enfraquece o Mercosul como um todo. Segundo Padovan, o bloco registrou um superávit de aproximadamente US$ 6 bilhões em 2023, mas o equilíbrio comercial deste ano está mais frágil.
Um mercado regional robusto é fundamental para enfrentar desafios globais, como a competitividade com economias asiáticas e a adaptação às exigências ambientais. Nesse contexto, a cooperação entre Brasil e Argentina é crucial para a sobrevivência e relevância do Mercosul.
O Futuro do Mercosul e da Relação Brasil-Argentina
A cúpula de Montevidéu pode ser um ponto de virada para a relação Brasil-Argentina e para o Mercosul como um todo. Se os países conseguirem avançar no acordo com a União Europeia e melhorar a comunicação interna, haverá potencial para recuperar o comércio e fortalecer o bloco.
No entanto, a manutenção de discursos antagônicos pode levar a uma fragmentação maior, comprometendo tanto a integração regional quanto os benefícios econômicos que ela oferece.
A gestão do Mercosul dependerá de lideranças que consigam equilibrar interesses nacionais com o compromisso de construir um bloco integrado e competitivo no cenário global. Para Lula e Milei, isso significa deixar de lado diferenças ideológicas e trabalhar juntos em prol de objetivos comuns.