O primeiro-ministro da China, Li Qiang, evitou atritos públicos em uma viagem a Alemanha e França nesta semana, no que analistas veem como um sinal da relutância das nações europeias em isolar Pequim.
A primeira viagem ao exterior de Li desde que se tornou o segundo principal líder do país em março é vista como uma demonstração dos temores alemães sobre a exposição à economia chinesa e a vontade da França de cooperar com Pequim quando possível.
A escolha da Alemanha e da França para a viagem de Li reflete tanto a posição dos países como as duas principais potências da União Europeia (UE) quanto deixa clara as relações problemáticas entre Pequim e outras capitais europeias. A Itália atualmente discute uma saída da Iniciativa da Nova Rota da Seda, países do leste europeu estão decepcionados com o apoio de Pequim a Moscou e os países do norte da Europa estão ficando cada vez mais cautelosos com as ambições da China e da Rússia no Ártico.
Essa situação coloca a Alemanha e a França no foco da China, com a Alemanha sendo a peça de xadrez da China para impedir que o protecionismo contra o país desacelere ainda mais a economia chinesa”, disse Reinhard Biedermann, professor alemão de relações internacionais da Universidade Tamkang em Taipei.
“A França, por sua vez, é a peça de xadrez da China para a salvaguarda de uma Europa que não é alinhada com os EUA contra a China.”
Analistas observaram o que os governos do primeiro-ministro alemão Olaf Scholz e do presidente francês Emmanuel Macron fizeram para acomodar a China.
Ao chegar na Alemanha, Li foi recebido pelo presidente alemão Frank-Walter Steinmeier. Depois de conversas com até 26 ministros chineses e alemães, Scholz e Li deram uma entrevista coletiva na qual os jornalistas não foram autorizados a fazer perguntas, o que foi uma clara violação da política para a China da antecessora de Scholz, Angela Merkel, que sempre insistiu em coletivas de imprensa abertas de acordo com os padrões ocidentais. Scholz também fez um aceno à China ao enfatizar que a Alemanha não tem interesse em se separar economicamente de Pequim.
Embora Scholz exortasse a China a usar mais de sua influência sobre a Rússia para impedir a guerra na Ucrânia, ele não mencionou publicamente outros temas polêmicos, como Taiwan, trabalho forçado ou fortalecimento da espionagem industrial chinesa contra empresas alemãs
Segundo o governo alemão, os dois lados concordaram em iniciar um diálogo sobre o clima e assinaram memorandos de entendimento nas áreas de mobilidade elétrica e de hidrogênio.
“Considerando que Scholz fez sua primeira visita a Pequim há mais de meio ano, e Li agora completou sua visita inaugural a Berlim com uma delegação de alto nível, é notável como poucos resultados tangíveis foram apresentados,” disse Lutz Berners, da Berners Consulting, que assessora empresas do governo alemão em projetos relacionados à China.
Berners atribuiu os resultados abaixo do esperado à piora da situação econômica na China, que preocupa Berlim por causa da forte exposição das empresas alemãs ao país.
Com um volume de comércio bilateral de quase 300 bilhões de euros, o ano de 2022 foi o sétimo consecutivo em que a China foi o maior parceiro comercial da Alemanha. Vários conglomerados alemães, como BASF, Merck, Siemens e BMW, recentemente investiram pesadamente na China ou anunciaram planos de fazê-lo.
Em uma escala em Munique, Li se encontrou com a Siemens e a BMW, bem como com o primeiro-ministro da Baviera, Markus Soeder, que repetiu a retórica de Scholz de se opor a uma separação da China.
Li então foi para Paris, onde se encontrou com o presidente Macron em uma cúpula do Novo Pacto de Financiamento Global, uma iniciativa de Macron cujo objetivo é construir uma nova relação entre os países do Norte e do Sul globais para lidar com as mudanças climáticas.
Macron indicou o desejo da França e da Europa em aprofundar os laços com a China. Depois de uma visita à China em abril, ele ganhou as manchetes ao dizer que a França não deveria seguir os EUA em relação à questão de Taiwan.
Como em Berlim, Li recebeu um tratamento excepcional em Paris, com a primeira-ministra francesa Elisabeth Borne e o ministro do Interior, Gerald Darmanin, encontrando-se com ele antes da reunião com o presidente.
Macron chamou a atenção ao descer correndo uma escada em uma aparente tentativa de abrir pessoalmente a porta da limusine de Li.
Assim como a visita de Li a Berlim, também a visita a Paris não reflete o debate em curso na Europa sobre o risco da China, direitos humanos, tensões em Taiwan e delegacias de polícia extraterritoriais da China na Europa”, disse Marc Julienne, chefe do Centro de Estudos Asiáticos do Instituto Francês de Relações Internacionais.
“Macron e Li lidaram apenas com os tópicos positivos e jogaram os delicados para debaixo do tapete, o que provavelmente é parcialmente explicado pelo fato de Macron precisar da ajuda da China para tornar sua nova iniciativa de financiamento climático um sucesso”, disse.
Li Qiang — Foto: Ng Han Guan/AP