Fundos Multimercado em Alta: Como os Gestores Estão Reposicionando Estratégias com Juros a 14,75%
O cenário macroeconômico e os fundos multimercado
Com a expectativa de que a taxa Selic atinja 14,75% até o final de 2025, os fundos multimercado vêm se consolidando como uma das principais estratégias para gestores que buscam diversificação, rentabilidade e proteção diante de um ambiente econômico volátil. Uma pesquisa recente com 31 gestoras, conduzida entre os dias 23 e 30 de abril, revela a mudança tática desses fundos em relação ao câmbio, juros e renda variável.
O levantamento aponta que a maioria dos gestores já antecipa o fim do ciclo de alta nos juros, ao mesmo tempo em que reavaliam sua exposição ao dólar e redirecionam suas carteiras para ativos domésticos. Esses movimentos táticos têm impactado diretamente a performance dos fundos multimercado, que, até abril de 2025, já acumulavam retorno de 3,68%, o equivalente a 411% do CDI.
A seguir, exploramos em profundidade os dados da pesquisa, os impactos das decisões do Copom e como os gestores estão navegando este cenário desafiador com inteligência estratégica.
Expectativa de Selic a 14,75% e o fim do ciclo de alta
Uma das principais conclusões do levantamento é a expectativa generalizada de que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a Selic em 0,5 ponto percentual na próxima reunião, chegando a 14,75%. Esse percentual é defendido por 81% dos gestores entrevistados. Outros 19% estimam um aumento mais contido, de 0,25 p.p.
Essa possível elevação marcará o encerramento de um ciclo agressivo de alta iniciado ainda em 2024, quando o Copom já vinha ajustando a taxa em 1 ponto percentual por reunião. Agora, com o nível elevado da taxa básica, a tendência é que o Banco Central sinalize estabilidade.
Essa estabilidade é fundamental para os fundos multimercado, que operam com diferentes ativos e precisam de previsibilidade para redesenhar suas estratégias de alocação e risco.
Inflação e PIB: Expectativas sob controle em 2025
Além da Selic, o cenário macroeconômico mostra sinais de estabilização. A projeção de inflação para o final de 2025 caiu para 5,54%, refletindo a redução das pressões cambiais. Já o Produto Interno Bruto (PIB) deve registrar crescimento de 2,11%, de acordo com as gestoras consultadas.
Esse equilíbrio entre inflação e crescimento econômico é considerado ideal para os fundos multimercado, pois amplia o espaço para estratégias de arbitragem, renda variável e crédito privado, áreas que oferecem maior retorno em um ambiente menos volátil.
Redesenho tático: Recuo na tese do dólar forte
Um dos movimentos mais significativos identificados na pesquisa foi a mudança de postura em relação ao dólar. O relatório revela uma “reversão da tese do dólar forte”, com os gestores diminuindo sua exposição à moeda americana.
Em março, 75% das gestoras mantinham posições vendidas no real, enquanto apenas 25% apostavam em sua valorização. Em abril, esse número se inverteu: 70% das gestoras passaram a apostar na apreciação do real, reduzindo drasticamente suas posições vendidas para 30%.
O mesmo fenômeno ocorreu em relação ao dólar: as posições compradas despencaram de 70% para 26%, enquanto as posições vendidas saltaram para 74%. A leitura do mercado é clara: há maior confiança na resiliência da economia brasileira e na estabilidade do câmbio.
Para os fundos multimercado, essa virada representa uma realocação estratégica importante. Ao reduzir a exposição ao dólar, os gestores demonstram foco em ativos locais e menor dependência de ativos de proteção tradicional.
Performance dos fundos multimercado dispara em 2025
A nova estratégia tem mostrado resultados expressivos. Até o dia 25 de abril, os fundos multimercado acumulavam retorno de 3,68%, equivalente a 411% do CDI no período. Essa performance reflete não apenas a valorização de ativos domésticos, mas também a rápida adaptação tática dos gestores frente ao cenário de juros altos e mudanças cambiais.
O relatório destaca que essa alta representa a maior variação mensal da série histórica. Ainda que impressionante, a XP analisa que esse comportamento faz parte de um padrão já conhecido: a resiliência estrutural dos fundos multimercado em momentos de alta incerteza.
Carteiras dinâmicas e flexíveis: a força dos multimercado
Uma das grandes vantagens dos fundos multimercado é sua flexibilidade. Diferente de fundos focados em uma única classe de ativos, eles podem transitar entre renda fixa, câmbio, renda variável, commodities, crédito privado e estratégias de hedge, adaptando-se rapidamente às condições do mercado.
Essa maleabilidade se tornou essencial em 2025, à medida que os gestores precisaram lidar com o fim do ciclo de alta nos juros, a instabilidade nos EUA e a revalorização do real.
Com isso, os multimercados se consolidam como a alternativa ideal para investidores que buscam mitigar riscos e ampliar retornos em ambientes complexos.
Ajustes na bolsa: EUA em baixa, Brasil em alta marginal
Outro ponto abordado no relatório foi a reavaliação das posições na bolsa de valores, especialmente em relação aos EUA. O otimismo com o mercado americano vem recuando: as posições compradas caíram de 60% em janeiro para apenas 22% em abril. Isso sinaliza uma menor confiança na recuperação da economia dos EUA ou, pelo menos, uma aversão ao risco naquele mercado.
Em contrapartida, o posicionamento em ações brasileiras mostra leve alta, ainda que tímida. Em abril, 41% das gestoras mantinham posições compradas na bolsa local, enquanto 19% estavam vendidas e 41% afirmaram não ter exposição ao mercado acionário brasileiro.
Esse comportamento mostra cautela, mas também abertura para novas oportunidades, sobretudo com a perspectiva de estabilização da política monetária e crescimento econômico doméstico.
Fundos multimercado no centro das estratégias de 2025
Os dados revelados pela pesquisa mostram com clareza que os fundos multimercado estão no centro das estratégias de investimento em 2025. Combinando flexibilidade, inteligência tática e boa performance, esses fundos têm sido a principal aposta dos gestores para enfrentar um cenário global desafiador e, ao mesmo tempo, aproveitar as oportunidades do mercado interno.
A expectativa de Selic a 14,75%, o controle da inflação, a valorização do real e o ajuste na exposição ao risco compõem um ambiente propício para a continuidade do bom desempenho dos fundos multimercado.
Para o investidor, a leitura é clara: este é o momento de olhar com atenção para os multimercados, entendendo sua composição, sua estratégia e seu potencial de retorno no médio e longo prazo.