Na manhã desta quinta-feira, 1º de agosto de 2024, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, para discutir o futuro da Eletrobras e as recentes controvérsias relacionadas à privatização da empresa. O encontro foi fundamental para traçar os próximos passos no acordo que visa aumentar a influência do governo na estatal sem retomar seu controle total.
O Contexto da Privatização da Eletrobras
A privatização da Eletrobras, ocorrida durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2021, gerou uma série de controvérsias e disputas jurídicas. A Advocacia-Geral da União (AGU) entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) em maio de 2023, contestando o processo de privatização e buscando reverter aspectos do acordo que transferiu a maioria das ações da empresa para o setor privado.
O governo Lula, que criticou a privatização desde o início, procura formas de reverter algumas das consequências da venda. Apesar de ainda deter aproximadamente 40% das ações da Eletrobras, a União tem apenas 10% dos votos nas assembleias de acionistas, o que limita sua influência nas decisões estratégicas da empresa.
Discussões sobre o Acordo e as Expectativas do Governo
Durante a reunião desta quinta-feira, o ministro Alexandre Silveira expressou otimismo quanto à resolução da disputa. Ele destacou a importância de ajustar a representatividade da União na Eletrobras para refletir adequadamente a quantidade de ações ordinárias que o governo possui. Segundo Silveira, ter quatro cadeiras no Conselho de Administração seria uma medida razoável para garantir uma participação mais efetiva nas decisões da companhia.
Além disso, o governo está discutindo o adiantamento dos recursos que a Eletrobras deve transferir para a Conta de Desenvolvimento Energético, uma obrigação prevista no processo de privatização. A proposta inclui a antecipação de R$ 26 bilhões por meio de uma operação financeira chamada “securitização. Contudo, o governo está avaliando a possibilidade de adiantar essa quantia sem a necessidade de securitização, o que poderia oferecer maior flexibilidade na gestão financeira da empresa.
A Questão da Eletronuclear
Outra questão importante em discussão é a transferência das ações da Eletrobras na Eletronuclear para a União. A Eletronuclear, responsável pelas usinas nucleares Angra 1, Angra 2 e Angra 3, foi uma subsidiária da Eletrobras antes da privatização e agora está sob o controle da ENBPar, ligada ao Ministério de Minas e Energia. A Eletrobras mantém uma participação de 36% na Eletronuclear, e a proposta atual envolve a transferência dessas ações para o governo.
Críticas ao Acordo
Apesar das negociações em andamento, o acordo com a Eletrobras tem enfrentado críticas, especialmente por parte dos eletricitários. O Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) manifestou sua oposição ao acordo, argumentando que ele não resolve o problema da proporção de votos da União na Eletrobras. Segundo o coletivo, o acordo valida o processo de privatização e não corrige as falhas que permitiram a venda da companhia.
A nota do CNE critica a ausência de um mecanismo que permita à União recuperar uma participação proporcional no poder de voto, que é essencial para a aprovação de decisões importantes nas assembleias de acionistas. A organização considera que o acordo atual representa uma continuidade das práticas questionáveis da privatização.
As discussões entre o governo Lula e a Eletrobras são um reflexo das complexas questões envolvidas na privatização de uma das maiores estatais do Brasil. Enquanto o governo busca formas de aumentar sua influência e corrigir aspectos da privatização, as críticas e desafios persistem. A definição final do acordo será crucial para determinar o papel futuro da União na Eletrobras e a eficácia das medidas adotadas para ajustar o impacto da privatização.