Nos moldes da HBO, a Apple TV+ conseguiu um feito almejado por qualquer plataforma de streaming: transformar uma série em um fenômeno cultural que domina debates nas redes sociais. O destaque da vez é Ruptura (Severance), produção aclamada que apresenta uma narrativa envolvente sobre personagens com memórias separadas entre vida pessoal e profissional.
Com o recente final da segunda temporada, a Apple TV+ viu um aumento expressivo no número de assinantes, levantando uma questão crucial: a plataforma conseguirá capitalizar esse sucesso para se tornar um serviço rentável?
O Impacto de Ruptura no Crescimento da Apple TV+
Desde o lançamento da segunda temporada, em janeiro de 2025, a Apple TV+ registrou um crescimento significativo. Apenas entre dezembro e janeiro, a plataforma teve um aumento de 8% no número de assinantes, e em fevereiro, mais 2,9 milhões de novos usuários ingressaram no serviço.
A aclamação de Ruptura é inegável, com “watch parties” explodindo nas redes sociais e um engajamento massivo no TikTok. No entanto, a grande dúvida é se esse impulso será suficiente para tornar o streaming da Apple finalmente lucrativo.
A Estratégia de Qualidade da Apple TV+
Diferente da Netflix, que aposta em volume, a Apple TV+ se concentra em qualidade. Com um acervo reduzido de apenas 270 séries, a plataforma opta por produções de alto padrão, o que reflete diretamente nos custos.
Quando lançou o serviço, a Apple decidiu não licenciar conteúdo antigo, tornando-se dependente de lançamentos exclusivos. Para atrair público, investiu pesado em nomes de peso como Oprah Winfrey e Steven Spielberg, além de produções estreladas por Jennifer Aniston e Reese Witherspoon.
Cada episódio de Ruptura custou cerca de US$ 20 milhões, tornando-se um dos projetos mais caros da Apple TV+. A série extrapolou em US$ 40 milhões o orçamento inicial, antes mesmo de consolidar sua base de fãs.
Prêmios e Prestígio, Mas Não Rentabilidade
Desde o lançamento da Apple TV+, suas produções originais conquistaram mais de 2.500 nomeações e 538 prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme por No Ritmo do Coração em 2022 e 14 indicações ao Emmy para Ruptura.
Apesar disso, prêmios não pagam contas. Segundo o portal The Information, a Apple TV+ perde mais de US$ 1 bilhão por ano desde 2019, mesmo com seus 45 milhões de assinantes.
A falta de rentabilidade é uma preocupação constante. Enquanto a venda de iPhones ainda é o carro-chefe da Apple, o setor de streaming segue sem transparência sobre seus resultados financeiros, o que gera incerteza sobre a sustentabilidade do negócio.
O Desafio da Fidelização dos Assinantes
Não é a primeira vez que a Apple TV+ lança uma produção de sucesso. Ted Lasso e The Morning Show também foram grandes fenômenos. No entanto, a dificuldade da plataforma está em manter os assinantes após o fim das temporadas de suas séries favoritas.
De acordo com dados da Nielsen, a Apple TV+ tem menos de 1% de participação de mercado em termos de audiência. Em 2024, seu volume de visualizações mensais era menor do que o da Netflix em apenas um dia.
A Estratégia para o Futuro
Com o impacto de Ruptura, a Apple TV+ adotou uma estratégia de marketing inspirada na Netflix. A empresa apostou em ativações físicas e uma divulgação massiva.
Uma das campanhas mais marcantes foi a recriação do escritório da Lumon Industries na Grand Central Station, em Nova York, com a participação dos atores. A ação gerou engajamento espontâneo nas redes sociais e alcançou um público além dos fãs da série.
Até mesmo o CEO da Apple, Tim Cook, participou das campanhas de divulgação, vestindo o uniforme clássico da Lumon Industries. Esse tipo de engajamento sugere que a empresa está disposta a apostar pesado em seu streaming para consolidar sua base de assinantes.
A boa notícia para os fãs é que a terceira temporada de Ruptura já está confirmada, mantendo viva a esperança de que a Apple TV+ finalmente encontre seu caminho para a rentabilidade.