Grupo Pão de Açúcar (GPA): crise financeira, renúncias no conselho e remuneração milionária do chairman
O Grupo Pão de Açúcar (GPA), um dos maiores conglomerados de varejo alimentar do Brasil, vive um dos momentos mais turbulentos de sua história recente. Em meio a prejuízos acumulados de R$ 5 bilhões nos últimos três anos, renúncias no conselho fiscal e disputas internas sobre governança, a companhia voltou aos holofotes por outro motivo: a remuneração bilionária de seu ex-CEO e atual chairman, Ronaldo Iabrudi.
Entre 2014 e 2023, Iabrudi recebeu R$ 483 milhões em valores nominais e, ajustado pelo CDI, esse montante chega a R$ 870 milhões — equivalente a cerca de 60% do valor de mercado atual do GPA. O contraste entre a situação financeira da empresa e os valores destinados ao executivo expõe a tensão sobre práticas de gestão, políticas de remuneração e o futuro do Grupo Pão de Açúcar (GPA) no mercado.
O histórico do Grupo Pão de Açúcar (GPA)
Fundado em 1948 por Valentim Diniz, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) se consolidou como um dos maiores nomes do varejo brasileiro. Ao longo de décadas, expandiu suas operações com bandeiras como Extra, Pão de Açúcar, Assaí (desmembrado em 2021) e outras marcas regionais.
Apesar da força histórica, o grupo enfrenta uma crise estrutural marcada pela perda de participação de mercado, aumento do endividamento e dificuldades em competir com redes de atacarejo como Atacadão e Assaí, além da pressão crescente de players internacionais e do e-commerce alimentar.
Essa deterioração financeira contrasta com os altos valores pagos a executivos, como no caso de Ronaldo Iabrudi, ampliando a percepção de que a governança do GPA não está alinhada com os interesses de acionistas e investidores.
A remuneração milionária de Ronaldo Iabrudi
Os dados revelam que entre 2014 e 2023, Ronaldo Iabrudi acumulou R$ 483 milhões em remuneração direta. Quando corrigido pelo CDI, o valor chega a R$ 870 milhões. Para efeito de comparação, esse montante representa mais da metade do valor de mercado do Grupo Pão de Açúcar (GPA) atualmente.
Durante o período em que ocupou os cargos de CEO e chairman, Iabrudi foi reiteradamente o executivo mais bem remunerado da companhia, tanto na Diretoria Estatutária quanto no Conselho de Administração.
A discrepância entre os resultados financeiros do GPA e os ganhos do executivo reforça as críticas de minoritários e de parte do próprio conselho, que enxergam na política de remuneração um reflexo da concentração de poder em um pequeno grupo de acionistas controladores.
Conflitos sobre a governança do GPA
As tensões no Grupo Pão de Açúcar (GPA) não se limitam às críticas sobre remuneração. Nas últimas semanas, disputas internas escancararam a fragilidade da governança corporativa da varejista.
Em uma reunião recente, o conselheiro Edison Ticle sugeriu zerar os salários dos membros do conselho e substituí-los por um modelo de remuneração baseado em ações, diretamente vinculado à recuperação da companhia. Outra alternativa discutida foi um salário fixo equivalente a um salário mínimo, acompanhado de um plano de longo prazo.
A proposta foi rejeitada pela maioria dos conselheiros, incluindo o próprio Iabrudi. O colegiado aprovou R$ 9,2 milhões em remuneração para seus membros. Como resposta, Ticle apresentou declaração de voto separado, apoiada por outros três conselheiros, evidenciando a divisão no comando da empresa.
Renúncias e crises internas no GPA
Os embates resultaram em uma sequência de renúncias de membros de comitês estratégicos do GPA.
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Edison Ticle e Sebastian Los renunciaram aos seus cargos no comitê de auditoria, alegando conflitos relacionados a princípios de governança e independência.
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Poucos dias depois, André Nassar e Diego Mendes também renunciaram ao conselho fiscal, em cartas nas quais criticaram duramente a condução da empresa.
Na carta de renúncia, Nassar afirmou que a gestão do Grupo Pão de Açúcar (GPA) é “aparelhada para atender aos interesses de um pequeno grupo de acionistas controladores, em detrimento dos minoritários e da própria companhia”.
Essas renúncias sucessivas expuseram ainda mais a crise de confiança no comando do GPA, num momento em que a empresa já enfrenta enormes desafios financeiros.
Prejuízos bilionários e perda de valor de mercado
Os números do Grupo Pão de Açúcar (GPA) nos últimos três anos são preocupantes:
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Prejuízos acumulados de R$ 5 bilhões, comprometendo sua capacidade de investimento.
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Perda expressiva de market share, especialmente após a cisão com o Assaí, que cresceu de forma acelerada.
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Queda de valor de mercado, hoje estimado em torno de R$ 1,5 bilhão, um patamar ínfimo diante da sua relevância histórica.
Essa deterioração contrasta com o ritmo de expansão de concorrentes como Atacadão (do Carrefour) e Assaí, que disputam a liderança do atacarejo, e com a resiliência de redes regionais e digitais.
A reação do mercado
O mercado financeiro acompanha com preocupação os desdobramentos no Grupo Pão de Açúcar (GPA). Analistas destacam que a falta de clareza estratégica, os conflitos no conselho e a estrutura de capital pressionada tornam difícil projetar uma recuperação no curto prazo.
Além disso, a polêmica em torno da remuneração milionária do chairman aumenta a percepção de risco em relação à governança corporativa. Investidores minoritários cobram maior transparência e medidas que alinhem os interesses da gestão com os da companhia.
O futuro do Grupo Pão de Açúcar (GPA)
O futuro do GPA dependerá de três fatores principais:
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Reestruturação operacional: a empresa precisa rever seu modelo de negócios, especialmente após a separação do Assaí.
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Governança corporativa: a pressão de conselheiros e minoritários pode resultar em mudanças significativas na forma como a companhia é administrada.
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Condições de mercado: a recuperação dependerá da capacidade do GPA de competir em preço, eficiência logística e inovação digital.
Sem ajustes profundos, a companhia corre o risco de perder ainda mais relevância em um setor extremamente competitivo.
O Grupo Pão de Açúcar (GPA) vive um dilema que vai além dos números financeiros. O contraste entre a crise operacional e os altos valores pagos a Ronaldo Iabrudi, aliado a renúncias e disputas internas, coloca a governança corporativa no centro das atenções.
Se a companhia deseja retomar a confiança do mercado, precisará adotar medidas firmes de transparência, disciplina financeira e modernização de sua estrutura de gestão. Caso contrário, a tendência é de que continue perdendo espaço em um setor dominado por competidores mais ágeis e eficientes.






