A possível retomada do horário de verão no Brasil em 2024 volta ao centro das discussões, agora com dados técnicos que reforçam os benefícios econômicos e energéticos da medida. Segundo uma nota técnica divulgada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a adoção do horário de verão entre os meses de outubro de 2024 e fevereiro de 2025 pode resultar em uma diminuição de até 2,9% na demanda máxima de energia elétrica. Além disso, a economia projetada para a operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) pode atingir R$ 400 milhões.
A economia estimada, de acordo com o ONS, é impulsionada pela redução no uso de termelétricas e pela maior eficiência no atendimento dos horários de pico de consumo, especialmente no período noturno. Essa medida pode ser decisiva em um contexto de altos custos de energia, permitindo uma operação mais sustentável e menos dependente de fontes poluentes, como as termelétricas.
Impacto Econômico do Horário de Verão
De acordo com o estudo do ONS, a alteração no horário brasileiro durante o verão resultaria em uma “redução de custo de combustível termoelétrico” significativa. Em um cenário hidrológico adverso, a economia projetada é de R$ 356 milhões, enquanto no melhor cenário essa economia seria de R$ 244 milhões. A nota técnica ressalta que, além do benefício imediato em termos de custos com combustíveis, a redução na utilização de termelétricas também contribui para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa, fortalecendo o compromisso do Brasil com a sustentabilidade.
Outra vantagem mencionada no relatório é a economia em termos de reserva de capacidade. Segundo o ONS, com base nos resultados do Leilão de Reserva de Capacidade de 2021, a adoção do horário de verão poderia gerar uma economia anual de aproximadamente R$ 1,8 bilhão em pagamentos de receita fixa aos empreendimentos que venceram o leilão.
Benefícios no Horário de Pico
Além da economia financeira, o horário de verão traria melhorias significativas na eficiência do Sistema Interligado Nacional (SIN), particularmente nos horários de maior demanda, que costumam ocorrer entre as 18h e 20h. Nesse período, o sistema enfrenta o desafio de lidar com o fim da geração de energia solar centralizada, que coincide com o aumento do consumo de eletricidade nas residências e no setor comercial.
O ONS explica que, ao deslocar o horário em que a maior parte das pessoas utiliza energia, o horário de verão permite uma melhor distribuição da carga, amenizando o crescimento da demanda entre as 18h e 19h. A prática se mostra particularmente eficaz nos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Sul, além do próprio SIN, onde o impacto positivo é mais visível.
No entanto, a nota técnica aponta que, após as 20h, o crescimento da demanda por energia é retomado, o que pode prolongar o processo de “rampeamento” — período em que a geração de energia precisa acompanhar o aumento rápido do consumo. Mesmo com essa retomada, o horário de verão ainda é eficaz em reduzir os picos de demanda, permitindo uma gestão mais equilibrada dos recursos energéticos.
Eficiência Energética e Impactos Regionais
O estudo também avalia o impacto da prática em diferentes horários do dia. Embora a redução da carga média diária seja menos expressiva em alguns horários, o ONS constatou que o horário de verão traz “reduções significativas em dias úteis, sábados e domingos”, especialmente nos momentos de demanda máxima noturna. Essas reduções são mais acentuadas em regiões onde as temperaturas são mais elevadas, já que o consumo de energia elétrica, sobretudo com o uso de ar-condicionado e ventiladores, tende a ser maior.
As regiões Sudeste/Centro-Oeste e Sul são as mais beneficiadas pela adoção do horário de verão. Isso se deve ao perfil de consumo dessas regiões, onde há uma concentração maior de indústrias, comércio e residências com altos índices de consumo de energia durante o final da tarde e início da noite.
Considerações Sobre o Consumo de Energia
Embora o horário de verão apresente benefícios claros, o ONS faz uma ponderação importante. Apesar da redução de consumo em alguns horários críticos, a prática não apresenta a mesma eficácia ao longo do dia, quando a carga média diária pode permanecer estável. Esse fenômeno indica que, embora a mudança no horário tenha um impacto positivo nos momentos de maior demanda, ela não é uma solução definitiva para reduzir o consumo geral de energia no Brasil.
Mesmo assim, o horário de verão se revela uma ferramenta importante na gestão do sistema elétrico, especialmente em um contexto de crescente demanda por energia. O Brasil, que tem uma matriz energética majoritariamente renovável, enfrenta o desafio de equilibrar o uso de fontes limpas com a necessidade de manter a confiabilidade do sistema. A retomada do horário de verão, portanto, seria uma estratégia complementar para garantir maior eficiência e economia no uso de energia.
Sustentabilidade e Futuro do Horário de Verão
A discussão sobre a retomada do horário de verão no Brasil envolve não apenas aspectos econômicos, mas também questões ambientais e sociais. Em um momento em que o país busca se posicionar como líder nas ações climáticas globais, qualquer medida que contribua para a redução de emissões e a economia de recursos energéticos é bem-vinda.
O horário de verão oferece uma oportunidade de reduzir o uso de termelétricas, que são mais caras e poluentes, além de otimizar o uso da energia solar, que tem ganhado cada vez mais espaço na matriz energética nacional. Para os consumidores, a mudança no horário também pode representar uma redução na conta de luz, já que a energia consumida nos horários de pico tende a ser mais cara.
Por outro lado, a medida também enfrenta resistências de alguns setores da sociedade, que alegam desconfortos com a alteração no ciclo de sono e no desempenho no trabalho ou nos estudos. O governo federal, juntamente com o ONS, deve considerar esses fatores ao decidir pela volta do horário de verão, buscando um equilíbrio entre os benefícios econômicos e o bem-estar da população.
A possível adoção do horário de verão em 2024-2025, com base nos dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), mostra-se uma alternativa viável para melhorar a eficiência do sistema elétrico brasileiro, economizar recursos e reduzir o impacto ambiental. Com a estimativa de uma economia de até R$ 400 milhões e uma maior eficiência no atendimento aos horários de pico, o retorno do horário de verão surge como uma medida com grande potencial para beneficiar tanto o setor energético quanto os consumidores.
A discussão sobre o tema deve continuar nos próximos meses, à medida que o governo e as entidades responsáveis pelo setor elétrico avaliam os prós e contras da medida, sempre com foco em garantir um sistema mais sustentável e econômico para todos.