O Ibovespa, principal índice de ações da B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), alcançou nesta segunda-feira (19) um marco histórico ao atingir 136 mil pontos, uma alta de mais de 1,5% no dia e acumulando um avanço superior a 6% no mês de agosto. Este movimento de alta é resultado de uma combinação de fatores que têm animado os investidores e impulsionado o mercado brasileiro.
Fator 1: Sinalização de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed)
O primeiro fator relevante para o aumento do Ibovespa é a expectativa de um corte na taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Em 31 de julho, o Fed decidiu manter os juros inalterados na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano, mas sinalizou que um corte poderia estar em discussão na próxima reunião em setembro, dependendo do comportamento dos indicadores econômicos.
Essa expectativa ganhou força após a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos EUA na última quarta-feira (14), que registrou um aumento moderado, reforçando a possibilidade de uma redução dos juros. Como os juros mais baixos nos EUA tendem a reduzir a atratividade dos investimentos em títulos americanos, os investidores buscam ativos mais arriscados e rentáveis, como ações em mercados emergentes, beneficiando o Ibovespa.
Fator 2: O tom do Banco Central do Brasil
O segundo fator que contribuiu para a alta do Ibovespa é a postura do Banco Central do Brasil (BCB). Em sua última reunião de 31 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 10,50% ao ano, mas adotou um tom duro em relação à inflação e à volatilidade cambial. O BC deixou claro que não hesitará em aumentar os juros caso necessário para controlar a inflação, o que trouxe credibilidade à sua atuação e tranquilizou o mercado.
Esse movimento resultou em um achatamento da curva de juros, com os vencimentos mais curtos subindo e os mais longos caindo. A queda nas taxas de juros de longo prazo é positiva para o mercado de ações, já que reduz o custo de oportunidade e incentiva o investimento em ativos de risco, como as ações negociadas na B3.
Fator 3: Declarações sobre o arcabouço fiscal
O terceiro fator é a evolução das discussões sobre o arcabouço fiscal no Brasil. A preocupação com o risco fiscal tem sido um tema recorrente no mercado, especialmente diante das dificuldades do governo em cortar gastos e atingir suas metas de equilíbrio orçamentário. No entanto, medidas recentes, como o congelamento de R$ 15 bilhões no Orçamento anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a mudança de tom do presidente Lula em relação à responsabilidade fiscal, têm contribuído para uma maior confiança dos investidores.
Lula, que antes gerava incertezas com declarações sobre gastos públicos, adotou um discurso mais cauteloso, afirmando que o governo está comprometido com a responsabilidade fiscal. Essa nova postura tem ajudado a reduzir a volatilidade no mercado e a reforçar a confiança dos investidores na capacidade do governo de controlar as contas públicas.
A combinação desses três fatores — a expectativa de corte de juros pelo Fed, o tom assertivo do Banco Central do Brasil e o compromisso renovado do governo com o controle fiscal — tem criado um ambiente favorável para o mercado de ações brasileiro. O recorde histórico do Ibovespa reflete esse otimismo e a perspectiva de um cenário econômico mais estável nos próximos meses.