O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, está passando por um dia desafiador nesta sexta-feira (20). Com mais de 85% das ações que compõem sua carteira operando em queda, o índice chegou a perder a marca dos 133 mil pontos registrada na abertura dos negócios. Às 13h, o índice caía 1,07%, situando-se nos 131.684 pontos, refletindo um cenário de incerteza e pressão nos mercados globais e domésticos.
Desempenho das ações no Ibovespa: Setores em destaque
A desvalorização atual do Ibovespa está sendo impulsionada principalmente pelas ações ligadas ao consumo doméstico, conhecidas como ações cíclicas. Essas ações são diretamente influenciadas pelas flutuações da economia, especialmente pelo consumo interno, e estão entre as maiores perdedoras do dia. Em seguida, vêm os setores de siderurgia e mineração, que também sofrem com a queda no preço das commodities e o sentimento de aversão ao risco nos mercados internacionais.
Entre as ações que apresentam as maiores perdas estão as da CVC (CVCB3), que caíram 6,47%, sendo cotadas a R$ 1,89. A CVC, que opera no setor de turismo e viagens, sofre com a instabilidade econômica, que afeta o consumo e as viagens, resultando em menor demanda por seus serviços.
As ações da Petrobras (PETR3; PETR4) também apresentam queda, com desvalorização de 0,20% e 0,19%, respectivamente. Já as da mineradora Vale (VALE3), uma das maiores empresas do setor de mineração do mundo, caem 0,61%, refletindo a volatilidade do mercado de commodities e a preocupação com o crescimento econômico global, especialmente na China, um dos maiores compradores de minério de ferro.
TIM dribla quedas e lidera ganhos do Ibovespa
Em meio a um dia de quedas generalizadas, a TIM (TIMS3) foi uma das poucas exceções, registrando alta de 1,78%, com as ações cotadas a R$ 18,82 no início da tarde. O desempenho positivo da TIM contraria a tendência do mercado, possivelmente impulsionado por expectativas otimistas em relação ao setor de telecomunicações, que tende a ser mais resiliente em momentos de instabilidade econômica. A empresa é reconhecida pela estabilidade de sua base de clientes e pela busca por inovações tecnológicas, o que pode explicar o desempenho superior ao restante do índice.
Expectativa do mercado sobre o relatório de receitas e despesas do governo
Outro fator que tem impactado o mercado brasileiro é a expectativa em torno da divulgação do relatório de receitas e despesas do governo, prevista para ocorrer ainda nesta sexta-feira. O mercado está com uma postura reticente em relação às estratégias fiscais adotadas pelo governo. “O mercado está bem reticente em relação à contabilidade mágica do governo e as manobras fiscais não ortodoxas para fechar as contas”, afirmou Marcelo Vieira, head da mesa de renda variável da Ville Capital.
Esse tipo de comentário reflete a preocupação dos investidores com as possíveis manobras fiscais que o governo pode adotar para atingir as metas fiscais sem comprometer o orçamento. Tais incertezas criam um ambiente de maior cautela nos investimentos, contribuindo para a queda generalizada no índice.
Cenário internacional: bolsas globais em queda e impactos nos Treasuries
No cenário internacional, as bolsas europeias e americanas também estão operando em queda nesta sexta-feira. As preocupações com o ritmo de crescimento das principais economias e as incertezas em torno da política monetária dos grandes bancos centrais continuam a afetar o sentimento do mercado.
Nos Estados Unidos, o mercado financeiro estava atento às declarações de Christopher Waller, diretor do Federal Reserve (Fed), que afirmou estar confortável com o ciclo de corte de juros da instituição. Esse comentário foi dado em entrevista à CNBC e, embora tenha ajudado a reduzir o ritmo de alta dos juros dos Treasuries, ainda não foi suficiente para aliviar a pressão nos mercados de ações.
Os títulos da dívida pública dos EUA, conhecidos como Treasuries, são indicadores importantes para o mercado global, e seus rendimentos afetam o apetite por risco dos investidores. Com a desaceleração da alta dos juros dos Treasuries, há um alívio temporário, mas o cenário global permanece incerto, o que continua a pressionar os mercados de renda variável.
Impacto no mercado de commodities: Siderurgia e mineração em queda
A queda nos preços das commodities, particularmente do minério de ferro e do petróleo, também contribui para o desempenho negativo das ações de siderurgia e mineração no Ibovespa. A Vale, uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo, tem sentido os efeitos da desaceleração na demanda global, especialmente da China, que enfrenta desafios em sua recuperação econômica pós-pandemia.
Além disso, as siderúrgicas brasileiras, que dependem fortemente das exportações de aço, também estão sendo afetadas pelo cenário global adverso. A queda nos preços do aço e o aumento dos custos de produção devido à alta dos preços da energia e de insumos estão pressionando as margens de lucro dessas empresas, o que se reflete na desvalorização de suas ações.
Perspectivas para o Ibovespa: Recuperação ou nova queda?
O Ibovespa está sob forte pressão tanto de fatores internos quanto externos. No Brasil, a incerteza fiscal e a expectativa em torno das políticas econômicas do governo têm gerado preocupação entre os investidores. No cenário internacional, a desaceleração econômica das principais economias e a volatilidade nos preços das commodities continuam a impactar negativamente o desempenho das ações brasileiras.
A recuperação do Ibovespa depende, em grande parte, da capacidade do governo em transmitir confiança ao mercado com políticas fiscais sólidas e transparentes, além de uma retomada do crescimento econômico global, que impulsione a demanda por commodities e melhore o cenário para as empresas exportadoras brasileiras.
Por enquanto, o índice continua a enfrentar volatilidade, e os investidores devem ficar atentos tanto às movimentações políticas no Brasil quanto aos desenvolvimentos no cenário internacional, especialmente em relação à política monetária dos Estados Unidos e à economia chinesa.