O mês de novembro marcou um acontecimento significativo na Bolsa de Valores brasileira, a B3, com a maior entrada de investidores estrangeiros desde março de 2022. Esse influxo de capital internacional, somado à valorização acumulada de 12,54% do Ibovespa, trouxe otimismo aos participantes do mercado, destacando uma mudança de cenário em comparação aos meses anteriores.
Entre os dias 1º e 30 de novembro, os investidores estrangeiros injetaram R$ 21,1 bilhões no mercado brasileiro, representando a maior entrada de capital internacional na B3 em quase dois anos. Esse movimento foi atribuído à melhora do cenário macroeconômico global, especialmente nos Estados Unidos, com indicações de que o ciclo de alta nas taxas de juros pode ter chegado ao fim.
A sinalização de que os Estados Unidos podem ter encerrado o ciclo de alta nas taxas de juros gerou um aumento no apetite por risco globalmente. Investidores, após um período focado em ativos mais seguros, como a renda fixa americana, voltaram a buscar oportunidades em mercados emergentes, impulsionando a entrada de capital estrangeiro na B3.
No entanto, ao analisar o acumulado de 2023, observa-se que, embora o saldo seja positivo, está consideravelmente abaixo do registrado no mesmo período do ano anterior. Entre janeiro e novembro de 2023, o fluxo total de capital estrangeiro na Bolsa foi de R$ 38,3 bilhões. Essa cifra é relativamente modesta, especialmente quando 55% desse montante corresponde apenas ao fluxo de novembro. Se excluirmos o desempenho do último mês, as entradas somariam R$ 17,2 bilhões.
Os especialistas apontam que comparar o saldo de 2023 com 2022 não é uma base justa, pois o ano anterior foi atípico. Em 2022, o Brasil se destacou entre os mercados emergentes devido a uma conjunção de fatores, como a reabertura dos mercados pós-pandemia, o início dos ciclos de aperto monetário nas economias desenvolvidas e a alta nos preços das commodities.
Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo, ressalta que, em 2023, o fluxo para países emergentes diminuiu devido a diversas tensões, mas enfatiza que 2022 foi o ano verdadeiramente atípico.
Com a disparada dos juros americanos em 2023, os investidores globais direcionaram seus recursos para as Treasuries, reduzindo consideravelmente os investimentos em ativos mais arriscados, como o mercado brasileiro. No entanto, especialistas veem o saldo positivo de 2023 como um ponto favorável, pois os recursos não foram totalmente retirados ao longo do ano.
Olhando para o futuro, a recente onda de otimismo impulsionada pelo desempenho de novembro elevou as projeções para 2024. A XP Investimentos, por exemplo, atualizou sua estimativa para o Ibovespa, projetando que o índice possa atingir 142 mil pontos até o final do próximo ano. A expectativa é sustentada pela perspectiva de inflação sob controle, a Selic em declínio e importantes reformas econômicas em discussão no Brasil.
Os especialistas acreditam que, se as atuais expectativas macroeconômicas positivas se concretizarem, o Brasil pode se diferenciar dos demais mercados emergentes. Além disso, a atratividade dos ativos brasileiros, considerando os múltiplos ainda descontados, pode continuar atraindo investidores estrangeiros em 2024.
Entretanto, ressalvas são feitas, e a continuidade desse cenário positivo dependerá de diversos fatores, incluindo o desempenho da economia global e as decisões do Federal Reserve em relação às taxas de juros. A perspectiva é de que, se as condições favoráveis persistirem, a Bolsa brasileira pode vivenciar um período promissor no próximo ano.