A recente análise do JP Morgan trouxe uma visão crítica sobre a situação econômica do Brasil, antecipando uma alta de 1 ponto percentual na taxa Selic durante a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 10 e 11 de dezembro de 2024. Segundo o relatório divulgado pela casa de investimentos, o atual cenário fiscal e as tensões econômicas globais forçam o Banco Central a adotar uma postura mais agressiva em relação à política monetária para conter a inflação e estabilizar a economia.
O Desafio Fiscal e a Necessidade de Ajustes na Política Monetária
O governo brasileiro recentemente anunciou um pacote fiscal com o objetivo de reduzir gastos e conter o déficit fiscal. Porém, o JP Morgan argumenta que esse pacote não foi suficiente para restaurar a credibilidade da política econômica e, em vez disso, exacerbou o conflito entre as políticas fiscal e monetária. De acordo com os analistas, as medidas fiscais não trouxeram o impacto esperado e podem até gerar consequências adversas para o controle da inflação.
O relatório sugere que, mesmo com a promessa de uma economia de R$ 30,6 bilhões em 2025, a realidade será muito mais modesta, com o impacto real sendo estimado em cerca de R$ 15 bilhões, ou aproximadamente 0,1% do PIB. Esse dado levanta uma preocupação sobre a sustentabilidade fiscal do país, principalmente quando considerado o baixo impacto das reformas anunciadas e a falta de um ajuste estrutural robusto.
Além disso, as medidas fiscais expansionistas ainda podem incluir ações como o aumento do salário mínimo, o que tende a aumentar as pressões inflacionárias, exacerbando o problema. Esse cenário coloca o Banco Central em uma posição delicada, já que o aumento de gastos pode afetar diretamente a estabilidade das expectativas de inflação, que estão desalinhadas das metas estabelecidas pelo Banco Central.
Expectativas de Alta na Selic e Cenário de Inflação
A previsão do JP Morgan é de que a taxa Selic, atualmente em 11,25%, aumente em 1 ponto percentual já na próxima reunião do Copom, elevando-a para 12,25%. Para o final de 2025, os analistas projetam uma taxa de 14,25%, o que indica que o Banco Central precisará adotar uma postura mais agressiva para controlar a inflação e manter a confiança dos investidores.
O aumento na Selic é uma medida necessária para conter a inflação, que tem sido pressionada por vários fatores, incluindo o pacote fiscal e a desvalorização do real. O relatório do JP Morgan também destaca que a recente queda da moeda brasileira, que acumulou perdas frente ao dólar, aumentou as expectativas de inflação para 2026, gerando um desalinhamento crescente em relação às metas de inflação do Banco Central.
A desvalorização do real, que já adicionou cerca de 0,3 ponto percentual às previsões de inflação para 2026, é um reflexo de diversas tensões econômicas internas e externas, incluindo as relações comerciais com a China e outras potências globais. Esse quadro coloca o Banco Central sob pressão para fazer ajustes mais rápidos na Selic, o que pode ter implicações importantes para o crescimento econômico e para a confiança do mercado.
Tensões Globais e os Riscos para a Economia Brasileira
As tensões comerciais globais, em particular com a China, são outra preocupação que o JP Morgan destacou em seu relatório. O aumento das tarifas sobre importações chinesas, que já está sendo discutido por algumas potências econômicas, pode levar a uma depreciação ainda maior do real, gerando mais pressões inflacionárias e forçando o Banco Central a adotar medidas ainda mais drásticas.
O risco de uma guerra comercial global, que envolva elevações de tarifas sobre produtos e serviços importados, tem o potencial de afetar diretamente a balança comercial do Brasil e, consequentemente, a economia doméstica. Isso pode agravar a inflação e, ao mesmo tempo, enfraquecer a moeda brasileira, dificultando o controle da inflação pelo Banco Central.
A Falta de Sinergia entre as Políticas Fiscal e Monetária
O relatório do JP Morgan também aponta um problema estrutural na sinergia entre as políticas fiscal e monetária. A falta de alinhamento entre as ações do governo federal e as medidas do Banco Central tem gerado um cenário de incertezas e dificuldades para os agentes econômicos. De acordo com os analistas, a postura mais gradual do Banco Central, adotada até agora, pode não ser suficiente para evitar que a inflação ultrapasse o limite superior da meta estabelecida pelo BC.
Esse desalinhamento entre as políticas fiscal e monetária pode tornar o controle da inflação mais difícil, com impactos negativos para a economia brasileira. Para os analistas do JP Morgan, é essencial que o Banco Central adote uma postura mais decisiva em relação à Selic, a fim de estabilizar as expectativas de inflação e garantir a confiança dos investidores.
Projeções de Crescimento Econômico e Ajustes Necessários
O cenário projetado pelo JP Morgan para o Brasil em 2025 e 2026 não é otimista. Embora o governo tenha anunciado um pacote fiscal que promete uma economia de R$ 30,6 bilhões em 2025, a casa de investimentos acredita que o impacto real será muito inferior, e o déficit fiscal pode continuar crescendo, o que resulta em um risco de deterioração da situação fiscal do país.
Além disso, a antecipação de uma reforma tributária que propõe reduzir impostos para a classe média e aumentar a carga tributária sobre os mais ricos pode gerar um impacto negativo nas receitas do governo. Caso o Congresso aprove mais alívios fiscais do que as compensações tributárias previstas, o impacto líquido pode ser ainda mais prejudicial, com uma possível redução de 0,3% do PIB e um aumento do déficit fiscal em 2026.
O relatório do JP Morgan conclui que o Brasil enfrenta um desafio significativo em relação à sua política econômica. A desvalorização do real, as tensões globais e o pacote fiscal do governo, longe de estabilizar a economia, ampliaram as pressões inflacionárias. Isso coloca o Banco Central em uma posição delicada, exigindo uma postura mais assertiva e rápida no ajuste da taxa Selic para evitar que a inflação ultrapasse os limites de controle.
Com um cenário fiscal e monetário desafiador, a necessidade de uma política monetária mais agressiva se torna cada vez mais urgente para garantir a estabilidade econômica do Brasil nos próximos anos.