Os juros futuros encerraram a segunda-feira (8) perto da estabilidade, com viés de baixa, após uma manhã de alta moderada. A melhora refletiu o alívio no mercado de Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) e de câmbio, se sobrepondo à reação negativa ao novo aumento das medianas de inflação na pesquisa Focus, que provocou a elevação das taxas durante a manhã. O anúncio de reajuste nos preços de combustíveis pela Petrobras (PETR4), mesmo com impacto significativo na inflação, foi recebido com tranquilidade, devido à percepção de redução da ingerência política sobre a estatal.
Taxas de Juros e Reação do Mercado
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,575%, de 10,596% no ajuste de sexta-feira. A taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,21%, de 11,24% no último ajuste. Já o DI para janeiro de 2027 registrou 11,51% (11,55% na sexta-feira) e o DI para janeiro de 2029 passou de 11,93% para 11,90%.
O mercado iniciou o dia ensaiando uma realização de lucros acumulados na semana passada, quando a curva devolveu prêmios devido à melhora da percepção fiscal e ao ambiente externo mais favorável ao risco. As taxas subiam apesar do IGP-DI de junho, de 0,50%, ter desacelerado mais do que a mediana das estimativas indicava (0,58%), pressionadas pelo Boletim Focus. A mediana para o IPCA de 2024 avançou de 4% para 4,02% e para 2025, horizonte relevante da política monetária, subiu de 3,87% para 3,88%. Para 2026, permaneceu em 3,60%.
Influência das Expectativas de Inflação
De acordo com os economistas do Citi, “apesar do Copom hawkish, com manutenção da Selic e sem indicação de mais cortes à frente, as expectativas ainda não se estabilizaram, desancoradas em relação à meta de 3%”. O sócio e estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, destacou que a piora nas expectativas de inflação foi determinante para o comportamento das taxas pela manhã, juntamente com o ligeiro aumento nos retornos dos títulos do Tesouro dos EUA.
Mais tarde, houve um alívio nos Treasuries, favorecendo o câmbio e a curva local. O dólar, naquele momento, zerou a alta e voltou a rodar perto de R$ 5,45, após ter se aproximado novamente de R$ 5,50 nas máximas da manhã. No fechamento, era cotado em R$ 5,4766.
Reajuste nos Preços dos Combustíveis
No início da segunda etapa, veio o anúncio do reajuste nos preços de combustíveis, mas as taxas não reagiram. Mais que isso, zeraram a alta e bateram mínimas da sessão. Os aumentos de R$ 0,20 no litro da gasolina e de R$ 3,10 no botijão de GLP vão vigorar a partir de amanhã, com impacto calculado entre 16 e 21 pontos-base no IPCA, entre julho e agosto.
Várias casas revisaram para cima suas estimativas de inflação para 2024, como a Quantitas Asset, que elevou sua projeção de 4,1% para 4,3%. Isso deve contrair nova deterioração nas medianas de IPCA nas próximas pesquisas Focus.
Impacto da Política de Preços da Petrobras
Por outro lado, a decisão sugere que, apesar do impacto inflacionário, a política de preços da Petrobras está acompanhando as forças de mercado, o que impulsionou as ações da companhia e neutralizou o efeito nocivo sobre a curva. O ajuste na gasolina é visto como necessário para suavizar parte da defasagem, em torno de 18%, em relação aos preços internacionais, e não cobre totalmente essa diferença. “Caso a Petrobras venha a zerar a defasagem da gasolina, o impacto no IPCA será de 25 pontos-base”, afirmou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Perspectivas Fiscais e Externas
A curva de juros futuros refletiu não apenas os ajustes locais, mas também as condições do mercado internacional. O ambiente externo mais propício ao risco contribuiu para uma postura mais otimista dos investidores, apesar das incertezas em relação às metas inflacionárias. A política monetária do Federal Reserve e as flutuações nos retornos dos Treasuries dos EUA desempenharam um papel crucial na dinâmica do mercado doméstico.
O mercado de juros futuros apresentou uma jornada marcada pela estabilidade com viés de baixa, influenciada por uma combinação de fatores internos e externos. A reação inicial à piora nas expectativas de inflação foi mitigada pelo alívio nos Treasuries e pela recepção tranquila ao reajuste dos preços dos combustíveis pela Petrobras. Acompanhar as políticas de preços e a evolução das expectativas inflacionárias será fundamental para entender os próximos movimentos do mercado.