Manifestações Golpistas: Mauro Cid Reafirma Envolvimento de Braga Netto em Financiamento Ilegal
Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro detalha operação com caixa de vinho recheada de dinheiro para atos antidemocráticos
As investigações sobre as manifestações golpistas que tomaram o país em 2022 continuam revelando novos desdobramentos explosivos. Nesta nova fase, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, reapareceu no Supremo Tribunal Federal (STF) com declarações contundentes. Segundo Cid, o general Walter Braga Netto teria entregado pessoalmente uma caixa de vinho com dinheiro vivo destinado a financiar os atos antidemocráticos que sucederam as eleições daquele ano.
Essa nova informação é parte do processo investigativo que visa desmontar a rede de apoio logístico e financeiro que sustentou as mobilizações ilegais em frente a quartéis do Exército Brasileiro após a derrota de Bolsonaro nas urnas. As declarações de Mauro Cid, que firmou acordo de colaboração premiada, colocam diretamente figuras centrais do bolsonarismo sob o foco do STF.
A dinâmica do repasse de verba para atos antidemocráticos
Segundo o relato de Mauro Cid, um oficial do Exército, identificado como major Oliveira, o procurou em novembro de 2022 solicitando recursos para viabilizar o transporte de manifestantes do Rio de Janeiro até Brasília. A quantia pedida foi de R$ 100 mil. Cid, então, acionou o general Braga Netto, buscando uma solução rápida para atender à solicitação.
O Partido Liberal (PL), legenda de Bolsonaro, foi o primeiro caminho tentado. No entanto, Cid afirmou que a resposta do partido foi negativa quanto ao uso de verba oficial. Diante da negativa, Braga Netto teria então entregue a Mauro Cid uma caixa de vinho contendo um envelope com dinheiro, que posteriormente foi repassado ao major Oliveira no Palácio da Alvorada.
Essa ação levanta suspeitas graves sobre o envolvimento direto de militares e membros da cúpula política na estruturação financeira das manifestações golpistas, que vinham sendo impulsionadas por setores ultraconservadores da sociedade, incluindo, possivelmente, empresários ligados ao agronegócio.
Suspeitas sobre a origem do dinheiro
Mauro Cid declarou que não abriu o envelope e, portanto, desconhece o valor exato da quantia. No entanto, ele acredita que o montante era inferior aos R$ 100 mil solicitados inicialmente. Apesar da incerteza, o ex-ajudante aponta o setor do agronegócio como possível financiador oculto dos protestos, por meio de doações em espécie entregues por intermediários.
A suspeita ganha força diante de outros indícios levantados por investigadores da Polícia Federal, que vêm rastreando fluxos financeiros não declarados em meio às movimentações das manifestações golpistas. O uso de dinheiro vivo, embalado em itens aparentemente inofensivos como caixas de vinho, é uma prática comum em esquemas que visam evitar rastreamento bancário e driblar a fiscalização dos órgãos de controle.
Plano Punhal Verde e Amarelo: menção indireta
Outro ponto relevante das declarações de Cid foi a referência ao chamado Plano Punhal Verde e Amarelo, um suposto plano articulado para tomada de poder por meio de intervenção militar. Embora o ex-ajudante afirme ter tomado conhecimento do plano apenas por meio da imprensa, sua menção em meio a um interrogatório oficial do STF reforça a complexidade e o grau de articulação das ações golpistas.
Essa revelação amplia o campo de investigação para além do financiamento pontual de transporte de manifestantes, atingindo a estrutura estratégica que pode ter envolvido militares da ativa e da reserva, lideranças políticas e empresários com forte influência econômica.
Interrogatório conduzido por ministros do STF
O interrogatório foi acompanhado pelo ministro Luiz Fux, pelo relator do caso, Alexandre de Moraes, e pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Durante a oitiva, Fux questionou Mauro Cid sobre a certeza de que o envelope continha dinheiro, mesmo sem ele tê-lo aberto. Cid reafirmou sua convicção, baseada no contexto e no peso do objeto.
Esse detalhe, embora pareça menor, é crucial do ponto de vista jurídico, pois serve como indicativo da materialidade do crime. A natureza sigilosa e informal da transação configura possível crime de financiamento ilícito de atos antidemocráticos, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Repercussões políticas e jurídicas das revelações
As novas declarações de Mauro Cid geram forte impacto político e judicial. O nome de Braga Netto, que já estava sob investigação, ganha ainda mais evidência. Como ex-ministro da Casa Civil e figura próxima a Jair Bolsonaro, Braga Netto agora é colocado no centro de um esquema de financiamento clandestino para manifestações golpistas.
As investigações também indicam que essa rede pode não ter sido pontual. Há indícios de que o financiamento e a logística dos atos foram sustentados por uma estrutura organizada, com divisão de tarefas e recursos vindos de fontes privadas, especialmente do setor agroindustrial e empresarial conservador.
O avanço das apurações pode resultar em novas prisões preventivas, bloqueio de bens e até denúncias formais por crimes contra o Estado Democrático de Direito. O STF já indicou que a prioridade máxima é desarticular qualquer estrutura que tenha colocado em risco a ordem institucional.
Militares e o financiamento do caos
A inserção de militares no financiamento das manifestações golpistas acende um alerta grave: o envolvimento das Forças Armadas em atos que afrontam a Constituição e colocam em xeque o Estado de Direito. Isso inclui tanto a ativa quanto a reserva, como nos casos de Braga Netto e outros oficiais que são alvos de apuração.
O uso da imagem das Forças Armadas para legitimar protestos ilegais compromete a credibilidade institucional e reforça a necessidade de um processo de responsabilização rigoroso. As ações do STF apontam para uma linha de atuação que busca impedir a politização das forças militares e restaurar os princípios constitucionais.
Financiamento do bolsonarismo sob investigação
Não é a primeira vez que surgem denúncias sobre esquemas paralelos de financiamento ligados ao bolsonarismo. O uso de dinheiro vivo, a participação de empresários e a ausência de documentação formal nas transações são características comuns em outros episódios investigados.
O caso da caixa de vinho com dinheiro entregue por Braga Netto se soma a um histórico de movimentações atípicas envolvendo membros próximos ao ex-presidente. O próprio Mauro Cid já está envolvido em outras investigações, incluindo a tentativa de venda de joias recebidas como presente oficial do governo.
As manifestações golpistas, portanto, se mostram como parte de um movimento mais amplo, que envolveu planejamento logístico, financiamento paralelo e participação de atores de alta patente e influência política. O STF agora tem nas mãos o desafio de desmontar toda a rede e responsabilizar os envolvidos.






