Anunciado na última hora como candidato unificado do peronismo para eleição presidencial da Argentina, o atual ministro da Economia Sergio Massa terá pela frente o desafio de convencer os eleitores de que pode apresentar resultados econômicos diferentes do que o do governo a que pertence há quase um ano.
A coalizão peronista governista da Argentina anunciou na sexta-feira que apoiará o ministro da Economia, Sergio Massa, como seu único candidato às eleições presidenciais de outubro, apostando que ele pode superar a inflação de mais de 114% ao ano e o aprofundamento da crise financeira para vencer a oposição de direita.
“Ele vai se apresentar como alguem que vai tentar encontrar esse fino equilíbrio de dizer que com ele as coisas vão estar melhor do que neste governo, mas sem criticar o governo atual”, disse o economista Martín Kalos, diretor da EPyCA Consultores, de Buenos Aires.
Sergio Massa — Foto: Anita Pouchard Serra/Bloomberg
É difícil numa economia em que a inflação se acelera, com a indústria crescendo muito pouco, com o campo sofrendo os efeitos da seca, que um ministro da Economia seja bem sucedido numa eleição. “É provável que Massa siga à frente do Ministério da Economia pelo máximo de tempo que puder, até que passe o comando para alguém de sua equipe para que siga com as difíceis negociações com o FMI — das quais ele é considerado pelo fundo uma figura-chave”, disse.
Massa tenta obter do Fundo um adiantamento de US$ 10 bilhões ainda para este ano — uma negociação complicada em razão das dificuldades da Argentina de apresentar garantias de que possa pagar as parcelas do empréstimo de US$ 44,5 bilhões concedido pelo FMI em março do ano passado. Na semana passada, o governo argentino pediu o adiamento do pagamento da parcela de junho, de US$ 2,7 bilhões, para o fim do mês.
“Na campanha, Massa deve adotar o discurso de que fez as coisas da melhor maneira que pôde fazer, mas que agora há espaço para fazer muito melhor no próximo governo”, disse Kalos.
O anúncio de Massa como candidato único do governo veio apenas horas depois que outros dois políticos peronistas, o ministro do Interior Eduardo “Wado” de Pedro, aliado da vice-presidente Cristina Kirchner, e o moderado Daniel Scioli, disseram que disputariam a indicação do partido governista nas Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (Paso) de agosto.
Há meses, analistas argentinos vinham reiterando que Massa só se apresentaria como candidato do governo se não tivesse de disputar as primárias com outros pre-candidatos.
Nem Cristina nem o presidente Alberto Fernández, que têm altas taxas de rejeição entre os eleitores, pretendiam se apresentar novamente como candidatos.
Na visão de especialistas, Massa, com a candidatura ao primeiro turno de outubro já assegurada, pode sair em vantagem em relação aos candidatos da oposição moderada — Patricia Bullrich e o prefeito de Buenos Aires Horacio Rodríguez Larreta, que disputarão a indicação da coalizão Juntos por el Cambio, que tem como líder o ex-presidente de centro direita Mauricio Macri.
Por enquanto, com a candidatura já definida meses atrás, o candidato mais bem colocado na maioria das pesquisas de intenção de voto é o ultradireitista Javier Milei — que defende a dolarização total da Argentina e o fechamento do banco central.
A aposta dos peronistas, de acordo com cientistas políticos do país, é a de que Milei e os candidatos do Juntos por el Cambio dividam seus votos, ampliando as chances de Massa.
Massa é considerado um operador político pragmático e habilidoso, equidistante das facções lideradas por Cristina e pelo presidente Fernández no âmbito do peronismo.
A Argentina falhou em cumprir várias metas do FMI, mas argumenta que merece tratamento especial porque uma forte seca prejudicou as exportações de grãos. Depois da longa reunião com Cristina em que aceitou ser candidato — graças às desistências de Scioli, que é embaixador no Brasil, e de De Pedro — ficou definido também o novo nome da coalizão governista, que passa de “Frente de Todos” para “Unión por la Patria”.