Mercado de capitais recua 10,5% em 2025, mas segue como pilar de financiamento corporativo no Brasil
Panorama do mercado de capitais brasileiro em 2025
O mercado de capitais brasileiro iniciou 2025 com desempenho abaixo do registrado no mesmo período do ano anterior. De acordo com dados divulgados pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), as captações entre janeiro e maio somaram R$ 246,4 bilhões, representando uma queda de 10,5% em relação ao mesmo intervalo de 2024.
Embora os números revelem retração, os volumes seguem em patamar elevado, evidenciando que o mercado de capitais ainda cumpre papel fundamental no financiamento de projetos, reestruturação de dívidas e operações corporativas no Brasil. Somente em maio, por exemplo, foram captados R$ 43,6 bilhões por meio de diversas operações financeiras.
Debêntures mantêm liderança nas captações
As debêntures continuam sendo a principal ferramenta de captação no mercado de capitais, com volume de R$ 155,5 bilhões no acumulado do ano. Apesar da queda de 3,2% frente ao mesmo período de 2024, a representatividade das debêntures no total das emissões permanece dominante.
Os recursos captados com debêntures foram majoritariamente destinados a:
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Investimentos em infraestrutura (39,9%)
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Pagamento de dívidas (21,6%)
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Gestão ordinária de empresas (16,1%)
Outro ponto positivo foi o alongamento do prazo médio das emissões, que passou de 7,5 anos para 9,2 anos. Esse comportamento indica maior confiança dos investidores no horizonte de longo prazo das companhias emissoras.
Notas comerciais crescem entre empresas de menor porte
Outro instrumento que apresentou crescimento relevante foi o das notas comerciais, voltadas especialmente para empresas de menor porte. Essas emissões somaram R$ 10,7 bilhões, o que representa um crescimento de 41,5% em comparação com 2024.
Esse movimento reflete a busca por alternativas de financiamento fora do crédito bancário tradicional, favorecendo a diversificação de fontes de recursos para empresas com menor estrutura e histórico de mercado.
Securitização registra retração generalizada
Os instrumentos de securitização, como FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), apresentaram queda expressiva nas emissões ao longo de 2025.
Confira os números:
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FIDCs: R$ 30,4 bilhões (queda de 8%)
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CRIs: R$ 18,3 bilhões (queda de 32,5%)
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CRAs: R$ 12,1 bilhões (queda de 29%)
Esses dados apontam uma desaceleração das operações de securitização no país, em linha com o cenário de maior cautela dos investidores frente a riscos setoriais e regulatórios.
Fundos de investimento apresentam desempenho misto
O desempenho dos fundos de investimento no mercado de capitais foi heterogêneo nos primeiros cinco meses do ano.
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Os Fundos Imobiliários (FIIs) registraram uma queda significativa de 44,3%, com captação total de R$ 13 bilhões.
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Em contrapartida, os Fiagros (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) mostraram fôlego, com crescimento de 30,9% e captação de R$ 1,7 bilhão.
A diferença de desempenho reflete o apetite seletivo do investidor, que tem demonstrado preferência por ativos atrelados ao agronegócio, setor que se mantém resiliente mesmo diante de oscilações econômicas.
Mercado de ações continua desaquecido
No campo da renda variável, o apetite do investidor ainda é limitado. As ofertas subsequentes de ações (follow-ons) somaram R$ 3,5 bilhões até maio de 2025, o que representa uma retração de 27,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O movimento reforça a cautela dos agentes econômicos frente às oscilações do mercado acionário e ao cenário de juros ainda elevados, que reduzem o atrativo dos papéis negociados na bolsa em comparação com investimentos de renda fixa.
Empresas brasileiras ampliam emissões no exterior
Apesar da queda nas captações internas, as empresas brasileiras buscaram alternativas de financiamento fora do país. O mercado internacional de renda fixa registrou captação de US$ 13,1 bilhões por empresas nacionais, crescimento de 18,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
A distribuição dessas emissões foi a seguinte:
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Empresas privadas: 59,2%
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Instituições financeiras: 21,9%
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República Federativa do Brasil: 18,8%
Esse desempenho revela o apetite internacional por ativos brasileiros, especialmente em um contexto de maior estabilidade cambial e busca por diversificação geográfica nos portfólios globais.
Tendências e perspectivas para o mercado de capitais em 2025
Mesmo com a retração nas captações gerais, o mercado de capitais brasileiro mantém-se relevante. A diversificação dos instrumentos, como debêntures, notas comerciais, fundos e securitizações, permite que empresas de todos os portes encontrem alternativas viáveis de financiamento.
A expectativa para os próximos meses é de manutenção do atual nível de atividade, com variações sazonais influenciadas por fatores macroeconômicos, como a política monetária do Banco Central, expectativas fiscais, e o apetite dos investidores institucionais.
Caso o cenário de inflação sob controle e tendência de queda na taxa Selic se concretize, pode haver um reaquecimento das emissões no segundo semestre, especialmente nos segmentos de renda variável e fundos imobiliários, que tendem a se beneficiar de um ambiente de juros mais baixos.
Importância do mercado de capitais para a economia brasileira
O papel do mercado de capitais vai muito além da simples captação de recursos. Ele funciona como um motor para o crescimento econômico sustentável ao oferecer às empresas acesso a capital de longo prazo, incentivar boas práticas de governança e promover maior transparência nas relações com investidores.
Com o avanço da educação financeira e o fortalecimento do ecossistema regulatório, espera-se que o mercado continue se desenvolvendo de maneira sólida e segura, consolidando-se como um canal cada vez mais relevante para o financiamento da economia brasileira.






