Ministério Público do Rio analisa câmeras corporais de policiais após operação que deixou 121 mortos na Penha e no Alemão
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) determinou a análise das imagens das câmeras corporais utilizadas pelos policiais que participaram da Operação Contenção, realizada na terça-feira (28) nos complexos da Penha e do Alemão, na capital fluminense. A ação, considerada uma das mais letais da história do estado, resultou na morte de 121 pessoas, incluindo quatro policiais.
Segundo o órgão, a decisão de examinar as gravações faz parte do cumprimento dos protocolos de controle externo da atividade policial, previstos em decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Desde as primeiras horas da operação, o MPRJ afirmou ter ativado o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (GAESP), responsável por receber denúncias e monitorar eventuais abusos cometidos por agentes públicos.
MPRJ aciona protocolos do STF e acompanha necropsias
De acordo com o procurador-geral de Justiça do Rio, Antonio José, o Ministério Público do Rio adotou todas as medidas legais e técnicas para garantir a apuração transparente e imparcial dos fatos.
O órgão enviou três peritos legistas e um promotor de Justiça ao Instituto Médico-Legal (IML) para acompanhar os exames de necropsia das vítimas, utilizando scanners de alta precisão. Essa tecnologia permite reconstruir a dinâmica dos confrontos e identificar trajetórias balísticas, ferimentos e possíveis excessos.
Além das imagens das câmeras corporais, o MPRJ requisitou:
-
Relatórios detalhados do efetivo policial envolvido;
-
Listagem completa de armamentos utilizados;
-
Relação de materiais apreendidos durante a ação;
-
Depoimentos de testemunhas e policiais participantes.
O Ministério Público também acompanhará as oitivas conduzidas pela Polícia Civil e realizará investigações próprias. Famílias das vítimas poderão buscar apoio e orientação no Núcleo de Atendimento às Vítimas (NAV/MPRJ).
Instituto Médico-Legal confirma mais de 80 necropsias
O IML informou que, até a manhã de quarta-feira (30), cerca de 80 corpos já haviam passado por necropsia, com parte deles liberada para as famílias. O atendimento está sendo realizado em um posto avançado do Detran-RJ, próximo ao instituto, enquanto corpos não relacionados à operação foram encaminhados temporariamente para o IML de Niterói, a fim de evitar sobrecarga estrutural.
O procurador-geral explicou que o cruzamento entre laudos periciais, vídeos das câmeras corporais e depoimentos de campo permitirá reconstruir com precisão técnica os acontecimentos. O objetivo, segundo ele, é identificar responsabilidades, apurar eventuais falhas operacionais e garantir a transparência do processo investigativo.
Operação Contenção foi resultado de investigação de um ano
De acordo com o MPRJ, a Operação Contenção teve como base uma investigação conduzida há mais de um ano pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). O inquérito teria identificado lideranças do Comando Vermelho atuando nas comunidades da Penha e do Alemão, além de estruturas de logística e distribuição de drogas.
O procurador-geral destacou que a operação não tinha caráter de retomada territorial, mas de cumprimento de ordens judiciais expedidas pelo Poder Judiciário, a pedido do próprio Ministério Público.
“As polícias deram cumprimento a determinações judiciais. Todas as mortes serão investigadas com rigor técnico, sem prejulgamentos e com respeito ao devido processo legal”, afirmou Antonio José.
Investigação independente e controle externo da atividade policial
O MPRJ reforçou que a análise das câmeras corporais será essencial para avaliar a conduta individual de cada policial envolvido na operação. As imagens permitirão determinar em que circunstâncias ocorreram os disparos, avaliar a proporcionalidade do uso da força e verificar possíveis violações de direitos humanos.
O procedimento faz parte das novas diretrizes impostas pelo STF, que exigem transparência, gravação de operações e preservação de provas audiovisuais em ações policiais realizadas em comunidades.
O Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (GAESP) permanece de plantão para receber denúncias e solicitações da sociedade civil, com a promessa de resposta rápida e técnica em casos de indícios de irregularidade.
Declarações do procurador-geral e críticas à fragmentação da segurança pública
Durante coletiva de imprensa, o procurador-geral de Justiça Antonio José afirmou que a operação será analisada com base em evidências técnicas, e não sob pressão política. Ele reforçou que o Ministério Público do Rio não tolerará abusos, mas também não fará condenações precipitadas.
Segundo ele, a tragédia evidencia a necessidade de reformulação da política de segurança pública no Brasil.
“O problema da segurança pública não é apenas das polícias ou do Ministério Público. É do Estado brasileiro. É indispensável que União, Estado e Município elaborem uma política de segurança pública de Estado, e não de governo”, disse o procurador.
Ele alertou ainda que a falta de integração entre as esferas federativas e a fragmentação institucional favorecem a atuação de organizações criminosas.
Contexto: letalidade policial em alta no Rio de Janeiro
A operação que deixou 121 mortos reacendeu o debate sobre a letalidade policial no Rio de Janeiro, uma das maiores do país. Dados recentes do ISP (Instituto de Segurança Pública) indicam que o estado registrou mais de 1.000 mortes decorrentes de intervenção policial apenas em 2025, número superior ao total do ano anterior.
Especialistas apontam que o uso das câmeras corporais é uma ferramenta fundamental para reduzir a letalidade, aumentar a transparência e proteger tanto policiais quanto cidadãos.
O MPRJ, por sua vez, avalia que o cruzamento das imagens com laudos e perícias poderá fornecer provas irrefutáveis sobre a legalidade das ações executadas durante a operação.
O papel do MPRJ na reconstrução dos fatos
A atuação do Ministério Público do Rio na análise do caso reforça o seu papel constitucional de fiscalizar a atividade policial e garantir o cumprimento das leis.
A equipe de promotores e peritos designada trabalhará na identificação de responsabilidades penais e administrativas, além de propor ajustes institucionais para evitar tragédias semelhantes no futuro.
O objetivo é assegurar que todas as mortes sejam devidamente investigadas, com respeito ao devido processo legal, e que as vítimas e familiares tenham acesso à verdade e à justiça.
Impactos políticos e sociais da operação
O episódio já provoca repercussão nacional e internacional, com organizações de direitos humanos cobrando transparência e responsabilização das autoridades envolvidas.
O governo estadual, por sua vez, defende que a operação foi necessária para combater facções criminosas e que todas as ações seguiram ordens judiciais.
Enquanto isso, o Ministério Público do Rio busca equilibrar rigor técnico e isenção institucional, num momento em que o tema da segurança pública volta ao centro do debate político no país.
MPRJ promete rigor técnico e transparência total na apuração
A investigação conduzida pelo Ministério Público do Rio sobre a Operação Contenção representa um marco no debate sobre controle externo da atividade policial no Brasil.
A análise detalhada das câmeras corporais, laudos periciais e relatórios operacionais será fundamental para reconstruir os fatos, identificar eventuais excessos e garantir que a justiça prevaleça, seja para as vítimas, seus familiares ou os próprios agentes públicos.
Com isso, o MPRJ reafirma seu compromisso com a transparência, a legalidade e os direitos humanos, buscando transformar um episódio de extrema violência em um ponto de inflexão na política de segurança pública fluminense.






