Polícia Federal revela conversas de Bolsonaro e Mauro Cid após descoberta de minuta do golpe
Brasília – Em um capítulo significativo das investigações sobre os atos golpistas de 2023, a Polícia Federal (PF) divulgou novas informações que lançam luz sobre a reação do ex-presidente Jair Bolsonaro e seu círculo mais próximo diante da apreensão de uma minuta de golpe na casa do ex-ministro Anderson Torres. O episódio ocorreu em janeiro de 2023 e revelou tensões internas e estratégias de defesa adotadas pelo grupo político envolvido.
Minuta do Golpe: O Estopim das Preocupações
A apreensão da minuta ocorreu em 10 de janeiro de 2023, quando a PF cumpriu mandados de busca na residência de Anderson Torres, então ex-ministro da Justiça. O documento, que detalhava um plano para contestar o resultado das eleições presidenciais de 2022, foi o ponto central de uma investigação que se estendeu até os círculos mais íntimos de Bolsonaro. A análise de mensagens extraídas do celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, revelou a preocupação imediata do grupo com as implicações do achado.
De acordo com o relatório da PF, Jair Bolsonaro foi um dos primeiros a reagir. Ele enviou um link com uma matéria jornalística sobre a apreensão da minuta a Mauro Cid. A partir daí, iniciou-se uma série de conversas entre Cid, Marcelo Camara, Filipe Martins e o próprio Bolsonaro, discutindo o impacto da descoberta.
Estratégias de Defesa e Desqualificação
Um aspecto marcante do relatório foi a tentativa do grupo de desqualificar a importância da minuta apreendida. Marcelo Camara, após receber um link sobre o tema, comentou que o documento “não seguiu porque poderia não ter amparo jurídico”. Essa declaração, segundo a PF, demonstra que Camara tinha pleno conhecimento do conteúdo e das intenções por trás do documento.
A PF também destacou como Filipe Martins, assessor especial de Bolsonaro, buscou alinhamento com a estratégia de defesa do advogado de Anderson Torres. Ele encaminhou mensagens a Mauro Cid com explicações que tentavam minimizar a gravidade do documento. Segundo o relatório, Martins afirmou: “A linha do advogado dele”, indicando um esforço coordenado para consolidar uma narrativa pública favorável.
Tensão Interna e Disseminação de Desinformação
Uma tentativa adicional do grupo foi explorar um erro publicado inicialmente por um veículo de imprensa, que afirmou que a minuta havia sido escrita à mão. Embora a informação tenha sido corrigida pouco depois, os envolvidos viram na notícia uma oportunidade para desacreditar a legitimidade do material apreendido. Essa postura reflete uma preocupação maior em influenciar a opinião pública e minimizar possíveis consequências legais.
Plano Amplo e Conexões Políticas
As revelações da PF fazem parte de uma investigação mais ampla sobre os atos golpistas que culminaram nos ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Para a PF, as conversas evidenciam não apenas o conhecimento prévio do grupo sobre a minuta, mas também seu papel em estratégias que poderiam desestabilizar o processo democrático.
Esse contexto amplia a gravidade das acusações contra Bolsonaro e seus aliados. Além das mensagens reveladas, a investigação aponta que o grupo estaria discutindo planos de fuga para Bolsonaro desde 2021, em caso de agravamento das investigações contra ele.
Repercussão e Próximos Passos
As descobertas aumentaram a pressão sobre o ex-presidente e seu círculo de aliados, já que a PF concluiu, em relatório recente, que Bolsonaro “planejou e atuou de forma direta e efetiva” na tentativa de golpe. Essas evidências também reforçam a narrativa de que os atos de 8 de janeiro não foram isolados, mas parte de uma estratégia coordenada.
No cenário político, a divulgação das mensagens reacendeu debates sobre a responsabilidade de líderes políticos em proteger a democracia. Parlamentares e juristas pedem celeridade na responsabilização dos envolvidos, enquanto apoiadores de Bolsonaro continuam a questionar a imparcialidade das investigações.
A revelação de novos elementos, como essas conversas, pode servir de base para processos judiciais contra Bolsonaro e seus aliados, fortalecendo os argumentos da acusação em casos de abuso de poder e conspiração contra o Estado Democrático de Direito.