Nesta segunda-feira, 23 de setembro, a Azul (AZUL4) recebeu um duro golpe do mercado financeiro: a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou seu rating corporativo de CAA1 para CAA2, um indicativo da crescente deterioração financeira da companhia aérea. O impacto foi imediato, com as ações da empresa abrindo o pregão em forte queda, sendo negociadas a R$ 5,06 por volta das 10h40, com uma desvalorização de 3,80%.
A reavaliação da Moody’s também afetou as dívidas seniores garantidas da Azul e da Azul Secured Finance LLP (Delaware), reforçando os desafios financeiros enfrentados pela companhia, que lida com um ambiente macroeconômico desfavorável e um balanço patrimonial pressionado.
Rebaixamento de rating: reflexo dos desafios financeiros
O rebaixamento pela Moody’s não se limita ao rating corporativo da Azul. A agência também reclassificou a dívida sênior garantida da companhia de B3 para CAA1 e o rating das dívidas seniores garantidas da Azul Secured Finance LLP de CAA1 para CAA2. Essas mudanças refletem a avaliação de um aumento significativo nos riscos de liquidez da empresa, que enfrenta dificuldades em gerar fluxo de caixa suficiente para lidar com suas obrigações financeiras de curto prazo.
Segundo o relatório da Moody’s, a decisão de rebaixar a classificação da Azul está atrelada aos fracos resultados financeiros registrados pela empresa no primeiro semestre de 2024. Embora a companhia tenha conseguido gerar R$ 1,2 bilhão em EBIT (Lucro antes de Juros e Impostos), essa performance foi neutralizada pela alta demanda de capital de giro e despesas relacionadas a dívidas e arrendamentos. Como resultado, a Azul terminou o semestre com uma queima de caixa de R$ 1,2 bilhão.
Situação de caixa e riscos de liquidez
O relatório da Moody’s destaca uma queda preocupante na posição de caixa da Azul, que caiu de R$ 1,9 bilhão no final de 2023 para R$ 1,4 bilhão em junho de 2024. Além disso, a companhia aérea tem obrigações financeiras e de arrendamento de R$ 5,9 bilhões vencendo a curto prazo, o que eleva os riscos de liquidez.
Esse cenário força a Azul a buscar novas fontes de financiamento e renegociar contratos com arrendadores para equilibrar suas necessidades de caixa. De acordo com o relatório, o rebaixamento reflete a “exposição da empresa à volatilidade do setor aéreo e aos crescentes riscos macroeconômicos”, combinada com sua alta alavancagem e cobertura de juros insuficiente.
A Moody’s também indicou que a capacidade da Azul de gerar fluxo de caixa livre (FCF) permanece limitada, o que compromete suas perspectivas de recuperação no curto prazo. A combinação de um mercado aéreo volátil, indicadores econômicos fracos e a alta dívida continua pressionando a performance financeira da empresa.
Impacto no mercado: queda das ações e desconfiança dos investidores
O impacto do rebaixamento da Moody’s nas ações da Azul foi imediato. Logo após a abertura do pregão, as ações da empresa registraram queda de 3,80%, sendo negociadas a R$ 5,06. Essa desvalorização reflete a crescente desconfiança dos investidores em relação à capacidade da companhia de superar seus desafios financeiros no curto e médio prazo.
O mercado financeiro é sensível a movimentos como o rebaixamento de rating, que indicam riscos crescentes de inadimplência e dificuldades de liquidez. No caso da Azul, a piora na avaliação de crédito pode aumentar os custos de captação de recursos, além de dificultar futuras negociações com credores e investidores institucionais.
Desafios no setor aéreo e macroeconômico
O setor aéreo é historicamente volátil, e as companhias que operam nesse mercado precisam lidar com uma série de variáveis que impactam diretamente seus resultados financeiros. No caso da Azul, a empresa está exposta a uma combinação de fatores negativos, incluindo o aumento nos custos operacionais, como combustíveis e arrendamentos, e a flutuação na demanda por viagens aéreas, que ainda não se recuperou completamente dos efeitos da pandemia de COVID-19.
Além disso, o cenário macroeconômico global, com juros elevados e desaceleração econômica, agrava a situação financeira da companhia. A alta dos juros encarece o custo das dívidas e reduz a capacidade de investimento das empresas, enquanto o aumento da inflação pressiona os custos operacionais. A Azul, que já possui uma estrutura altamente alavancada, enfrenta dificuldades adicionais para equilibrar suas finanças nesse ambiente adverso.
Estratégias para recuperação: renegociação e financiamento adicional
Diante desse cenário desafiador, a Azul terá de buscar alternativas para recuperar sua posição financeira e reduzir os riscos de liquidez. Segundo o relatório da Moody’s, a companhia aérea deverá recorrer a novas negociações com arrendatários e credores, além de buscar financiamento adicional para cobrir suas necessidades de caixa no curto prazo.
Uma das estratégias que a empresa pode adotar é a renegociação de prazos de vencimento de suas obrigações financeiras, alongando seus compromissos de dívida para evitar um colapso de liquidez. Além disso, a Azul pode explorar novas fontes de financiamento no mercado de capitais, seja por meio de emissões de títulos de dívida ou pela captação de recursos com investidores estratégicos.
Outra frente de atuação pode envolver a reestruturação de seus custos operacionais, com o objetivo de melhorar a eficiência e reduzir o impacto das despesas fixas sobre o caixa da empresa. Medidas como revisão de contratos de arrendamento de aeronaves, otimização de rotas e controle rigoroso de despesas podem contribuir para uma recuperação gradual dos indicadores financeiros da companhia.
Perspectivas para o futuro
A Azul enfrenta um dos momentos mais desafiadores de sua história recente, com um balanço patrimonial fragilizado e pressões de liquidez significativas. No entanto, a empresa ainda possui ativos valiosos, como uma frota moderna e uma posição de destaque no mercado doméstico brasileiro, o que pode contribuir para sua recuperação no médio prazo.
O rebaixamento da Moody’s, embora preocupante, também serve como um alerta para que a Azul acelere suas estratégias de renegociação e busca por novos financiamentos. Se a companhia conseguir estabilizar sua posição de caixa e melhorar seus indicadores de crédito, há uma chance de que ela recupere parte da confiança do mercado e retome o caminho do crescimento.
A volatilidade do setor aéreo, aliada aos desafios macroeconômicos, continuará sendo um obstáculo para a Azul. Contudo, com medidas eficazes de gestão financeira e o apoio de credores e investidores, a empresa poderá superar essa fase e retomar sua trajetória de sucesso no futuro.