O motim dos membros do grupo mercenário Wagner contra o exército russo demonstrou uma fragilidade política do presidente da Rússia, Vladimir Putin, na avaliação de especialistas consultados pelo Valor. Apesar disso, a leitura que prevalece é que a tendência é que os ânimos se arrefeçam nos próximos dias e que o embate dos últimos dias não tenha impactos econômicos consistentes.
Antes aliado de Putin nas invasões à Ucrânia, o grupo iniciou uma rebelião na sexta-feira contra o exército russo. O objetivo dos embates é destituir o comando militar do país.
Ontem, Yevgeny Prigozhin, fundador e líder do grupo Wagner, concordou em deixar a Rússia e ir para a Belarus como parte de um acordo para acabar com seu levante armado. Além disso, todas as acusações contra ele foram retiradas, segundo informou o Kremlin.
Dmitry Peskov, porta-voz do presidente russo, disse que os combatentes da milícia de Prigozhi não seriam acusados “por causa de seus atos no front”. Ele acrescentou que alguns combatentes de Wagner que “caíram em si” e não participaram do levante assinariam contratos com o Ministério da Defesa russo.
Na avaliação de Vicente Ferraro, doutor em Ciência Política pela USP e especialista em política da Rússia e conflitos em ex-repúblicas soviéticas, a rebelião é um reflexo de uma fragilidade política de Putin.
“Vimos uma fraqueza política do regime de Putin. A tendência, porém é arrefecer”, apontou Ferraro. “Apesar disso, a situação de Putin é delicada e frágil. A dúvida é como ele vai reagir, se vai respeitar o acordo. Isso poderia ser visto com=o uma demonstração de fraqueza dele”, completou.
No mesmo sentido, Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, a reação do presidente russo pode ser classificada como surpreendente e sinalizadora de um limite de força. “Ele sentou e negociou. Acuado por uma situação que ele não previa, preferiu negociar do que enfrentar o conflito armado de força. Se enxerga agora os limites dele e isso não era visto por ninguém. Ficou claro que o poder na Rússia não é mais centralizado. Todos estão questionando o poder de Putin”.
O especialista destacou que não acredita em impactos econômicos em função da rebelião, nem mesmo de consequências que possam levar a um crise energética. “Acho que não assistiremos impactos econômicos nos próximos dias”.