Oportunidades e Desafios do Novo Governo Trump para o Brasil
A posse do presidente Donald Trump para seu segundo mandato nos Estados Unidos marcou o início de uma administração com foco em políticas internas e novas barreiras tarifárias. Apesar das incertezas sobre os impactos dessas medidas, especialistas acreditam que o Brasil pode escapar das primeiras rodadas de tributações e até se beneficiar em alguns aspectos.
Políticas Internas e Relações Comerciais
O primeiro discurso de Trump como presidente deixou claras suas prioridades, incluindo um enfoque na economia doméstica e ajustes nas políticas comerciais externas. Apesar de ainda não haver ordens executivas definindo tributações, estudos iniciais sobre as relações comerciais dos EUA com a China e outros vizinhos indicam um cenário desafiador para parceiros comerciais tradicionais.
Segundo Oliver Stuenkel, professor da FGV e pesquisador visitante em Harvard, o Brasil possui vantagens estratégicas que podem minimizar os impactos das políticas de Trump. O país não está no “radar direto” do presidente americano, o que pode afastá-lo de tarifas mais agressivas. Além disso, os laços econômicos com a Europa e a China colocam o Brasil em uma posição de relativa segurança.
Perspectivas Estratégicas para o Brasil
O Brasil precisa agir com clareza e planejamento estratégico, de acordo com Bruna Santos, diretora do Brazil Institute no Woodrow Wilson Center. Para ela, é essencial que o país defina prioridades estratégicas e mantenha um posicionamento coerente para aproveitar as oportunidades no cenário global.
A especialista destaca que o governo brasileiro deve equilibrar interesses domésticos e internacionais, especialmente em negociações com grandes potências, como os Estados Unidos. Essa abordagem ajudará a manter a relevância do Brasil como parceiro comercial confiável.
Caminhos para as Relações Bilaterais
Hussein Kalout, ex-secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, aponta que o Brasil tem três opções na relação com o novo governo Trump: pragmatismo, distanciamento ou antagonismo. O pragmatismo, que tem sido a escolha do governo Lula, parece o caminho mais promissor. Contudo, essa postura precisa ser recíproca para gerar resultados efetivos.
O presidente da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), Abrão Neto, reforça que o comércio bilateral é benéfico para ambos os países. Em 2024, as exportações brasileiras para os EUA alcançaram um recorde, com mais de US$ 31 bilhões em bens industriais vendidos. Neto acredita que há espaço para discussões construtivas entre os dois governos, especialmente por meio de mecanismos bilaterais consolidados.
Setores Sensíveis e Possíveis Impactos
Embora o Brasil esteja menos exposto às tarifas comerciais americanas devido ao superávit comercial dos EUA em relação ao país, setores como aço e motores podem enfrentar desafios. Feliciano Guimarães, professor da USP, afirma que Trump tende a concentrar suas ações em países com grandes déficits comerciais, como China, México e Canadá, reduzindo a pressão sobre o Brasil.
Ainda assim, o governo brasileiro precisa monitorar as políticas americanas para garantir que setores estratégicos não sejam afetados. A diversificação setorial nas exportações brasileiras – que incluem produtos como celulose, café, carne e aeronaves – é uma vantagem que deve ser preservada.
Diálogo como Estratégia
Diante das incertezas, especialistas recomendam o fortalecimento do diálogo entre Brasil e EUA. A construção de uma relação de confiança mútua pode ajudar a mitigar possíveis impactos negativos das políticas de Trump. Os mecanismos bilaterais existentes fornecem uma base sólida para negociações em busca de soluções equilibradas.
Apesar das incertezas que cercam o início do segundo mandato de Donald Trump, o Brasil tem condições de se adaptar ao novo cenário global e até de aproveitar oportunidades estratégicas. O momento exige planejamento, diplomacia e uma postura proativa nas relações bilaterais.