Obrigatoriedade da Bagagem de Mão Pode Elevar Custos e Reduzir Competitividade no Setor Aéreo
A proposta que torna obrigatória a inclusão da bagagem de mão nas passagens aéreas voltou ao centro do debate econômico e regulatório brasileiro. O Projeto de Lei 5041/2025, em tramitação em regime de urgência na Câmara dos Deputados, pretende obrigar as companhias aéreas a incluir o transporte de bagagens de mão no valor final do bilhete. Embora pareça uma medida pró-consumidor, especialistas do setor aéreo afirmam que o impacto pode ser o oposto: passagens mais caras e menor concorrência.
Mercado aéreo em alerta com a nova proposta
De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) e a Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (ALTA), a proposta representa um risco à sustentabilidade financeira das companhias e à liberdade comercial no setor. Ambas as entidades destacam que a obrigatoriedade da bagagem de mão nas passagens elimina a flexibilidade tarifária e cria incertezas regulatórias que podem desestimular investimentos e o crescimento do transporte aéreo no Brasil.
Atualmente, o modelo de tarifas segmentadas permite ao consumidor escolher serviços adicionais, como o despacho de bagagens ou a marcação de assentos, pagando apenas pelo que realmente deseja. Essa prática é adotada em mercados consolidados como Estados Unidos, Europa e América Latina, garantindo maior liberdade de escolha e preços mais competitivos.
A imposição de uma tarifa única, segundo analistas, pode acabar nivelando o custo por cima — prejudicando consumidores mais sensíveis a preço e reduzindo a capacidade de companhias de baixo custo (low cost) operarem de forma viável no país.
Impactos esperados: aumento de preços e retração da concorrência
Entre janeiro e setembro de 2025, o tráfego aéreo doméstico brasileiro cresceu 9,2%, enquanto o internacional avançou 17,7%. Esses números indicam recuperação sólida após os anos de crise no setor. No entanto, a obrigatoriedade da bagagem de mão pode interromper essa trajetória positiva.
De acordo com projeções do setor, medidas dessa natureza tendem a provocar aumento nas tarifas básicas, reduzindo o acesso a voos e limitando o potencial de expansão do mercado. Companhias internacionais que operam com margens estreitas podem rever planos de investimento ou até deixar de atuar no Brasil.
A IATA ressalta que as companhias aéreas já enfrentam altos custos com combustível, infraestrutura e impostos, o que torna inviável absorver novas obrigatoriedades sem repassar parte do custo ao passageiro. Além disso, mudanças regulatórias súbitas e sem diretrizes claras geram insegurança jurídica, afastando novos entrantes e reduzindo a competitividade.
Comparativo internacional: liberdade comercial garante inovação
Nos principais mercados globais, a liberdade tarifária é vista como uma ferramenta para democratizar o transporte aéreo. Nos Estados Unidos, por exemplo, as companhias oferecem modelos personalizáveis de tarifa, onde o passageiro decide pagar ou não por determinados serviços. Isso permite manter voos acessíveis e impulsionar a demanda.
Na Europa, a presença de companhias low cost transformou o mercado, tornando as viagens curtas parte do cotidiano de milhões de pessoas. Essa expansão só foi possível graças à flexibilidade regulatória, que estimula a concorrência e promove inovação nos serviços.
No Brasil, no entanto, o excesso de intervenções legislativas pode gerar o efeito contrário, criando barreiras que restringem o dinamismo do setor. Se o Projeto de Lei da bagagem de mão for aprovado sem ajustes, o país corre o risco de retroceder em competitividade e encarecer o transporte aéreo para o consumidor final.
Consumidor entre o direito e o custo
Defensores da proposta argumentam que a gratuidade da bagagem de mão é uma questão de direito do consumidor. No entanto, especialistas lembram que a medida não cria novos direitos, apenas transfere o custo total para todos os passageiros — inclusive aqueles que viajam apenas com uma mochila ou pequena mala.
Ou seja, todos pagarão mais caro, independentemente de utilizarem ou não o serviço adicional. Na prática, o modelo que oferece liberdade de escolha e tarifas personalizadas beneficia justamente quem busca economia e flexibilidade.
O debate, portanto, não deve se restringir à gratuidade, mas à sustentabilidade econômica do setor aéreo e ao equilíbrio entre proteção do consumidor e viabilidade empresarial.
Crescimento ameaçado e riscos de fuga de investimentos
O mercado aéreo brasileiro vive um momento de retomada após a pandemia e períodos de forte desvalorização cambial. Com o avanço do turismo doméstico e a retomada das rotas internacionais, o país tem se tornado atraente para investidores e companhias estrangeiras.
Porém, a imposição da obrigatoriedade da bagagem de mão pode mudar essa trajetória. Países vizinhos com regras previsíveis e estáveis atraem empresas de baixo custo, ampliando a conectividade regional e os preços competitivos. Se o Brasil seguir o caminho oposto, corre o risco de ficar isolado no mapa aéreo da América Latina.
Debate deve ser técnico e baseado em dados
Especialistas defendem que qualquer alteração no modelo tarifário deve ser feita com base em evidências econômicas, não em pressões políticas ou populistas. O debate legislativo sobre a bagagem de mão deve envolver todos os atores do setor — governo, companhias aéreas, consumidores e especialistas em aviação civil — buscando um equilíbrio entre acessibilidade e sustentabilidade.
A experiência internacional mostra que a regulação excessiva pode sufocar mercados inteiros. O desafio do Brasil é criar políticas públicas equilibradas, que assegurem o direito do consumidor sem comprometer o desenvolvimento de um dos setores mais estratégicos da economia nacional.
Equilíbrio é o caminho
O Projeto de Lei 5041/2025 reacende a discussão sobre o papel do Estado na definição de tarifas aéreas e a necessidade de manter o equilíbrio entre custo e direito. A obrigatoriedade da bagagem de mão, apesar de bem-intencionada, pode aumentar o preço das passagens, reduzir a concorrência e afetar a conectividade aérea do Brasil.
A busca por soluções sustentáveis passa por uma regulação inteligente e previsível, que fortaleça o setor aéreo, estimule a inovação e garanta que o consumidor continue tendo acesso a passagens mais baratas e melhores serviços.






