O Brasil está testemunhando avanços significativos em diversos setores ao longo de 2023, desde segurança alimentar até indicadores macroeconômicos. No entanto, um vácuo político-programático persiste na economia digital, um campo crucial onde empresas utilizam dados pessoais, publicidade programada e a atenção do usuário para criar mercados sustentados por tecnologias digitais.
Neste cenário de plataformas digitais, internet das coisas, blockchain, inteligência artificial e 5G, é vital repensar a transformação digital. A transformação digital, embora essencial, limita-se muitas vezes à adoção de tecnologias no setor produtivo, enquanto a economia digital abrange uma gama mais ampla de inovações.
Além da Transformação Digital
Embora a transformação digital seja uma condição necessária, não é suficiente para definir uma nova economia digital. O Brasil precisa avançar na construção de um ecossistema digital próprio, dadas as oportunidades evidentes. Em 2022, setores como publicidade digital, comércio eletrônico, serviços de TI e nuvem representaram cerca de 10% do PIB brasileiro, totalizando R$ 981,3 bilhões.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) captou essa necessidade em sua Missão sobre Transformação Digital, estabelecendo cinco objetivos específicos para impulsionar a economia digital no Brasil. Com o plano “Nova Indústria Brasil” com duração de 10 anos, espera-se que o Brasil ultrapasse a dependência de empresas estrangeiras nesse setor.
O Papel do Setor Privado, Governo e Academia
Enquanto a transformação digital das empresas analógicas é importante, é crucial impulsionar aquelas que já nasceram digitais. O setor privado precisa entender que mercados digitais não estão saturados e estão prontos para serem disputados. O governo, por sua vez, deve oferecer apoio regulatório, fiscal, infraestrutural e investimento em pesquisa e inovação.
O Brasil pode aprender com países como Rússia, China e Coreia do Sul, que criaram ecossistemas digitais próprios com grandes plataformas. A colaboração entre o setor privado, governo e academia é fundamental para esse desafio. O Estado pode induzir o desenvolvimento tecnológico, enquanto as instituições acadêmicas podem expandir horizontes e integrar alunos no processo de inovação.
Mudança Estrutural para uma Economia Verdadeiramente Digital
O governo, liderado pelo CNDI, deve coordenar uma estratégia integrada para a economia digital, considerando mais de 20 órgãos federais envolvidos nesta agenda. O plano “Nova Indústria Brasil” é um passo nessa direção, buscando fortalecer a capacidade nacional de inovação e produção industrial.
Em última análise, é necessário uma mudança estrutural para transformar o Brasil em uma economia verdadeiramente digital. Isso envolve a criação de um ecossistema digital nacional, a superação de barreiras para o setor privado, o apoio do governo e a colaboração intensa com a academia. Rumo a uma trajetória inexplorada, o Brasil busca não apenas adotar novas tecnologias, mas estabelecer uma economia digital distintiva e sustentável.