Proteção de crianças na internet: Câmara vai pautar projetos após denúncia de Felca
A proteção de crianças na internet volta ao centro do debate legislativo no Brasil. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou que vai colocar em votação, ainda esta semana, projetos que tratam do combate à exploração e à exposição indevida de menores nas plataformas digitais. A decisão foi tomada após a ampla repercussão de um vídeo do influenciador Felipe Bressanim, conhecido como Felca, que denunciou a chamada “adultização” infantil e revelou como conteúdos de cunho sexual envolvendo crianças circulam livremente nas redes.
O caso expôs lacunas na legislação e reacendeu a pressão de parlamentares, especialistas e organizações da sociedade civil para que o Congresso avance em medidas que coíbam a circulação e a monetização de conteúdos que violem os direitos infantojuvenis.
O estopim: a denúncia de Felca
Na última semana, Felca publicou um vídeo que mobilizou milhões de brasileiros ao mostrar, passo a passo, como é possível encontrar conteúdos de exploração infantil em redes sociais. O influenciador Felca chegou a criar um perfil do zero e, por meio de interações específicas, condicionou o algoritmo a recomendar vídeos com crianças em contextos sexualizados — alguns até com links para acessar materiais semelhantes.
Entre os casos citados, estava o de um criador de conteúdo que aparecia com menores em ambientes com bebidas alcoólicas e danças de conotação sexual. Após a denúncia de Felca, o perfil desse influenciador foi desativado. O episódio reforçou a urgência de medidas que fortaleçam a proteção de crianças na internet.
Projetos em pauta
Um dos textos que deve entrar na ordem do dia é o PL 2628/2022, já aprovado no Senado e de autoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE). A proposta determina que empresas de tecnologia que ofereçam serviços ou produtos utilizados por crianças e adolescentes passem a adotar padrões de cuidado e segurança específicos, com mecanismos para prevenir abusos.
O projeto também prevê que conteúdos que violem direitos de menores sejam removidos assim que a plataforma for notificada, mesmo sem determinação judicial. Além disso, estabelece a obrigatoriedade de canais de denúncia acessíveis e eficazes para que usuários possam relatar violações.
Adultização infantil: um problema crescente denunciado por Felca
O termo “adultização” se refere à exposição precoce de crianças a comportamentos, conteúdos e estéticas típicos da vida adulta, muitas vezes com conotação sexual. Especialistas alertam que esse fenômeno é amplificado pelas redes sociais, onde algoritmos priorizam conteúdos que geram maior engajamento, independentemente de seu impacto psicológico ou social.
A proteção de crianças na internet exige, segundo estudiosos, uma abordagem que vá além da remoção de conteúdos ilegais, incluindo a criação de ambientes digitais mais seguros, a educação digital de pais e responsáveis e a responsabilização de quem lucra com a exposição indevida de menores.
Responsabilidade das plataformas
O avanço da tecnologia e a popularização das redes sociais tornam cada vez mais urgente o debate sobre a responsabilidade das empresas que operam esses ambientes. Organizações de defesa dos direitos da criança defendem que as plataformas sejam legalmente obrigadas a investir em monitoramento proativo, inteligência artificial para detectar abusos e equipes especializadas para lidar com denúncias.
O projeto de lei que será pautado pela Câmara segue essa linha, impondo deveres claros às empresas e penalidades para quem descumprir as regras. Essa é uma das frentes mais discutidas no esforço para reforçar a proteção de crianças na internet.
Pressão social e política
A repercussão do vídeo de Felca gerou forte mobilização nas redes sociais, com milhares de usuários cobrando ação imediata do Legislativo. Parlamentares de diferentes partidos manifestaram apoio à iniciativa de Hugo Motta, destacando que a pauta não deve se restringir a disputas ideológicas, mas sim priorizar a integridade física e emocional de crianças e adolescentes.
O episódio também estimulou o diálogo entre o Congresso e entidades como o Ministério Público, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e ONGs que atuam na proteção infantil.
Proteção de crianças na internet e o ECA
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já proíbe expressamente a exposição e a exploração sexual de menores. No entanto, a aplicação dessas normas no ambiente digital enfrenta desafios, como a velocidade de disseminação de conteúdos e a dificuldade de rastrear autores e distribuidores.
A atualização da legislação, segundo defensores do PL 2628/2022, é essencial para alinhar o ECA à realidade das redes sociais e das novas tecnologias, fortalecendo os mecanismos de proteção de crianças na internet.
Educação digital como parte da solução
Especialistas ressaltam que leis mais duras precisam ser acompanhadas de programas de educação digital para crianças, pais e professores. O objetivo é ensinar desde cedo sobre os riscos do compartilhamento de imagens e informações pessoais, além de como identificar e denunciar situações de abuso.
O poder público, escolas e famílias têm papel fundamental na criação de uma cultura de segurança online, complementando as medidas legais que serão discutidas na Câmara.
Caminho legislativo
Após ser pautado, o PL 2628/2022 deve passar por votação no plenário da Câmara. Caso aprovado sem alterações, seguirá para sanção presidencial. Se houver mudanças no texto, a proposta retornará ao Senado para nova análise.
A expectativa é que a repercussão do caso Felca acelere a tramitação, dada a pressão social e a urgência reconhecida por diferentes bancadas.
Desafios na aplicação da lei
Mesmo com novas regras, especialistas alertam que a proteção de crianças na internet dependerá da capacidade de fiscalização e da cooperação entre órgãos nacionais e internacionais. Muitos conteúdos são hospedados em servidores fora do Brasil, o que exige acordos e parcerias para garantir a remoção efetiva.
Além disso, será necessário investir em capacitação de profissionais da segurança pública e do Judiciário para lidar com crimes digitais envolvendo menores.
Um marco para a segurança online infantil
A movimentação da Câmara em resposta ao vídeo de Felca pode representar um marco na regulamentação da internet no Brasil no que diz respeito à proteção infantojuvenil. Se aprovada, a nova lei trará obrigações mais claras para plataformas e ferramentas mais rápidas para combater abusos.
Essa mudança, aliada à conscientização social e ao fortalecimento de políticas públicas, pode contribuir para um ambiente digital mais seguro e saudável para crianças e adolescentes.
A proteção de crianças na internet deixou de ser um tema restrito a especialistas e passou a mobilizar milhões de brasileiros após a denúncia de Felca. A resposta rápida da Câmara dos Deputados, com a promessa de pautar projetos relevantes, é um passo importante, mas o desafio é garantir que as medidas legais sejam eficazes na prática.
O combate à exploração e à adultização infantil nas redes exige ação coordenada entre Legislativo, Executivo, Judiciário, sociedade civil e empresas de tecnologia. Somente assim será possível construir um espaço virtual onde a infância seja respeitada e preservada.






