Sócia da gestora Crescera (ex-Bozano) desde 2010, Priscila Rodrigues, a nova presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), alcançou o marco de ser a primeira mulher a ocupar o cargo na entidade criada nos anos 2000, em uma indústria ainda majoritariamente masculina. Com um mandato de três anos, a executiva substitui Piero Minardi, do private equity (que compra participação de empresas) americano Warburg Pincus. O executivo ocupou a cadeira por duas gestões seguidas e segue no conselho da entidade.
Formada em administração pela FGV e com mestrado pela universidade americana de Columbia, Rodrigues sempre atuou no mercado financeiro, com passagem no banco de investimento do Merrill Lynch e ING Barings. Hoje, além dos cargos executivos, a nova presidente da Abvcap também é conselheira em seis investidas da Crescera, como Oba Hortifruti e Hospital Care.
Na prioridade da pauta, segundo Rodrigues, está elevar o conhecimento sobre o mercado de private equity (que investe em companhias maduras) e de venture capital (aquele que faz investimentos em startups) para um novo patamar, se aproveitando de que no mercado brasileiro os investimentos alternativos começaram a ganhar mais popularidade, embora ainda exista um caminho a ser trilhado.
“Isso é algo com todos os ‘stakeholders’, mercado internacional e com os diversos gestores da indústria. Deve ser algo contínuo”, diz. Segundo a executiva, é preciso explorar a própria comunicação sobre a indústria, apontando a importância de investimentos feitos pelos fundos e a relevância disso para o crescimento econômico. “A Abvcap tem um papel muito importante, também junto aos órgãos reguladores”, afirma.
Apesar de o retrato estar mudando, o setor financeiro ainda é majoritariamente masculino, outro ponto ao qual a executiva quer dar a devida atenção. “Quando comecei, sempre procurei por referências femininas na indústria e não havia muitas, algumas na Europa e Estados Unidos”, relembra. O vácuo da presença da mulher, segundo ela, se dava especialmente no topo das instituições financeiras, um retrato que vem se alterando.
Hoje a executiva participa de um grupo de mulheres do mercado financeiro que já reúne 200 nomes, além de outro formado por executivas da indústria de private equity. Rodrigues é também uma das principais sócias da Crescera e está no topo da casa na hora de tomada de decisão. Nos conselhos em que participou, muitas vezes foi a primeira mulher a chegar ao colegiado. “E ter uma mulher ajuda a se atrair mais mulheres”, comenta.
Ainda como missão, segundo ela, está fomentar o crescimento da indústria. A redução do número de gestoras de private equity no Brasil e um menor desembolso por parte desses fundos no início do ano, afirma a executiva, reflete o ciclo da indústria. “Em um histórico maior há um grande crescimento.” O momento ainda é propício para expansão. “O humor está mais positivo, o que impulsiona o consumo, e automaticamente a economia volta a rodar. Do ponto de vista de classe de ativo, o gestor está olhando muita oportunidade de investimento, mas ainda há alguns desafios em relação aos ‘valuations’ [valor das companhias]”, afirma.
A executiva também aponta como um sinal positivo a reforma fiscal, com o olhar para a simplificação tributária, tendo em vista que essa é uma das dificuldades da indústria na tomada de decisão. “A sinalização está no lugar correto”, diz. As regras precisam ser claras e haver estabilidade, palavra de ordem para a alocação de capital de longo prazo.
Também segue como bandeira prioritária da entidade a discussão sobre as regras de tributação de ganhos de investidores estrangeiros em fundos de participações. Apesar de a legislação trazer essa previsão legal, o embate ocorre por conta do fato de a Receita ter passado a cobrar de gestoras com forte atuação no país ganhos de capital de operações passadas, muitas dessas discussões hoje na Justiça. “Não se pode mudar o passado. Para se conseguir investimento de longo prazo é preciso estabilidade de regras”, afirma a nova presidente da Abvcap, lembrando que hoje os investidores estrangeiros seguem como importante torneira de capital aos fundos.
Na eleição na Abvcap, os representantes dos fundos podem se candidatar e todos os associados são habilitados a votar. Os mais bem posicionados são escolhidos para o conselho da entidade, que escolhe, por sua vez, o presidente — no caso deste ano, a presidente.
Priscila Rodrigues, a nova presidente da Abvcap: na prioridade da pauta, elevar o conhecimento sobre o mercado de private equity e venture capital a novo patamar — Foto: Gabriel Reis/Valor