Eduardo Bolsonaro afirma que missão diplomática aos EUA é “fadada ao fracasso” e reforça defesa da anistia
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) voltou a agitar o cenário político ao afirmar que a missão de senadores enviada aos Estados Unidos para tentar reverter o aumento tarifário imposto por Donald Trump é, segundo suas palavras, “fadada ao fracasso”. Em sua declaração, Eduardo reforçou a tese de que qualquer tentativa de negociação será inócua enquanto não houver um gesto político do Brasil no sentido de anistiar os envolvidos nos atos de 8 de janeiro, incluindo seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A afirmação foi feita através de sua conta na rede social X, plataforma na qual o deputado tem intensificado críticas ao governo brasileiro, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a setores do Congresso Nacional. Para ele, a nova tarifa de 50% imposta sobre produtos brasileiros é uma consequência direta da atuação do STF, especialmente do ministro Alexandre de Moraes, que conduz as investigações sobre a tentativa de golpe.
Com esse posicionamento, Eduardo Bolsonaro alinha sua narrativa ao discurso bolsonarista que denuncia uma suposta perseguição política ao ex-presidente, e também amplia sua defesa por uma anistia ampla aos envolvidos nas manifestações e atos antidemocráticos que marcaram o início de 2023.
Eduardo Bolsonaro diz que tarifa de Trump é resposta ao STF
Para Eduardo Bolsonaro, o tarifaço imposto por Donald Trump em junho representa uma retaliação ao que o ex-presidente americano teria identificado como violações à liberdade de expressão no Brasil. O parlamentar afirma que Trump teria deixado claro que medidas como censura e processos contra Bolsonaro deveriam cessar para que os EUA considerem qualquer gesto diplomático com o governo brasileiro.
Segundo essa visão, enquanto o Supremo Tribunal Federal mantiver investigações e punições contra Bolsonaro e seus aliados, não haverá espaço para negociações econômicas com os EUA. A crítica do deputado se estende aos parlamentares brasileiros que, segundo ele, ignoram esse contexto e tentam dialogar com o governo americano como se o problema fosse apenas técnico ou comercial.
Na prática, o deputado propõe uma troca: o Brasil concede anistia política aos envolvidos no 8 de janeiro, e em contrapartida, os EUA suspendem as tarifas impostas aos produtos nacionais. A proposta é vista como controversa, pois mistura interesses comerciais com demandas políticas e jurídicas internas.
Comitiva brasileira é alvo de duras críticas
A comitiva de oito senadores brasileiros que viajará a Washington entre os dias 29 e 31 de julho foi alvo de críticas diretas por parte de Eduardo Bolsonaro. Para o deputado, a missão diplomática é apenas uma manobra para evitar o enfrentamento das “questões reais” que afetam as relações entre os dois países.
Eduardo aponta ainda que a presença de senadores ligados ao partido do presidente Lula representa um “constrangimento internacional”, dado o histórico de tensões ideológicas entre o atual governo brasileiro e a administração Trump. Essa composição da comitiva, segundo ele, compromete a legitimidade da missão e reforça a desconfiança dos setores conservadores dos EUA quanto às intenções do Brasil.
Ainda de acordo com o parlamentar, os senadores estariam ignorando as diretrizes de Trump, que, segundo ele, teria enviado uma “mensagem clara” sobre os passos que o Brasil deveria seguir para normalizar suas relações com Washington.
Deputado reforça defesa de anistia ampla aos envolvidos no 8 de janeiro
A proposta de Eduardo Bolsonaro é clara: a única forma de retomar as relações diplomáticas com os Estados Unidos e restabelecer o comércio bilateral nos moldes anteriores seria por meio de uma anistia geral. Ele defende que o Congresso Nacional promova um ato legislativo que absolva todos os envolvidos nas ações do 8 de janeiro, incluindo o próprio Jair Bolsonaro, que atualmente está impedido de disputar eleições e sob investigação do STF.
Para Eduardo, enquanto o país mantiver o que ele chama de “perseguições políticas” e ordens de censura, não será possível avançar em nenhuma agenda diplomática relevante. A fala do deputado integra a estratégia do bolsonarismo de tentar transformar os envolvidos nos atos antidemocráticos em “perseguidos políticos”, reforçando uma narrativa de vitimização diante das instituições do Estado.
Eduardo Bolsonaro permanece nos EUA mesmo após fim da licença parlamentar
Outro ponto que tem causado controvérsia é a decisão de Eduardo Bolsonaro de permanecer nos Estados Unidos mesmo após o encerramento de sua licença de 120 dias na Câmara dos Deputados. O mandato do deputado segue ativo, mas ele já declarou que não pretende retornar ao Brasil “até que perca o mandato”.
Durante sua estadia nos EUA, Eduardo tem mantido intensa agenda com líderes conservadores e representantes do Partido Republicano. Em março, o parlamentar chegou a pedir a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes. Essa legislação permite que os Estados Unidos punam autoridades de outros países acusadas de violações de direitos humanos, o que demonstra o grau de tensão política existente entre o bolsonarismo e o Judiciário brasileiro.
A permanência prolongada do deputado nos Estados Unidos levanta questionamentos sobre seu comprometimento com o mandato e também sobre uma eventual tentativa de buscar asilo político. Ainda que não haja nenhum pedido oficial nesse sentido, aliados de Eduardo cogitam essa possibilidade, caso o cerco judicial contra ele se intensifique.
Crise diplomática ou manobra política?
A atuação de Eduardo Bolsonaro escancara um novo capítulo da polarização política que marca o Brasil desde 2018. Ao tratar uma questão comercial — a tarifa imposta por Trump — como consequência de processos internos do Judiciário, o deputado mistura esferas distintas do poder e, na prática, questiona a legitimidade de decisões judiciais.
Para setores mais moderados da direita e do próprio centrão, a postura do parlamentar pode atrapalhar as tentativas de reaproximação com os EUA, sobretudo em um momento em que a política internacional exige pragmatismo. No entanto, para a base bolsonarista, a atitude de Eduardo representa coragem e coerência com os princípios defendidos por seu grupo político.
Independentemente da leitura política, a questão é que a missão diplomática aos EUA será observada com atenção — não apenas pelos resultados que poderá (ou não) trazer ao Brasil, mas também pela forma como será utilizada na disputa de narrativas internas.