A taxa de desemprego tende a aumentar no final deste ano, em consequência da esperada desaceleração da atividade econômica, disseram economistas consultados pelo Valor. Até o trimestre móvel encerrado em maio, houve recuo da taxa para 8,3%, informou hoje a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo IBGE. O dado coincide com a mediana coletada pelo Valor Data junto a 23 instituições e não foi surpresa para os analistas.
“Mas [o aumento esperado da taxa de desocupação] não deverá alcançar os dois dígitos [no final do ano]”, reitera o economista Lucas Assis, da Tendências Consultoria. A consultoria projeta um “crescimento moderado” da população ocupada nos próximos meses, e média de 8% para 2023 — menor que a média do ano passado (9,2%).
Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), espera alguma “flutuação” nas próximas divulgações, mas que por fim espera um nível de geração de emprego mais baixo a partir de agora. “Não teria como manter o ritmo visto em 2022”, disse.
O ano passado foi marcado por forte recuperação do mercado de trabalho após os efeitos da pandemia de covid-19 sobre a economia, inclusive com o aumento de contratações formais.
Assis, da Tendências, acrescenta que vê o recente recuo da taxa de desemprego como um movimento “de certa forma artificial”. É que há menos pessoas procurando ocupação, avaliam economistas, movimento que está associado a três fatores. Um deles é a própria melhoria do mercado de trabalho.
Se as famílias têm mais membros em empregos formais (postos que costumam ser melhor remunerados), por exemplo, há menor necessidade de todos estarem ocupados. “Alguns membros da família podem se dedicar a outros afazeres, como estudos ou atividades domésticas”, explica o economista da Tendências.
Além disso, houve melhoria de transferências de renda por meio de programas governamentais e também a emissão de aposentadorias por idade e tempo de contribuição especialmente em 2022 (em meio à corrida eleitoral), os outros dois fatores que também geram potencial desincentivo à busca por emprego.
Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, lembra, ademais, que a taxa de desemprego costuma recuar ao final dos trimestres encerrados em maio, quando há impacto sazonal porque fevereiro sai da amostra. Nos primeiros meses de cada ano costumam ocorrer demissões de empregados contratados temporariamente no período de festas, o que impacta os dados.
“O ponto positivo é que estamos observando o retorno da sazonalidade, uma dinâmica que existia no mercado de trabalho antes da pandemia. É mais um indício de que o mercado de trabalho está cada vez mais se livrando dos resquícios da crise sanitária”, reforça Imaizumi.
O economista da LCA acrescenta que as informações sobre o Censo populacional, divulgadas nesta semana pelo IBGE, também poderão trazer “alterações não desprezíveis” ao retrato do mercado de trabalho. O Censo informou população brasileira de 203 milhões de pessoas, cerca de 10 milhões de habitantes a menos que dados prévios. A Pnad deverá ser “calibrada” depois que saírem outros dados do Censo, como os de faixa etária, cita.
A Pnad também evidencia que o patamar de renda média ficou estável, apesar das duas recentes altas do salário mínimo. Contudo, são níveis similares ao de antes da pandemia, “o que é bom de certa forma”, destaca a LCA. “A renda teve melhora forte nos últimos doze meses depois de uma queda acentuada [durante a pandemia]. Uma hora isso acomoda. Dificilmente será visto novo avanço”, completou Duque, do Ibre (FGV).