Chefes do Comando Vermelho são transferidos para penitenciária federal no Paraná
Sete chefes do Comando Vermelho (CV) foram transferidos do Complexo de Gericinó, no Rio de Janeiro, para a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, uma das unidades de segurança máxima do país. A medida foi tomada após a megaoperação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão, que deixou 121 mortos, entre eles quatro policiais.
A transferência, solicitada pelo governo do Rio de Janeiro e autorizada pela Justiça, tem como objetivo isolar a liderança da facção criminosa e impedir a comunicação entre os detentos e os comparsas que continuam atuando nas comunidades fluminenses. Os sete presos são apontados como responsáveis por ordenar ataques e erguer barricadas em resposta à operação do fim de outubro.
Quem são os chefes do Comando Vermelho transferidos
Os criminosos foram levados sob forte esquema de segurança da Penitenciária de Bangu 1 até o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, escoltados por agentes da Polícia Federal e da Força Nacional.
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Arnaldo da Silva Dias, o Naldinho;
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Carlos Vinicius Lírio da Silva, o Cabeça do Sabão;
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Eliezer Miranda Joaquim, o Criam;
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Fabrício de Melo Jesus, o Bicinho;
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Marco Antônio Pereira Firmino da Silva, o My Thor;
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Alexander de Jesus Carlos, o Choque;
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Roberto de Souza Brito, o Irmão Metralha.
A escolha da Penitenciária de Catanduvas não é por acaso. Foi a primeira unidade do Sistema Penitenciário Federal (SPF), inaugurada em 2006, e tem como um de seus detentos mais notórios Fernandinho Beira-Mar, considerado fundador e principal líder histórico do Comando Vermelho.
Fontes da segurança pública afirmam que os recém-chegados não terão contato direto com Beira-Mar nem entre si, pois o regime do presídio prevê isolamento rigoroso, celas individuais e monitoramento constante.
O motivo da transferência
A decisão de enviar os chefes do Comando Vermelho ao sistema federal ocorreu após uma série de ataques coordenados contra forças policiais e atos de retaliação às operações realizadas na Zona Norte do Rio.
O governo fluminense e o Ministério da Justiça apontaram que a presença dessas lideranças no Rio facilitava a organização de ataques, a disseminação de ordens por aplicativos e o recrutamento de novos integrantes.
Com a transferência, o Estado espera reduzir a capacidade de comando à distância e enfraquecer as redes de comunicação da facção, que continua sendo a mais poderosa do Rio de Janeiro e uma das maiores do país.
O histórico do Comando Vermelho
Fundado na década de 1970, dentro do presídio da Ilha Grande, o Comando Vermelho nasceu da aliança entre criminosos comuns e presos políticos durante a ditadura militar. Com o passar dos anos, a facção expandiu-se para além das prisões e consolidou-se como uma organização de tráfico de drogas, armas e lavagem de dinheiro, com forte presença em favelas cariocas.
Atualmente, o CV mantém influência nacional e internacional, com conexões no Paraguai, Bolívia e Colômbia, e disputa território com outras facções, como o Terceiro Comando Puro (TCP) e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
A megaoperação na Penha e no Alemão foi considerada uma das maiores ações de repressão à facção já realizadas, reunindo centenas de agentes da Polícia Militar, Civil, Federal e do Bope.
My Thor: o veterano da facção
Entre os presos transferidos, Marco Antônio Pereira Firmino da Silva, conhecido como My Thor, é um dos integrantes mais antigos do Comando Vermelho.
Apontado como um dos chefes do tráfico no Morro Santo Amaro, na Zona Sul do Rio, My Thor acumula mais de 23 anos de prisão. Seu histórico inclui fugas, recapturas e longos períodos no sistema penitenciário federal.
Condenado a 22 anos e seis meses de reclusão, ele passou 14 anos em presídios de segurança máxima, sendo devolvido ao Rio em 2021. A nova transferência para Catanduvas marca mais uma etapa em sua trajetória de idas e vindas entre o sistema estadual e federal.
Naldinho: o porta-voz do Comando Vermelho
Outro nome de destaque é Arnaldo da Silva Dias, o Naldinho. Condenado a mais de 50 anos de prisão por tráfico de drogas e homicídio, é considerado porta-voz do Comando Vermelho.
Ele atua como intermediário entre a cúpula da facção e os comandos locais, sendo responsável por transmitir ordens estratégicas e coordenar ações simultâneas em diferentes regiões do estado.
Naldinho é apontado pela inteligência policial como autor intelectual de uma trégua criminosa decretada durante a realização do G20 no Brasil, em fevereiro de 2024, quando ordenou a suspensão de assaltos e confrontos para evitar a intensificação da repressão.
Nos últimos meses, o Ministério Público e as forças policiais fizeram quatro pedidos à Vara de Execuções Penais (VEP) solicitando sua remoção do Rio, mas todos haviam sido negados até agora. A nova decisão atende à pressão de autoridades estaduais e federais pela contenção da atuação do CV.
A megaoperação e suas consequências
A megaoperação policial do dia 28 de outubro marcou um dos episódios mais violentos da história recente do Rio de Janeiro. A ação, que mobilizou mais de 1.000 agentes, resultou em 121 mortes, incluindo quatro policiais.
Segundo as investigações, o estopim foi uma série de ataques coordenados contra viaturas e unidades policiais. As autoridades identificaram que as ordens partiram de dentro dos presídios estaduais, o que reforçou a necessidade de transferir os líderes da facção para penitenciárias federais, onde a vigilância é mais rigorosa.
O governo fluminense afirmou que a medida busca restaurar o controle do Estado sobre o sistema penitenciário e enfraquecer o comando das facções que continuam ditando regras em comunidades dominadas pelo tráfico.
A importância estratégica da Penitenciária de Catanduvas
A Penitenciária Federal de Catanduvas, localizada no interior do Paraná, é a primeira unidade de segurança máxima do Brasil e serve como referência para o sistema federal.
Com celas individuais, monitoramento eletrônico 24 horas e protocolos de isolamento extremo, o presídio foi projetado para neutralizar a comunicação entre líderes criminosos e seus subordinados.
Cada preso permanece em regime disciplinar diferenciado (RDD), com apenas duas horas de banho de sol por dia e vigilância constante.
Atualmente, além de Fernandinho Beira-Mar, cumprem pena em Catanduvas traficantes, milicianos e membros de facções de diversos estados, considerados de alta periculosidade.
O enfraquecimento do Comando Vermelho
Embora o governo fluminense tenha comemorado a transferência como uma vitória contra o crime organizado, especialistas alertam que a medida representa apenas um passo tático.
Mesmo com dezenas de líderes presos em presídios federais, o Comando Vermelho continua operando por meio de redes descentralizadas, o que dificulta sua desarticulação completa.
Atualmente, o Estado do Rio tem 58 presos no sistema federal, mas o domínio territorial da facção nas comunidades ainda é expressivo. Para as autoridades, a solução definitiva passa pela integração entre inteligência policial, políticas sociais e controle de fronteiras.
Reação política e institucional
A transferência dos líderes do Comando Vermelho foi acompanhada de perto por Cláudio Castro (PL-RJ), governador do Rio, que tem defendido uma postura mais dura contra o crime organizado.
Nos bastidores, o movimento também tem impacto político, já que reforça a imagem de Castro como um gestor alinhado ao discurso de segurança pública, ao mesmo tempo em que pressiona o governo federal por mais investimentos no setor.
A medida foi elogiada por parlamentares da bancada da segurança, que consideram o envio das lideranças ao sistema federal uma resposta firme à escalada da violência no estado.
O desafio do Estado contra o crime organizado
Apesar da operação e das transferências, o desafio das autoridades continua sendo romper a cadeia de comando do Comando Vermelho e evitar a ascensão de novas lideranças.
A facção se destaca por sua estrutura piramidal e capacidade de regeneração, o que torna o enfrentamento mais complexo. Especialistas defendem que o Estado precisa combinar repressão e políticas de inclusão social para reduzir o recrutamento de jovens pelas organizações criminosas.
Além disso, a modernização do sistema prisional é vista como essencial para impedir que as penitenciárias continuem funcionando como escritórios do crime.
A transferência dos chefes do Comando Vermelho para a Penitenciária Federal de Catanduvas marca um novo capítulo na luta do Estado brasileiro contra o crime organizado.
A medida reforça o compromisso das autoridades em enfraquecer as facções criminosas, proteger a sociedade e restaurar a autoridade do poder público nas áreas dominadas pelo tráfico.
Com o endurecimento da política de segurança e o reforço do sistema federal, o governo busca romper o elo entre o cárcere e as ruas, minando a estrutura de comando do Comando Vermelho, a mais influente facção do país.






