A suspensão do julgamento em 3 a 1 postergou para sexta feira o resultado final, mas deixou claro que a tentativa de vitimização do ex-presidente pela normalização de sua conduta não será um desfecho facilmente alcançado por Jair Bolsonaro. E o ministro que, até aqui, foi mais bem sucedido neste intento foi o novato da Corte, Floriano Azevedo Marques Neto.
“Alguém pode acreditar que a terra é plana e integrar a confraria da borda infinita. Porém, se este crédulo for professor da rede pública e professar seu credo em sala de aula está caracterizado o desvio da finalidade do docente”, disse o ministro ao contestar o argumento do ministro que o precedera, Raul Araújo Neto, de que Bolsonaro fez uso de sua liberdade de opinião no discurso aos embaixadores.
Professor da Universidade de São Paulo e advogado com experiência de sustentação em tribunais superiores, o ministro, ao longo de seu voto, se valeu de figuras de linguagem facilmente compreensíveis pelo cidadão que tenha tido a oportunidade de assistir ao julgamento ou que venha a fazê-lo recuperando a sessão nas redes sociais.
Valeu-se, em outro momento, da comparação entre a atuação da justiça eleitoral com a do bombeiro para desmontar o argumento de Araújo de que a suspensão da propagação do discurso nas redes sociais e a derrota eleitoral de Bolsonaro amenizaram a gravidade do comportamento de Bolsonaro evento com embaixadores.
“Se alguém põe fogo no edifício e os bombeiros chegam a tempo de apagá-lo, não se elide a intenção de quem pôs fogo no prédio. Seria premiar a conduta ilícita pela eficiência de quem a coíbe”, disse.
Aos 55 anos, Azevedo Marques foi um dos dois ministros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao TSE em maio juntamente com André Ramos. Ao contrário deste, porém, que já atuava como ministro-substituto no TSE, Azevedo Marques teve sua estreia no tribunal com o voto desta quinta-feira.
Floriano Azevedo Marques Neto no julgamento de Jair Bolsonaro no TSE — Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE